Revelações sobre Afeganistão deixam EUA na defensiva e em busca de culpados
A divulgação de milhares de documentos secretos revelando um panorama sombrio da situação no Afeganistão colocou nesta segunda-feira a Casa Branca na defensiva.
Os 91 mil documentos sigilosos divulgados criam incerteza em meio ao Congresso americano sobre uma guerra impopular, no momento em que o presidente Barack Obama se prepara para enviar mais 30 mil solados para combater a insurgência taleban.
Os documentos, divulgados pelo site WikiLeaks, trazem detalhes de alegações de que forças americanas tentaram encobrir mortes de civis, bem como a preocupação dos EUA de que o Paquistão estaria secretamente armando militantes talebans, mesmo tendo obtido bilhões de dólares de ajuda financeira americana.
A Casa Branca condenou a divulgação, dizendo que poderia ameaçar a segurança nacional e pôr em risco a vida dos americanos. O Pentágono classificou de "ato criminoso" e disse estar revendo os documentos para determinar o potencial estrago para as tropas americanos e de coalizão.
EXPLICAÇÕES
O conselheiro de Segurança Nacional do presidente, general James Jones, ressaltou no domingo que "os documentos divulgados pelo (site) Wikileaks cobrem um período que vai de janeiro de 2004 a dezembro de 2009", ou seja, antes do anúncio de Obama de sua nova estratégia para o Afeganistão.
Nesta segunda-feira, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, afirmou que esta divulgação "alarmante", que "infringe a lei (...) representa um perigo muito real" para os soldados no terreno, por causa dos detalhes revelados.
Gibbs fez questão de mencionar os progressos registrados nas relações com o Paquistão, cujo serviço secreto é acusado de envolvimento direto com os talebans.
Os americanos "melhoraram esta relação", mesmo que "ninguém vá dizer que a missão foi cumprida", acrescentou Gibbs.
O porta-voz, entretanto, assegurou que esses documentos não revelam nada que já não tenha sido escrito pela imprensa sobre a guerra.
"Nenhum governo gosta de ver seus segredos divulgados", explica o especialista em estratégia Anthony Cordesman, do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS) de Washington. Segundo ele, essas revelações são explosivas no sentido que contradizem o otimismo até então manifestado pelo governo.
Já para Julian Zelizer, professor de História da Universidade de Princeton, essas revelações colocam em evidência o fato de que Obama "apostou em uma guerra em que não há progresso". Ele ficará vulnerável aos ataques dos republicanos, que criticam a "apatia em termos de segurança nacional".
CAÇA ÀS BRUXAS
O Pentágono disse hoje que está lançando uma caça a quem vazou os documentos confidenciais sobre a guerra no Afeganistão. Segundo autoridades de defesa dos EUA, a pessoa por trás disso parece ter acesso e abertura "secreta" a documentos delicados sobre a guerra.
Outros incidentes similares podem acontecer, reconhecem as autoridades.
"Faremos o que for necessário para tentar determinar quem foi responsável pelo vazamento dessas informações", disse o secretário de imprensa do Pentágono, Geoff Morrell.
"Até que saibamos quem é responsável, devemos considerar a possibilidade de que mais informações podem ser divulgadas ainda. E isso certamente é uma preocupação."
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