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Domingo - 29 de Agosto de 2010 às 10:21
Por: Tania Rauber

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A Companhia de Saneamento da Capital (Sanecap) vai lacrar 743 poços tubulares (artesianos) localizados em repartições públicas, edifícios residenciais e empresariais de Cuiabá. A medida tem como base a Lei 11.445 de 5 de janeiro de 2007 e visa evitar o consumo de água contaminada em locais onde há abastecimento pela rede pública.

Em recentes análises realizadas em alguns destes poços, a companhia confirmou a contaminação da água. Em um edifício localizado na área central, próximo de um cemitério, havia chorume e foi preciso lacrá-lo. O nome do edifício não foi revelado pela unidade.

Segundo o diretor comercial da Sanecap, Dejair Soares, o trabalho de notificação para desativação destes poços será gradativo. "Primeiro vamos notificar os órgãos públicos que utilizam poços artesianos para que interrompam a coleta e passem a pegar água da rede tratada. Depois vamos para os edifícios e empresas da área central".

A grande preocupação, conforme ele, é com a qualidade da água, que estaria comprometida. Análises feitas no subsolo de Cuiabá constataram que as águas subterrâneas estão contaminadas, em diversos pontos, principalmente pelo esgoto que ainda não é tratado.

Em sua tese de doutorado, o especialista em Águas Subterrâneas Renato Blat Migliorini constatou vários pontos na cidade onde o lençol freático está poluído. "O principal fator é o esgoto, que não consegue ser filtrado até chegar ao lençol freático. Em algumas regiões da periferia da cidade também detectamos alguns resíduos nas águas subterrâneas nas proximidades de cemitérios".

O diretor da Sanecap também fala da preocupação, principalmente, neste período de seca. "Quando chove temos muitos alagamentos, isso porque a água não consegue infiltrar no solo. Agora imagine no período de seca. O lençol freático é abastecido, muitas vezes, pelo próprio esgoto e dejetos de fossas".

Soares lembra que, com a regulamentação da lei pelo decreto 7.217, em julho deste ano, a Sanecap passou a ter autorização para exigir que as edificações em locais onde há abastecimento de água tratada utilizem do recurso e não captem água de outros meios. Uma lei já está em tramitação na Câmara de Vereadores para regulamentar o trabalho.

"O artigo 6º do decreto diz que os prestadores de serviços de abastecimento de água devem informar e orientar a população sobre os procedimentos a serem adotados em caso de situações de emergência que ofereçam risco à saúde pública. É isso que estamos fazendo, não podemos deixar que chegue ao ponto de afetar a saúde da população".

Novos poços - O controle para abertura de novos poços tubulares também será feita por meio de uma parceria com a Secretaria do Estado de Meio Ambiente (Sema), que é responsável pelo licenciamento para perfuração de poços. Além de exigir uma profundidade mínima de 40 metros, a pasta ainda realiza testes para conferir se a água é de qualidade para consumo. "Agora, toda vez que receber pedido para abertura de novos poços, a Sema entrará em contato conosco (Sanecap) e nós vamos verificar se já existe abastecimento de água naquela área. Caso exista, não será aprovada a perfuração".

Até o momento, a Sanecap tem registrados 743 poços artesianos em Cuiabá. Porém, este número refere-se apenas aos que foram licenciados. O número real de poços é incalculável. Isso porque, muitos utilizam métodos artesanais para perfurá-los e as metragens são bem menores. Nestes casos, não há controle algum.

Contrários - Para alguns condomínios, a exigência para que passem a utilizar somente a água do sistema de abastecimento não garante qualidade. O administrador de um edifício no bairro Goiabeiras, que preferiu não se identificar, disse que eles utilizam água de poço, que passa por um tratamento rigoroso e tem mais qualidade que a água de rua. "Nós realizamos todos os procedimentos aqui e tenho certeza que nossa água é melhor que a da rua".

O síndico de um condomínio próximo ao cemitério da Piedade, Hugo Blanco, também declarou que é contra a medida. "Nós temos água de poço que é filtrada e tratada. Realizamos este procedimento há 15 anos e nunca tivemos problemas. Essa medida precisa ser debatida".

Já outros edifícios localizados na área central e bairros adjacentes confirmaram que preferem a água da rede de abastecimento por causa dos riscos de contaminação.

Deficiências - Outra preocupação é com as deficiências no abastecimento de água pela Sanecap. Moradores de muitos bairros convivem com este problema e passam longos períodos sem água na rede. Há situações que a água chega suja e com mau cheiro.

O diretor Dejair Soares disse que tem conhecimento da situação, mas que isso não deve afetar os estabelecimentos que terão seus poços lacrados. "Sabemos que temos esta deficiência, mas vamos realizar um trabalho gradativo e vamos começar com os órgãos públicos e grandes consumidores, como edifícios e empresas, somente depois vamos para os bairros. Já estamos investindo nesta área para sanar estes problemas".

Ele citou o bairro Pedra 90, como exemplo, aonde a rede de água tratada chegou há pouco tempo e muitos moradores ainda possuem sistema de coleta de água em poços. "Vamos ter que ir devagar com isso, pois sabemos que muitos moradores possuem seus poços artesanais e também estão passando pelos mesmos riscos, mas vamos realizar o trabalho por etapas".

Sema - De acordo com a assessoria de imprensa da Sema, o controle e fiscalização de cemitérios é de responsabilidade da prefeitura e, caso esteja ocorrendo contaminação dos recursos hídricos, o poder público municipal deve tomar as providências cabíveis.




Fonte: A Gazeta

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