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Cidades
Quinta - 02 de Junho de 2011 às 18:28
Por: Kleber Tomaz

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Mulher diz ser vitima de erro medico (Foto: Kleber Tomaz/G1)
Rosely Viviani, de 48 anos, segura foto dela tirada
há 21 anos: ela teve o antebraço direito amputado
após tomar injeção no pulso.  (Kleber Tomaz/G1)

Rosely Viviani, que teve o antebraço direito amputado após tomar uma injeção para fazer uma endoscopia na capital paulista em 2009, não perdeu o membro por causa de erro médico ou da equipe de enfermagem, mais sim devido a um câncer, concluiu nesta quarta-feira (1º) o Hospital Santa Marcelina, em Itaquera, na Zona Leste, onde a mulher ficou internada na época e atualmente faz quimioterapia.

Na segunda-feira (30), o G1 publicou matéria na qual a ex-vendedora afirmou que teve parte do braço retirada cirurgicamente porque uma enfermeira errou ao aplicar sedativo para a realização do exame gastrointestinal na artéria dela e não na sua veia. Isso, segundo ela, causou trombose (obstrução da circulação sanguínea) no seu antebraço, não restando outra alternativa aos médicos senão a amputação. Rosely foi atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Por meio de nota, a Comissão de Ética Médica do Santa Marcelina descartou essa hipótese de falha no atendimento e procedimento dado a Rosely e inocentou os médicos e a enfermeira. “Esclarecemos que não há indícios de erros na assistência prestada”, afirmou a Diretoria Médica e Administração do hospital, segundo a assessoria de imprensa.

Segundo a diretoria do hospital, a trombose que a paciente teve naquele ano de 2009 surgiu por causa da doença detectada no útero e ovários dela antes da realização da endoscopia. O exame, no qual é introduzida uma cânula pela boca, tinha o objetivo de detectar se havia mais tumores malignos no corpo de Rosely.

“Quem tem câncer tem uma probabilidade maior de desenvolver trombose”, informou o Santa Marcelina.

O hospital disse na nota que “a paciente foi internada no Hospital Santa Marcelina Itaquera com câncer avançado e desnutrição grave. Informamos que o quadro apresentado em membro superior direito foi decorrência da evolução da doença agravada por carcinomatose e risco aumentado de tromboembolismo.”

Questionado, o Santa Marcelina respondeu que carcinomatose é “câncer disseminado” pelo corpo do paciente. Tromboembolismo “pode ser entendido por trombose”, disse o hospital.

O hospital também informou que a endoscopia não constatou câncer em outros órgãos de Rosely, mas retirou útero e ovários doentes. “Infelizmente apresentou recidiva do câncer e encontra-se em acompanhamento oncológico em nossa instituição bem como continua em vigência de quimioterapia, também no Hospital Santa Marcelina”, disse a diretoria do hospital.

Antes desta conclusão, o hospital divulgou nota no dia 24 de maio em que disse que o caso referente à paciente Rosely Viviane estava "com a Comissão de Ética Médica”. "A comissão está apurando minuciosamente o ocorrido para verificar se ouve erro médico ou não.”

Documentos do Santa Marcelina de 2009 obtidos pelo G1 confirmavam que o braço de Rosely só passou a apresentar problemas após a injeção que tomou. “A paciente, após punção [aplicação da injeção], evoluiu com obstrução arterial aguda de MSD [membro superior direito]. Foi submetida à trombolectomia e heparinização plena, sem sucesso. Ontem foi submetida à amputação de antebraço direito”, afirmou uma ginecologista do hospital no parecer médico de 2009.

Outro relatório do Santa Marcelina daquele mesmo ano sugeriu duas causas possíveis para explicar essa “obstrução arterial” que originou a amputação do membro: a injeção ou um fato surpreendente. “Sugeriu a solicitação de parecer para cirurgia vascular aventando a hipótese de Fenômeno de Raynaud ou punção arterial inadvertida”, afirmou um médico.

Mulher diz ser vitima de erro medico (Foto: Reprodução)Documento do Hospital Santa Marcelina mostra que paciente pode ter sido vítima de erro. Trombose que ocasiou a amputação pode ter decorrido de uma aplicação de injeção na artéria: "punção arterial inadvertida" (Reprodução)

 

Especialista
Segundo o médico Marcos Arêas Marques, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), uma “punção arterial inadvertida” é quando se aplica algo na artéria em vez da veia.

De acordo com a especialista, o Fenômeno de Raynaud é um espasmo involuntário das artérias das mãos e pode ter origem no próprio organismo humano ou ser causado por um fator externo, como uma injeção aplicada de forma errada.

“No meu entender ocorreu uma série de equívocos, que caracteriza má prestação de serviço, onde através de uma ação ordinária indenizatória, a vítima deverá ser ressarcida por danos morais, danos estéticos, pensão alimentícia pela incapacidade parcial etc. Houve uma grande demora para que houvesse socorro, 26 horas”, disse Célia Destri, presidente da Associação das Vítimas de Erros Médicos (Averme).

Ação indenizatória
Rosely não foi localizada nesta quarta para comentar a decisão do hospital. Na segunda, ela disse: “Entrei com o meu braço e saí de lá sem ele”. A declaração foi dada em entrevista ao G1 em sua casa em Cerquilho, no interior de São Paulo. Ela é separada e mora com o filho André Luiz, de 11 anos.

Procurada, a Defensoria Pública do Estado de SP, que entrou na Justiça com uma ação indenizatória por danos morais e materiais em favor de Rosely cobrando do hospital e do governo paulista R$ 1,2 milhão do hospital e do governo de São Paulo, discordou do hospital e entende que ocorreram, sim, falhas no procedimento médico e demora no atendimento à paciente.

“Se ela já tinha o câncer como o hospital afirma e isso poderia causar algum problema em razão do exame realizado, eles deveriam ter tomado mais cuidados na internação dela, mas demoraram 26 horas para darem atendimento, quando ela se queixava de dores no braço depois de ter tomado uma injeção”, disse a defensora Renata Flores Tybiriçá.

A Justiça ainda analisa o pedido da indenização. De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça, “a ação, que deu entrada em 11 de fevereiro deste ano, está em andamento na 4ª Vara da Fazenda Pública da capital". "Não há decisão a respeito do caso.”

Cremesp e Coren
Apesar da conclusão do Hospital Santa Marcelina, o caso de Rosely ainda é apurado pelos conselhos regionais de Medicina (Cremesp) e Enfermagem (Coren) em São Paulo. Os órgãos querem saber se ocorreram erros médicos ou da enfermeira, desde a aplicação da injeção até a suposta demora no atendimento à paciente.

Caso haja comprovação de algum tipo de erro por parte do hospital, os médicos e enfermeiros envolvidos poderão ser punidos com suspensão administrativa pelo hospital ou até ter a licença para exercer a profissão cassada pelo Cremesp e Coren.

Sobre a ação de indenização que a paciente move contra o Santa Marcelina, o hospital informou que “o departamento jurídico está acompanhando o caso”.

O governo do Estado de São Paulo também foi procurado para falar sobre a ação desde o início desta semana, mas ainda não respondeu aos questionamentos do G1.

Mulher diz ser vitima de erro medico (Foto: Kleber Tomaz/G1)Rosely exibe fotos com o filho André Luiz (ao seu lado) tiradas quando ele era criança: "Quero uma prótese mecânica para poder abraçar meu filho e amarrar meus tênis novamente" (Kleber Tomaz/G1) 




Fonte: Do G1 SP

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