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Cidades
Terça - 14 de Junho de 2011 às 12:56

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Roupas são alugadas na porta de presídio em Cuiabá (Foto: Kelly Martins/G1 MT)Comércio informal funciona na porta do presídio para
alugar roupas às visitantes (Foto: Kelly Martins/G1 MT)

A proibição de determinados tipos e cores de roupas para mulheres e familiares de detentos da Penitenciária Central do Estado, em Cuiabá, nos dias de visita, tem fomentado o comércio local. Por apenas R$ 2 é possível alugar uma peça de roupa ao invés de voltar para casa sem visitar o parente que está preso. Essa é a alternativa encontrada pelas mulheres que estão sendo impedidas de entrar na penitenciária pelos policiais militares, responsáveis pela revista.

O sistema prisional não permite a entrada de mulheres no presídio com blusas regata, transparente, curta ou nas cores preta, azul e amarela, além de camisa de time de futebol e brincos grandes. A proibição está em um cartaz na parede do presídio.

O diretor da penitenciária, Jean Carlos Gonçalves, explicou ao G1 que a determinação visa a segurança dos visitantes. A proibição de determinadas cores, segundo ele, é porque são usadas por agentes penitenciários (preta) e grupos de reeducandos que prestam serviço na unidade (azul e amarelo). Quanto às outras restrições, Gonçalves alegou que não foram determinadas por ele e que muitas coisas ficam sob a avaliação dos militares, no momento de revista dos visitantes.

Comércio informal
Além da proibição das cores e das roupas, a falta de guarda-volumes na unidade prisional também chama a atenção de vendedores que usam o próprio carro para acomodar os objetos de familiares de detentos. O custo do guarda-volume varia entre R$ 1 e R$ 2.

A comerciante Maristela Ricardo Leite afirma que já possui clientes fiéis. Ela conta que trabalha com este tipo de comércio há cinco anos e é o único rendimento financeiro que possui. "É com esse dinheiro que compro comida, pago o aluguel e crio o meu filho", destaca.

Roupas são alugadas na porta de presídio em Cuiabá (Foto: Kelly Martins/G1 MT)Comerciante que aluga roupas diz que este é o único
rendimento dela (Foto: Kelly Martins/G1 MT)

As roupas para aluguel estão espalhadas em duas sacolas e uma mala. Segundo a vendedora, a maioria é peça usada e doada por vizinhos e amigos que a procuraram com intuito de colaborar no negócio.

“É muito triste ver mulheres indo embora para casa sem ver o marido que está preso por causa de uma blusa. Elas passam horas nas filas. Minha intenção é ajudá-las para não precisar ir para casa”, reforça, apesar de não ter nenhum familiar preso.

A barraca de Maristela fica na esquina da penitenciária, nas quartas-feiras e aos domingos, dias em que ocorrem as visitas. O carro dela também é conhecido pelos visitantes como guarda-volumes e fica superlotado de objetos. “Muitas mulheres vêm para a penitenciária com malas, sacolas de bebês e não têm onde deixar. Fora as que dormem desde a noite anterior na fila e trazem roupas. Todas já sabem que podem deixar aqui”, observa a comerciante. Ela também vende garrafas de água, refrigerante e salgados.

O mesmo faz Adilson dos Santos, de 49 anos, que já há algum tempo possui uma barraca para guarda-volumes a poucos metros do comércio de Maristela. Lá, os visitantes também deixam diversos objetos durante o dia de visita, que ficam pendurados na parede. O controle é feito apenas na observação. Em nenhuma das barracas é fornecido senhas ou anotações para identificação dos objetos.

“Já sabemos quem são as pessoas e elas também nos conhecem. Não há muitas chances de alguma coisa ser confundida aqui ou a entrega ser errada”, avalia Santos.

Critérios
De acordo com as visitantes, não está havendo critérios específicos para permitir a entrada de visitantes na penitenciária. "Muitas vezes eles [policiais] permitem uma cor [de roupa] e não outra. E na próxima visita a cor já não é permitida e até mesmo o tipo de blusa usada outras vezes é barrada na revista”, reclamou uma jovem de 22 anos, mulher de detento, que pediu para não ser identificada.

Uma vistoria foi realizada pela Defensoria Pública de Mato Grosso, no último dia 8, na Penitenciária Central do Estado. Os defensores apontam que o constrangimento com a troca de roupas poderia ser amenizado com guarda-volumes e locais próprios para a troca de vestes. Porém, avaliam que o comércio não é irregular, uma vez que as mulheres estariam pagando por um serviço de forma consciente.

O secretário de Justiça e Direitos Humanos, Paulo Lessa, declarou que só vai se posicionar sobre o assunto após recebimento das denúncias. O tenente coronel José Antônio Gomes Chaves, superintendente de Gestão Penitenciária do estado, informou que irá analisar as denúncias de falta de critérios na revista para que providências sejam tomadas.

Fila para visita na Penitenciária Central do Estado, em Cuiabá (Foto: Kelly Martins/G1 MT)Nos dias de visita, familiares fazem fila para entrar na Penitenciária Central do Estado, em Cuiabá (Foto: Kelly Martins/G1 MT)




Fonte: Do G1 MT

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