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Terça - 26 de Novembro de 2013 às 01:21

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Responsável por coordenar uma equipe de 250 pessoas, o executivo-chefe do Comitê Organizador Local (COL) da Copa de 2014, Ricardo Trade, se prepara para vivenciar, ainda neste ano, dois momentos cruciais para a organização do evento.

O primeiro deles, o sorteio dos grupos da competição, tem data e local marcados (seis de dezembro, na Costa do Sauípe). A concretização do segundo, porém, depende de um conjunto de fatores que escapa ao seu controle.

Em 31 de dezembro, encerra-se o prazo estipulado pela FIFA para a conclusão das obras das arenas. No final de janeiro, o COL pretende que todas as sedes já tenham feito o seu jogo inaugural, colocando em teste as cadeiras, o gramado, a iluminação e a cobertura.

"Sou um otimista", diz ele, quando questionado sobre os desafios para a execução de tal planejamento na Arena Pantanal, que ainda não concluiu sequer o plantio do gramado. "Não tenho nenhum problema relatado quanto ao cumprimento deste prazo."

Aos 55 anos, o ex-atleta da seleção brasileira de handebol diz que a competição será uma oportunidade para mostrar ao mundo que o brasileiro tem capacidade para "organizar muito bem, e não apenas celebrar".

"Existe um tendência em achar que tudo no Brasil é ruim ou errado. Mas a realidade é que somos muito bons e vamos mostrar isso ao mundo durante a Copa. E Cuiabá será um dos bons exemplos dessa realidade".

Diário - A pouco mais de um mês do limite estabelecido pela FIFA para a conclusão dos estádios, como vê o andamento das obras da Arena Pantanal. Acredita que ainda seja possível cumprir este prazo?

Ricardo Trade - Nossa impressão é que a obra do estádio está indo muito bem, a todo vapor. Eu não tenho nenhum problema relatado e a nossa área técnica tem verificado o cumprimento dos prazos. Claro que houve alguns atrasos relativos ao problema das cadeiras e algum problema naquele incêndio que ocorreu. Mas a obra continua dentro da perspectiva de entrega até o final de dezembro e, até o final de janeiro, de ser realizado o jogo inaugural entre os operários, que é quando queremos testar, principalmente, cadeiras, cobertura, iluminação e gramado. Estes são pontos fundamentais para nós e, segundo a garantia do secretário Maurício Guimarães e do governador [Silval Barbosa], nós vamos estar com isso pronto.

Diário - Na Arena de São Paulo, por exemplo, o gramado começou a ser plantado no final de junho. Na Arena Pantanal, o plantio ainda não começou. Isso não é um impeditivo ao cumprimento desta programação?

Trade - Se for considerado que o gramado estará sendo plantado em novembro, eu acho que está um projeto interessante. Estamos e temos alguns técnicos agrícolas da nossa área de competições. Agora, não podemos comparar todos os estádios dessa forma. Se você comparar, teve estádio que realmente começou antes e isso é muito bom para a qualidade do gramado. Esse conceito de um gramado antecipado é muito bom, como no caso de São Paulo e do Beira-Rio, que nos dão uma tranquilidade grande. No caso de Cuiabá, podemos dizer que o prazo não é inviável.

Diário - O episódio envolvendo o cancelamento da compra das cadeiras para a Arena Pantanal chegou a preocupar seriamente o COL?

Trade - Não, porque o secretário Maurício foi muito claro desde o início. Quando ocorreu o problema, ele já nos ligou e relatou o que estava acontecendo e que estava tomando todas as providências cabíveis para corrigir o problema. Claro que ainda houve um joga para cá, joga para lá, certa espera para resolver, mas a decisão me parece que foi a melhor possível e com isso a gente confia que a entrega poderá ser feita.

Diário - Mas o comitê não chegou a temer, por exemplo, que a questão se arrastasse em uma disputa jurídica entre as empresas?

Trade - Eu sou muito positivo. Eu jogo para cima e confio no que as pessoas estão me dizendo. Quando o Maurício me disse que resolveria o problema, nós nos tranquilizamos. Claro que sempre é uma preocupação qualquer fato que atrapalhe o andamento da obra. E alguns questionamentos jurídicos podem ser extremamente relevantes, até para a transparência do processo. Se houve uma paralisação em razão disso, ela pode ter sido justa e a gente tem de apoiar. O importante é que medidas foram tomadas rapidamente para reverter o processo, garantindo que a gente possa ter o jogo inaugural até o final de janeiro, que é o nosso intuito.

Diário - O custo das cadeiras, muito acima do que se pagou no estádio de Brasília, motivou novas críticas em relação aos gastos excessivos com a realização do evento.

Trade - Primeiro que não são gastos, são investimentos. Principalmente, se você considerar que se trata de uma obra que é legado para a sua cidade. De qualquer maneira, nós não somos responsáveis por obra e não podemos comparar custos de arenas em nenhum momento. Os tribunais de contas são bastante fortes e atuantes para verificar se está havendo algum tipo de sobrepreço. Da nossa parte, não temos como controlar este tipo de coisa. Agora, não existe cadeira padrão FIFA. Tem gente que diz que a cadeira tinha que ser contrafogo ou rebatível, por exigência da FIFA. Mentira. É a ABNT [Associação Brasileira de Normas Técnicas] que exige que as cadeiras sejam assim. Elas têm de atender à legislação brasileira.

Diário - Outra obra que suscita dúvidas é a do Aeroporto Marechal Rondon, que tinha conclusão prevista para dezembro próximo, mas ainda não chegou a 50% de conclusão. O COL tem mantido contato com o governo do Estado e a Infraero para discutir este tema?

Trade - O que tenho de resposta da Infraero é que o MOP, Módulo Operacional, já ficou pronto, o que é importante, e que as demais partes ficarão prontas em abril de 2014, o que nos atende plenamente. Espero que isso seja cumprido e que fique um legado muito grande para a cidade. Conceitualmente, o que podemos dizer que o aeroporto é importante muito mais para o Brasil e para as cidades do que para evento, porque o brasileiro está voando muito mais. Não é só para a Copa do Mundo.

Diário - Em relação à organização do evento, qual o cronograma até junho?

Trade - Com a definição das 32 equipes classificadas, temos agora duas datas importantes. A primeira, no dia seis de dezembro, quando teremos o sorteio dos grupos na Costa do Sauípe. A partir daí, as sedes vão saber quais são as equipes que irão jogar nas partidas da primeira fase. Isso é importante para o planejamento. Se eu souber, por exemplo, que o México vai jogar em Cuiabá, eu tenho que levar em conta que se trata de um país que normalmente traz muitos seguidores. Então, se vamos ter muitos mexicanos por aí, vamos ter de colocar mais gente que fale espanhol e que possa recepcionar bem essa torcida. Outra data importante é no final de janeiro, quando serão feitas as definições de centros de treinamento. Neste momento, todas as equipes vão definir aonde vão se basear para poder jogar.

Diário - Por que esta definição é relevante?

Trade - Isso é importante para nós porque vamos tirar o time desses locais para as cidades onde irão jogar. E é importante Cuiabá estar preparada porque o regulamento da FIFA agora prevê que agora, pela nossa distância continental, que a equipe não seja obrigada a ficar apenas 24 horas na cidade. Ela é obrigada a chegar com 48 horas de antecedência, o que é importante para a cidade que vai receber o jogo, porque a equipe fica menos em seu centro de treinamento e mais na cidade onde ela vai jogar. Isso significa que Cuiabá vai receber mais turistas por mais tempo.

Diário - E a programação de eventos-teste para a Arena?

Trade - A ideia é que, em janeiro, joga-se a partida inaugural com os operários. Depois, cada Estado ou município define quais jogos realizar nas suas respectivas arenas. Isso é prerrogativa deles até o final de abril, quando faremos o jogo-teste. Nesta ocasião, iremos testar a maioria das ações no modelo Copa do Mundo, do mesmo modo que fizemos para a Copa das Confederações, com absoluto sucesso. A partir de 20 de maio, aproximadamente, o estádio passa a ser de nossa administração e começaremos a fazer os preparativos finais. Ou seja, vamos montar o palco do primeiro jogo da copa em Cuiabá.

Diário - Que tipo de lições o Brasil aprendeu com a Copa da África do Sul em 2010?

Trade - Eu trabalhei 40 dias na África do Sul na sede de Pretória, que era um estádio de rúgbi adaptado para o futebol. Acho que o evento trouxe algumas lições boas de realização e também de como o país passou a ser visto após a Copa do Mundo. A imagem da África do Sul melhorou muito, mais pessoas estão querendo visitar, o turismo melhorou, a população avalia que o país se mostrou ao mundo. Eu sempre digo para as pessoas que questionam a escolha de Cuiabá ou sobre a necessidade de 12 sedes para a Copa do Mundo no Brasil: eu não estava aqui quando houve a decisão, mas com certeza nós precisamos mostrar que o Brasil não é só Rio e São Paulo. O Brasil é também o Pantanal, a Amazônia, é também o Nordeste com suas praias lindas. Eu tenho certeza que o turista que for a Cuiabá para a Copa, depois vai querer voltar para trazer as suas famílias.

Diário - E em relação à experiência com a Copa das Confederações?

Trade - Neste caso, podemos apontar o dedo para o nosso nariz e dizer que cometemos alguns erros que não queremos mais cometer. Em especial, em relação aos estádios onde a entrega foi tardia, muito em cima da hora. Isso nos atrapalhou, porque não pudemos treinar adequadamente os voluntários, finalizar muito bem as concessões de alimentação e tivemos problemas de distribuição de ingressos. Isto agora não vai ocorrer, já que vamos ter todos os estádios com bastante antecedência. Mas estamos trabalhando junto às sedes para que essas lições sejam aprendidas.

Diário - Que tipo de orientação tem sido dada?

Trade - O conceito é tratar todo mundo bem, não apenas o turista que vai à cidade, que é uma responsabilidade da cidade e do Estado, mas também dentro do estádio: a pessoa chegar, ser bem tratada, ter uma boa alimentação, ter um banheiro limpo, ter um estádio bacana, coberto, com a poltrona marcada, perto do campo. Esse é o conceito que estamos tentando implantar. Precisamos mostrar ao mundo que somos capazes de fazer algo que impressione. Que não somos capazes apenas de celebrar, mas também de organizar muito bem.

Diário - Na África do Sul, estádios construídos para a Copa se tornaram, como muitos previam, elefantes brancos. Como evitar que o mesmo ocorra no Brasil?

Trade - Nós temos que encarar tudo isso como uma oportunidade. Não se compara, em termos de qualidade de futebol, o Brasil com a África do Sul. Ignoremos esta comparação. A média dos jogos pelo campeonato brasileiro hoje é de 14,5 mil espectadores, enquanto a média nos seis novos estádios da Copa das Confederações é em torno de 24 mil por jogo, o que é superior ao campeonato italiano. E Brasília provou que, mesmo não tendo um futebol forte, achou uma opção trazendo equipes de fora, fazendo shows, usando o estádio multiuso, passou a ser tratado como um elefante dourado e não um elefante branco. A capacidade do estádio de Natal, por exemplo, vai ser reduzida para 30 mil espectadores ao final da Copa porque a operadora, a construtora OAS, pretende utilizar o estádio para multipropósitos e receber também shows.

Diário - Mas, no caso específico da Arena Pantanal, como analisa o possível pós-Copa?

Trade - No caso de Cuiabá, nós já discutimos com os governantes, fizemos um seminário sobre operação de estádios, trouxemos gente dos EUA e Europa para falar sobre multifuncionalidade. Tudo isso para que a gente possa mitigar, como foi feito em Brasília, este problema de a Arena não estar sendo usada. Quem sabe a nossa Arena Pantanal, que é linda no desenho, possa se tornar sim um modelo de operação posterior, utilizando shows, jogos de times de fora e fazendo com que o futebol regional possa crescer tendo um estádio dessa magnitude? Isto já vem acontecendo em Fortaleza com times como o Ceará e o Icasa. Com a estratégia certa, o estádio tem todas as condições de trazer retorno financeiro e tornar-se sustentável, não um elefante branco.

Diário – A que atribui os temores, fortes até pouco tempo, de que Cuiabá pudesse ser excluída da lista de sedes?

Trade - Em grande medida, isso é resultado daquilo que o Nelson Rodrigues chamou de Complexo de Vira-latas. Aquela tendência em achar que tudo no Brasil é ruim ou errado. Mas a realidade é que somos muito bons e vamos mostrar isso ao mundo durante a Copa. E Cuiabá será um dos bons exemplos dessa realidade.
 






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