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Opinião
Segunda - 22 de Novembro de 2010 às 14:29
Por: Pedro Cardoso da Costa

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No Brasil costuma-se separar as leis entre as que pegam das que não pegam. Assim também ocorre com as palavras, gírias e até siglas. No futebol, por causa do sucesso de Pelé, o jogador com a camisa número 10 costuma ser considerado o melhor do time. Romário, com a 11 e Ronaldo com a 9 tentaram mudar esses valores, mas, como as leis, não pegaram. Ainda no esporte, virou unanimidade a afirmação de que a vitória resulta só de garra, empenho e dedicação; ou se perde por falta de garra, empenho e dedicação. Todos falam isso.

Nas gírias, loira virou sinônimo de cerveja gostosa e gelada. Ser o número 1 seria ser o melhor na profissão, no entretenimento ou em qualquer coisa que se faça. Em décadas passadas, ser elegante e avançado seria esnobar fumaça de cigarro no ar. Uma jogada é jogada de Pelé; levar vantagem indevida significa ser esperto. Esses clichês vêm de comerciais, frases destacadas de filmes ou a repetição por uma personagem de novela.

Assim, criamos mitos, principalmente naquilo que a subjetividade prevalece. Pelé é o rei do futebol. Marcou muitos gols, mas não se questiona quantos foram marcados em times fracos do interior paulista. Não é o que tem mais gols e nunca foi artilheiro de uma Copa do Mundo; poucas vezes foi artilheiro de campeonatos nacionais e o seu fantástico Santos ganhou apenas duas Libertadores de América e dois Mundiais de Clube. Já o fraco Independiente venceu sete Libertadores e o pobre Real Madri cinco Champions League seguidas. Mas ninguém é louco de compará-lo a nada. 

No esporte, como na vida, quem vence recebe elogios e críticas no percurso. No esporte, sempre que alguém vence, um dos argumentos é sempre de que foi uma resposta a quem o criticou; aos que não acreditavam na gente, como se a crítica fosse sempre infundada ou injusta. O campeão em fomentar esse argumento é o narrador Galvão Bueno. Pois foi isso que ele repetiu quando Rubens Barrichello venceu sua primeira corrida, sendo o recordista em longevidade de corridas para vencer a primeira depois de mais de cento e vinte.

Pois é a atuação sem vitória desse piloto que se pretende utilizar como exemplo que personifica o desempenho do Brasil no esporte de modo geral. Pois não deve discutir os resultados individuais do piloto. Mas o país vai organizar a Olimpíadas e uma Copa do Mundo. E é preciso discutir o motivo por que o Brasil não vence nunca em alguns esportes, ou por que perde permanentemente para alguns times, como para a Rússia, no vôlei feminino.

Um dos motivos claros é a falta de investimento nos esportes de base. Trata-se de um problema de fato, mas não é suficiente. Há um aspecto subjetivo, de espírito, de astral, de confiança, que afeta de forma decisiva. Os brasileiros se desequilibram quando ganham um pouco mais, como se não pudessem ter supremacia duradoura, como os americanos em alguns esportes. Esse sentimento é forte nos clubes nordestinos. É a clara desculpa do perder para si mesmo.

Outro aspecto forte presente nos desportistas nacionais é a falta de ética para vencer. A subserviência também é forte. O piloto Felippe Massa é o mais recente exemplo do que vem ser o adjetivo “barrichellizar”. Começou arrebentando e não venceu nada. E, ainda, se apequenou ao permitir de forma deliberada a ultrapassagem de seu companheiro de equipe. Uma demonstração de falta de ética profissional, bem presente nos brasileiros, como demonstrou a seleção masculina de vôlei ao perder propositalmente para a Bulgária no Mundial na Itália para enfrentar um adversário mais fraco na fase seguinte.

Na política é onde o “barriquelismo” está mais presente. Há décadas que se tenta, se fala, mas o analfabetismo crônico continua inabalado. Na saúde, saiu uma pesquisa apontando que o Brasil possui menos leitos do que há trinta anos. E a segurança fecha o adjetivo. Os ladrões roubam como querem; a quem querem; quanto querem, na hora que bem entendem e da maneira que lhes provier. E às autoridades bastam as explicações. A principal há algum tempo é a de que o crime migra.

Rubens Barrichello tem menos de uma vitória por ano. Permanecer na Fórmula Um é uma proeza de fato e inexplicável na área de esporte, na qual permanece quem vence.

Somente os profissionais precisam descobrir como superar esses aspectos subjetivos, dessa mentalidade de ser pequeno por natureza. As autoridades devem ser cobradas para construírem as bases físicas para fomentar o esporte. Sem essas mudanças, o Brasil vai consolidar sua participação eterna em alguns esportes, sem vencer nada. Esse é o sentido do adjetivo “barrichellizar”. Definitivamente, “barrichellizar” pode até ser aceito para um atleta, individualmente, mas jamais para uma nação.


Pedro Cardoso da Costa
– Interlagos/SP

        Bel. Direito



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