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Opinião
Quarta - 27 de Abril de 2011 às 21:17
Por: Kleber Lima

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Durante a crise do bloco socialista do Leste Europeu, no final da década de 1980 e início da de 1990, o então presidente do PCdoB, João Amazonas, publicou artigo na Folha de S.Paulo, em 1991, intitulado “Acontecimento alvissareiro”. Era uma variação do “Rei está morto. Viva o Rei”. O termo e suas variações são normalmente empregados em situações de crise, quando se tenta mostrar que a referida crise gerará uma nova realidade, ainda que mantendo as leis ou princípios anteriores. Sintetizando, seria a chamada crise de crescimento ou crise dialética.

João Amazonas tinha essa perspectiva ao empregar o termo alvíssaras para sintetizar sua análise da crise do socialismo. Para ele para o PCdoB, a crise criava uma oportunidade de reparação de erros e equívocos históricos cometidos pelos dirigentes do bloco europeu, cuja matriz ideológica era a ex-União Soviética. E não necessariamente o fim da experiência socialista, um princípio ditado pelo motor da história, logo, em que não haveria marcha à ré.

Essa discussão – e esse termo – vêm pululando em minha cabeça há algum tempo. Tenho insistido numa solitária discussão sobre o que chamo de fim da sociedade civil tal qual a conhecemos pela obra de Gramsci, e tento demonstrar que uma nova sociedade civil emerge no planeta.

Parto da constatação que os partidos, sindicatos, associações classistas em geral e os antigos aparelhos ideológicos do Estado (escola, igreja, família, etc) vêm sofrendo mutações fundamentais na sua forma de atuação e representação.

Sobre os partidos, recomendo a leitura do último artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, intitulado “O papel da oposição”, como um bom pontapé para a discussão. Basta observar com um pouco mais de atenção o debate que se armou em torno da criação do PSD de Kassab lá e Riva cá para apreender-se outros aspectos dessa crise partidária.

E o que tem me chamado muito a atenção são os sindicatos. Eu cresci nesse meio, e vivenciei, por exemplo, o surgimento do Sintep em Mato Grosso. Tinha uma capacidade de mobilização da categoria impressionante. Pode-se dizer o mesmo do Sindicato dos Urbanitários e também o dos Bancários.

Com o tempo, sua capilaridade foi diminuindo. Mudou-se muita coisa nesses últimos 20, 30 anos. A eleição de governos progressistas e o atendimento de algumas bandeiras clássicas, como o aumento das verbas da educação, deixou o Sintep atordoado e sem bandeira. A privatização da Cemat e liquidação da Sanemat arruinaram com os urbanitários. A multiplicação dos bancos, ao contrário do que podia parecer, precarizou a profissão e diluiu o status que os bancários possuíam. Hoje são mais uma categoria de assalariados baratos.

Com tantas mudanças, seria natural que essas representações sociais também mudassem. O tempo presente, creio, é marcado pelo hedonismo, pela deserção da massa a causas coletivas tradicionais. Não significa que as pessoas ficaram reacionárias ou conservadoras. Simplesmente não se empolgam mais com velhos discursos, já gastos menos pelo tempo do que pela falta de conseqüência prática – ou pela demagogia barata.

Algumas causas, mesmo sem líderes, ainda mobilizam, cativam, levam o “povo” para a rua. Mas o conceito de povo também vem mudando. A sociedade está cada vez mais segmentada. A Parada Gay é o grande acontecimento da mobilização de massa no Brasil. Os sindicatos só conseguem mobilizar suas categorias em circunstâncias muito específicas, mas em geral em torno de bandeiras meramente financeiras.

Nesse contexto uma coalizão de centrais sindicais prepara um mega-evento para comemorar o Dia dos Trabalhadores em Cuiabá. Vão oferecer nove shows artísticos e cartelas de graça para sorteio de um carro e três motos zero km. Deverá conseguir levar muita gente, talvez menos do que as 70 mil pessoas esperadas. Mas, com certeza, poderá bater todos os recordes de mobilização sindical da história do Estado. (A maior de que me lembro foi a caminhada dos 20 mil, realizada pelo Sintep com o apoio das entidades estudantis, no início da década de 1990).

No momento presente, também os sindicatos das diversas categorias dos servidores públicos estaduais se mobilizam, ameaçam com greve, em torno de reivindicações salariais. Algumas assembléias surpreendem pela quantidade de trabalhadores presentes, como os da área instrumental do Governo.

As igrejas também têm criado seus shows e programas de tv para mobilizar seus fiéis. As missas chatas e sonolentas estão ficando no passado. Não se trata ainda de ser a favor ou contra ato de trabalhador e missas com show. Apenas a observação de que há algo acontecendo na organização social, não da chamada massa, mas dos segmentos. É por isso que me lembrei do João Amazonas. Vivemos um tempo alvissareiro!

 

(*) KLEBER LIMA é jornalista, consultor de marketing e diretor do site hipernoticias. E-mail: kleberlima@terra.com.br

 

 



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