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Opinião
Domingo - 23 de Outubro de 2011 às 23:45
Por: Lourembergue Alves

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“Falta estrutura”. Diante disso, os deputados estaduais mato-grossenses não tiveram dúvidas, aumentaram sua verba indenizatória. Esta saltou de C$ 15 mil para C$ 20 mil mensais. A aprovação foi imediata. Nem esperou o feriado passar. Pesou, então, a força da argumentação utilizada. Pois qualquer trabalhador carece de condições favoráveis para ter um desempenho necessário. É a partir desse ponto que se deve discutir o dito reajuste, cujo fim é o de permitir o custeio das despesas postais, telefônicas, passagens e combustíveis. Gastos imprescindíveis, uma vez que todo parlamentar precisa entrar em contato com a população distribuída nas mais variadas regiões do Estado.

Quadro que inibe a reação contrária. Mas não acaba com a existência de tal reação. Sobretudo quando se tem à frente o trabalho apresentado pelo conjunto dos parlamentares. Trata-se de um desempenho muito aquém do que se espera. E olhe que o cenário propiciava a eles maior desenvoltura. Pois as fotografias da saúde, educação e segurança públicas revelam imagens opacas e preocupantes. Imagens, no entanto, que foram ignoradas, e, por conta disso, não transformadas em temas de discussão no plenário. Não de forma sistematizada e organizada. Ainda que se visse um ou outro a fazer críticas à atuação do chefe do Executivo. Críticas, contudo, que só ocorreram em razão de interesses particulares não atendidos. Daí a situação de desconforto entre o governo e a Assembléia Legislativa. Isso, pelo seu turno, desviou os olhares da estampa que se tinha e tem, e, em meio a qual, ocorreram movimentos grevistas – oxigenados pela “defasagem salarial”.

“Defasagem salarial” que, infelizmente, não teve o mesmo peso – como argumentação - da “falta de estrutura”, queixada pelos deputados. Explica-se, então, o porquê o governo se recusou a conceder o reajuste de C$ 36,00 (trinta e seis reais) para os professores – cujo cotidiano profissional é marcado pela violência e por salas de aula inadequadas a aprendizagem.

Ambiente, contudo, nenhum pouco levado em consideração. Inclusive pelos parlamentares, os quais se fizeram de “mudos” e “surdos” diante da gritaria dos profissionais da educação. Tanto que a mediação pelo Parlamento estadual – tão aguardada por aqueles – foi frustrada. Nada se avançou. Nem deveria, uma vez que os deputados se valeram do dito movimento para forçarem o governo a mexer com a chefia de algumas secretarias, entre elas a de Educação.

Mexidas que não aconteceram. O governo, entretanto, cedeu espaços preciosos da administração para os deputados. Estes, cada vez mais, têm seus preitos – particulares - atendidos quase imediatamente pelos secretários. Situação reveladora. Pois traz a mostra um quadro onde a referida administração é fatiada em feudos, e nestes mandam e desmandam seus chefes – veja o caso da substituição da secretaria de Educação – e revela, igualmente, a força política de um ou dois deputados estaduais.
Deputados que, agora, por “falta de estrutura” dão reajuste a si mesmo. E não é de C$ 36,00. Mas de C$ 5.000,00, que se somam a verba de gabinete (C$ 30.000,00), um veículo, C$ 15 mil de material de consumo e salário de mais de C$ 12 mil. Toda essa mordomia para terem – no seu conjunto - um desempenho pífio. Ainda mais pífio se comparados aos deputados do período de 1947-1965, que mal cabiam em seu local de trabalho.            

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.   
 


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