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Opinião
Segunda - 30 de Janeiro de 2012 às 08:57
Por: Lourembergue Alves

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Em meio à crise, outros temas – oriundos ou não dela - também preencheram a pauta da mídia portuguesa. Um deles diz respeito ao tráfico de influência. Diariamente divulgado nos últimos vinte dias. Maciçamente até. Pois não havia telejornal sem a dita denúncia, a qual igualmente se repetia nos impressos e nos programas radiofônicos. Tanto que extrapolou o limite fronteiriço nacional, e ganhou as manchetes dos demais países europeus. Particularmente o italiano, francês e espanhol. Talvez porque tem como envolvidos políticos do PSD e membros da maçonaria.

 A instituição, então, passou a ser bastante criticada. Bem mais porque a maçonaria sempre “foi tida como tabu em terras portuguesas”. As críticas vinham de todos os lados. Da direita e da esquerda. Ambas questionavam o seu real papel. Sobretudo, agora, no momento vivido, onde as dificuldades cotidianas são consequências do descarrilamento da economia, e este é fruto dos desacertos dos governos. Os representantes maçons tentaram se defender e a dizer que diariamente se posicionam contra a desigualdade. Tentativa, porém, em vão, uma vez que suas interferências foram abafadas pelo parigatos das acusações. Estas, contudo, continha parte, não toda a verdade. Pois, de acordo com os noticiários, existe tráfico de influências nos corredores que ligam a administração pública nacional e o Parlamento, com políticos a beneficiarem do dito processo. Prática antiga conhecida. Não apenas do “velho mundo”. Mas, igualmente, de nações mais jovens, tal como o Brasil, onde é comum o uso do cargo e/ou o prestígio político para facilitar as coisas que tragam benefícios para alguém ou para um determinado grupo, no qual, segundo as más línguas, há um maçom envolvido.

Recentemente, em Mato Grosso, aliás, pessoas foram acusadas de agirem não republicanamente com o fim de beneficiar determinada loja maçônica. O mesmo se registrou, bem anteriormente, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Isso não significa dizer que era a Ordem a envolvida. Pois, definitivamente, não era. Embora se saiba que o envolvimento em falcatruas, de integrantes – quaisquer que sejam eles – traz desgastes não só a maçonaria, mas a todas as instituições que por ventura pertençam, entidades, igrejas, órgãos, poderes da República e familiares. 

 Isso, por outro lado, não deve servir de impedimento da divulgação das acusações, nem de qualquer outra, da investigação e da punição, caso venha a ser provada a culpa. Não em um Estado de direito e democrático. Pois tal Estado é impulsionado e fortalecido pelo tamanho da liberdade que se tem, assim como também com o fim das redomas de vidro ou de casulos, onde se acham “escondidas” as instituições existentes nas ditaduras ou no totalitarismo.  

 Portugal conhece bem a experiência de ditaduras. Tanto quanto é sabedor o Brasil, uma vez que cá quanto lá, por décadas, o silêncio tornou-se imperativo. Um imperativo compassado pelas baionetas e pelas prisões de quem se opunha aos regimes. Tempo bastante distinto do de hoje. Embora, nesses países, se podem encontrar resquícios pretéritos, sob a cantilena do “você sabe com quem está a falar”. Cantilena muitíssimo apreciada por vários setores do judiciário brasileiro, que acaba de pear – com golpe mortífero - o CNJ.

Posição que deve ser colocada em xeque, e porque não expurgada. Tarefa de todos que lutam pela liberdade. A mesma liberdade que, de acordo com a história, sempre estiveram os maçons. São expressivos, por exemplo, os maçons portugueses, tais como D. André Gouveia, bispo que propôs o fim da pena de morte, e Sá Bandeira, o qual lutou pela abolição da escravatura. Juntam-se a estes, um sem número de profissionais, entre os quais Alexandre Herculano, Antero de Quental e Antônio Arnault, que sempre se valeram de seus textos para defender a liberdade de expressão, e, a partir desta, a vida em democracia.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista político, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.  
 


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