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Opinião
Quarta - 01 de Agosto de 2012 às 11:55
Por: Lourembergue Alves

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Uma vez mais, a Barcelona do século XX torna-se cenário das tramas contadas por Carlos Ruiz Zafón. Há, aqui, uma retomada a algumas questões, cujas respostas foram deixadas de lado nos dois primeiros livros da trilogia. “O prisioneiro do céu”, contudo, não é necessariamente repetição deles, nem uma estampa reprisada. Pois as cenas são bem outras. Embora vividas por antigos personagens-heróis. Daniel Sempere e Fermín, agora, passam por situações diversas.
 
Ainda que em busca de velhas explicações. Buscas que revelam segredos e deixam à mostra feridas antigas. Estas e aqueles, juntos e entrelaçados, trazem o desenho de paisagens literárias bastante sedutoras.
 Seu autor, novamente, prende o leitor. Tanto que este quase fica sem forças para desprender-se da leitura. São capítulos curtos, de frases igualmente curtas. Habilidade que Ruiz adquiriu com o trabalho de roteirista de cinema e televisão, e com a qual leva quem o lê “de uma página à outra”. Assim, as duzentas e quarenta e seis laudas são rapidamente manuseadas. Iniciadas logo após o primeiro ano do casamento de Daniel e Bea (1957). Eles têm um filho, Julián, e moram com o senhor Sempere. A livraria continua a ser uma espécie de local onde as tramas se desembocam, e ao mesmo tempo é o ponto de partida, com a chegada de um estranho. Estranho que, embora não tendo paixão alguma pela literatura, pagou alta quantia pela edição ilustrada de “O conde de Montecristo”. Tudo para presenteá-la a Fermín, cujo “retorno de entre os mortos e tem a chave do futuro”. Dedicatória que certamente se referia a sua bem sucedida fuga da prisão. Muitos dos fatos, transcorridos na dita prisão, dizia respeito ao amigo Daniel que, mais tarde, passou a se inteirar deles pelo relato de Fermín, porém nada fez para desenterrar o passado. Apesar disso, no entanto, o dito relato constitui o auge do livro.
 
A ponto, por exemplo, de levar Carlos Ruiz Zafón a escrever outro romance. Pelo menos é esta a sensação que se tem quando termina de ler as últimas linhas de “O prisioneiro do céu”, as quais deixam claro que “a história” (...) “ainda não terminou. Apenas acabou de começar”. Começo que já lhe rendeu três romances. Cheios de magia e encanto, e de narrativas bem articuladas. Marca que se percebe desde “A sombra do vento”, passando pelo “O jogo do anjo”, até o desenrolar de toda a saga no terceiro livro da trilogia.  

 Ao folhear suas páginas, a impressão que se tem é o de viver os mesmos sentimentos de Daniel, ao ler um dos velhos romances de David Martín. Pois aquele, tanto quanto o leitor de Zafón, gosta “de saborear cada expressão e de desmontar a arquitetura de cada frase, pensando que se conseguisse decifrar a música daquela prosa descobriria alguma coisa acerca” de certo passado. Ainda mais quando este é rico em enigmas, que se escondem “no coração do Cemitério dos Livros Esquecidos”.
 Percebe-se, então, que os livros do espanhol de nascimento, mas residente em Los Angeles, falam sobre livros, literatura e autores, com certa leveza no uso das palavras, sem os trapézios existentes em muitos textos acadêmicos. Até porque o texto romanceado requer características diferenciadas, as quais sempre deslancham em tramas, sagas e, enfim, em sombras que crescem dentro dos personagens – a exemplo de Daniel Sempere. Daí a razão de se debruçar sobre as linhas constitutivas de “O prisioneiro do céu”, e, se o leitor tem um tempo a mais, e ainda não os leu, o porquê não ler os três livros. Vale à pena! 

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.    
 


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