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Opinião
Terça - 21 de Maio de 2013 às 20:32
Por: Lourembergue Alves

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O viver em democracia não é tarefa fácil. Requer uma série de cuidados, bem como de um aprendizado. Aprendizado que pode ser dificultado quando se teve uma longa experiência de ditaduras. Isso pode ser um complicador, e, na verdade, o é. Mas não o bastante para que não se possa trilhar nos caminhos da liberdade. Pois é esta o alicerce por onde se assenta os tijolos que darão sustentação a vida democrática. Uma vida que jamais pode, ou deve ser confundida com aquela regada por atos que contrariam o diálogo e a negociação, a exemplo do ataque de vandalismo ou terrorismo. 

 Este tipo de ação contraria os princípios democráticos. E não precisa ser especialista em violência urbana para saber disso. Basta que se dê uma olhada no dicionário para saber o significado de vandalismo, o qual se trata de algo que “produz ruína, devastação, destruição de monumentos ou quaisquer bens públicos ou particulares”. 

 Tal destruição causa mais prejuízo do que parece. Mesmo para quem não está por perto na hora em que foi jogada a bomba, nem considera os inquilinos do lugar atacado seus representantes ou funcionários seus. O prejuízo vai além dos escombros, ou da parede posta no chão ou dos vidros transformados em cacos. Pois se destrói uma referência, e esta, quando desaparecida, mesmo em parte, faz da vida em democracia, ainda que temporariamente, perder o rumo certo, ficar quase a deriva - tal como alguém recém-chegado, que tem dificuldades de se deslocar de um lado para outro com segurança.
 Percebe-se, portanto, que o viver em democracia carece de símbolos, de imagens, as quais juntas, na verdade, formam mapas. Mapas de que precisam cotidianamente os cidadãos. Ainda que se tenham passagens virtuais, ou gaste um tempão – por trabalho ou “devoção” – manipulando as teclas de uma máquina ou deslizando suavemente a os dedos sobre a tela do tablet. 

 A tecnologia não destruiu a democracia, e nem surgiu para este fim. Equivoca-se, portanto, reeditar o quebra-quebra das máquinas, como ocorreu no século XIX, por causa do desemprego. As máquinas surgiram isto sim, para auxiliar o homem. Inclusive no dia a dia democrático, pois, com elas ou por meio delas, podem-se acompanhar os passos de quem foi eleito para representar a sociedade.
 Essa é uma tarefa necessária. Própria da democracia, e esta exige a participação de todos, sem exceção alguma. Sem que haja a precisão de destruir o patrimônio público. Muito menos porque os chamados representantes do povo não cumprem com o papel que lhes foram delegados pelo eleitorado, ou por quaisquer outras razões. 

 Descontentamento carece ser mostrado. A população deve escancarar sua insatisfação. O regime democrático oferece mecanismos para esse escancaramento, ainda que o dia de votação esteja bastante distante. Mesmo que o escancarar, aqui, seja feito por uma única pessoa. Ainda que se saiba que o manifesto em grupo ou em comunidade sempre produz maior “estragos”. “Estragar”, o empregado neste texto, nada tem a ver com o ato de vandalismo, com o qual se põe abaixo o que está construído e subtrai vidas. 

 Felizmente, pessoa alguma saiu ferido no Parlamento cuiabano. As bombas caseiras, sequer, chegaram a explodir. Apesar disso, não deixa de ser um ato que mereça ser investigado e seus autores, punidos. Atos que devam ser, como foram e são, fortemente abominados pela sociedade.
 A sociedade reitera, assim, a sua vontade e necessidade de continuar a viver em democracia. Ainda que esta não esteja pronta e acabada. Nenhuma outra, aliás, se encontra acabada. Isso porque a democracia é uma eterna construção, além de vigiada e preservada. 
Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
 


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