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Polícia
Segunda - 19 de Janeiro de 2015 às 10:54
Por: *JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS

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Várzea Grande registrou aumento de 134,3% nos crimes de homicídios nos últimos sete anos. Enquanto durante em 2007, 96 mortes foram registradas, no ano passado o número passou para 225 casos. Neste período, foram 1.158 crimes contra a vida, entre assassinatos e latrocínios. O crescimento também foi notório em Cuiabá, mas em menos proporção, 18,9%. Em 2007, a Capital registrou 206 assassinatos e no último ano 245. Nos últimos sete anos, foram 1.790 mortes.


De acordo com estatísticas da Polícia Civil, 2014 foi o ano mais violento em se tratando de mortes. Coordenador do Núcleo Interinstitucional de Estudos da Violência e da Cidadania (Nievci) da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT), o doutor em Sociologia Naldson Ramos da Costa acredita que o crescimento exorbitante esteja ligado à impunidade de criminosos.

O latrocínio também apresentou um aumento significativo, em Cuiabá houve crescimento de 44,4% e Várzea Grande, mais uma vez saiu na frente alcançando o aumento de 112,5% de roubos seguidos de morte. Destacam-se como bairros mais violentos o Pedra 90 na Capital, registrando 19 mortes no último ano, e em Várzea Grande os bairros São Mateus e Cohab Cristo Rei, ambos empatados com 13 homicídios.

Para o estudioso em violência urbana, Naldson Ramos, os crimes, de uma maneira geral, tiveram um grande crescimento em todo o país. A possível justificativa seria a falta de punição aos criminosos. “Se a pessoa
comete um pequeno delito e não é punida, a tendência é que ela vá até o extremo da criminalidade
motivada pela sensação de impunidade.

Existem inúmeros casos de homicídio que ocorreram há décadas e nunca se encontrou o autor”. Em se tratando de Várzea Grande, Ramos destaca o fator grupo de extermínio, que nos últimos anos ganhou notoriedade entre a população e até mesmo na mídia. “Grupos que simplesmente se sentem incomodados
com uma determinada pessoa, vai até ela e a mata. Ou por alguém cometer um crime, o outro se sente na liberdade de matá-lo. Em 2014 teve um período que grupos como estes se destacaram nos noticiários mesmo sem sabermos suas identidades”.

Outro quesito que, segundo o sociólogo, pode ter colaborado com o aumento da criminalidade em Várzea Grande foi a Copa do Mundo. Com a chegada do evento mundial o município ficou visado por pessoas de todo o país, que vieram em busca de oportunidades de emprego. “Como a Copa acabou, muitos ficaram desempregados e ociosos. Com tempo livre e sem dinheiro nem para comer, o mundo do crime é um
prato cheio. E praticar um homicídio é só questão de tempo”.

O tráfico de drogas também é algo que colabora com o índice de mortes. Naldson acredita que o entorpecente é a porta mais fácil acesso para o mundo do crime. “Ficou comum vermos pais matando filhos e vice e versa, amigos se agredindo até a morte e, em sua maioria, por estarem drogados. As drogas
ilícitas invadiram nossas casas e se não houver políticas públicas para antes de tudo prevenir e depois combater esse mal, a tendência é só piorar”.

A melhor maneira de se combater a violência é preveni-la, por isso Ramos sugere que trabalhos de inteligência voltados para jovens e famílias com relação às drogas sejam realizados e postos em prática. “Além disso, não desistir de encontrar culpados de mortes, onde o autor não é identificado. Isso dará a
sensação de segurança à população e de medo aos criminosos”.

Coronel regional da Polícia Militar de Várzea Grande, Sérgio Coneza concorda com Ramos quando o assunto é punição. Segundo ele, a polícia tem tentado desenvolver seu trabalho da melhor forma possível, porém a
impunidade tem atrapalhado em muito. “Nossa legislação é falha, e enquanto não mudar as mortes só irão aumentar. Estamos com um efetivo baixo, trabalhamos dobrado e sentimos cada vez mais que esse esforço
tem sido em vão”.

A falta de estrutura e lazer da cidade são outros motivos para o crescimento desenfreado dos homicídios. De acordo com o coronel, sem ter opção de entretenimento, jovens vão para a rua e acabam se envolvendo com o pior que ela tem a oferecer. “Não temos praças, os centros comunitários estão abandonados, ginásios, quadras esportivas, nada disso. O que torna Várzea Grande uma cidade totalmente à mercê do crime. Por causa disso, eu até brinco que o shopping que está sendo construído aqui ajudará a segurança pública da cidade”.

Coneza acrescenta que ruas esburacadas e falta de iluminação pública também acrescentam na dificuldade de combate ao crime. “Existem ruas que não conseguimos entrar com a viatura, por que senão é capaz
de sairmos dela só com o volante na mão de tanto buraco que têm. Outras que temos que andar o tempo todo de luz alta, porque não enxergamos um palmo a nossa frente. Como combater os criminosos assim?”.
Coneza ressalta que políticas públicas com países vizinhos sobre a tratativa do tráfico de drogas iria colaborar em muito com a redução dos crimes de maneira geral. “Se tivéssemos pactos de combate a esse tipo de crime junto a Bolívia e Paraguai que também são países conhecidos pelo tráfico de entorpecentes, nossa situação seria muito mais tranquila, uma vez que 80% das mortes estão ligadas às drogas”.

O coronel reconhece que o baixo efetivo contribui para o aumento dos crimes, mas acredita que o problema vai muito além disso. “Se tivermos um milhão de homens e não tivermos uma administração municipal
e estadual organizada, de nada adiantará”. Delegada da Polícia Civil, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Anaíde de Barros, também concorda com o coronel Coneza e o sociólogo Ramos, e diz
que a maior motivação dos homicídios está ligada ao tráfico de drogas. “A maioria das vítimas está envolvida de alguma forma com as drogas, ou usuário, ou traficante. Isso quando não é o próprio autor do crime”.

E na opinião dela, para combater essa situação são necessárias políticas públicas. “A união de forças entre os poderes é essencial para o fim da criminalidade, em especial para coibir o tráfico de entorpecentes, que neste caso é a raiz de todos os problemas”.

OUTRO LADO - Representantes da Prefeitura de Várzea Grande não foram localizados pela reportagem para comentar o assunto. 





Fonte: A Gazet

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