Sequestrador teria abusado de 40 sexualmente Clérigo muçulmano radical tem passado ligado a crimes. Homem mantém grupo em café de Sydney desde domingo.
A imprensa local australiana identificou nesta segnda-feira (15) o clérigo muçulmano Man Haron Monis como o sequestrador que mantém cerca de 15 reféns em um café de Sydney, na Austrália. O sequestro no Lindt Chocolat Cafe, em Martin Place, começou às 21h (horário de Brasília) de domingo. A polícia está em contato com o sequestrador, mas ainda não soube precisar o número exato de reféns. Cinco deixaram a cafeteria até o momento.
Segundo a rede australiana '9News', Monis nasceu Manteghi Bourjerdi e se mudou do Irã para a Austrália em 1996. Ele teria sido processado em 2009 após uma campanha de cartas de ódio para protestar contra a presença das tropas australianas no Afeganistão e foi condenado a 300 horas de trabalho comunitário em setembro de 2013. Em novembro do ano passado, segundo a mesma emissora, ele voltou aos noticiários após ser suspeito de ter orquestrado o assassinado da ex-mulher Noleen Pal, que foi encontrada esfaqueada em um apartamento. Em abril deste ano, ele foi acusado de abusar sexualmente de sete mulheres enquanto trabalhava como um "curandeiro espiritual" em Wentworthville. Em outubro ele foi acusado de outros 40 crimes sexuais relacionados ao seu trabalho como líder espiritual.
Ainda de acordo com a rede de notícias, o xeique Haron, como é conhecido, estava em liberdade mediante fiança.
Há relatos de que uma brasileira estaria entre os reféns. Familiares da personal trainer brasileira Marcia Mikhael disseram que ela está dentro do Lindt Cafe junto com as outras vítimas. O irmão dela relatou ter recebido mensagens pelas redes sociais. A informação ainda não foi confirmada pelas autoridades brasileiras e australianas.
Nas primeiras horas do sequestro, imagens da emissora de TV Channel 7 mostraram pessoas com as mãos para o alto e uma bandeira negra fixada em uma vidraça da lanchonete com um texto em árabe no qual se lia "Não há outro Deus que Alá e Maomé é o mensageiro de Deus".
Após mais de 14 horas, há pouca movimentação no local. As luzes foram apagadas, e apenas uma pessoa, que seria o sequestrador, era vista andando dentro do local, segundo o repórter Chris Reason, da emissora "Channel 7", que tem visão direta para o Lindt Cafe. A presença policial é forte na região.
Inicialmente, foi reportado que o número de reféns poderia chega a 50, entre funcionários e clientes. Com o passar das horas, a imprensa australiana reduziu a estimativa para cerca de 15 pessoas.
Reféns libertados
As motivações do ataque ainda são desconhecidas. Por volta das 2h45, três homens saíram da lanchonete e ainda não se sabe se foram liberados ou conseguiram escapar. Dois deles deixaram o local pela entrada da lanchonete e outro pela saída de emergência. Por volta das 4h15, duas mulheres deixaram a cafeteria.
As autoridades de Nova Gales do Sul disseram que "os melhores negociadores do mundo" estão trabalhando para terminar o sequestro de forma pacífica.
A vice-chefe de polícia local, Catherine Burn, informou que os cinco reféns libertados foram avaliados por médicos para garantir que eles estão bem. Em seguida, eles seriam ouvidos pela polícia.
A imprensa australiana identificou uma das reféns como Elly Chen, funcionária do café. Ela aparece saindo correndo em fotos feitas no local. Outro refém que já deixou o local foi identificado como o advogado Stefan Balafoutis.
A polícia não confirma as identidades nem quantas pessoas permanecem rendidas. Ao que parece, não há feridos.
Homen é visto dentro de do Lindt Cafe em Martin Place, em Sydney, durante a tomada de reféns que ocorre no local nesta segunda-feira (15) (Foto: Reprodução/Twitter/7 News Sydney)
A emissora local Network 10 afirmou que duas reféns mulheres disseram que o sequestrador tem duas bombas plantadas em outros locais da cidade.
Imagem do Channel 7 mostra bandeira sendo
erguida em vidro do café
(Foto: AP Photo/Channel 7 via AP Video)
De acordo com uma emissora local de televisão, o homem armado pediu que seja entregue uma bandeira do grupo Estado Islâmico (EI) e advertiu que quatro bombas estão escondidas na cidade.
A informação foi divulgada pela emissora "Channel 10", segundo a qual o homem armado teria conversado com dois reféns no café e teria apresentado duas demandas. A polícia não confirmou os relatos.
Também houve informações de que reféns fizeram contato pelas redes sociais. A polícia pediu que se isso ocorrer, as autoridades sejam avisadas, pois apenas elas devem negociar com o sequestrador.
Prédios ao redor do café foram esvaziados, dentre eles o Consulado dos Estados Unidos no país e também a Ópera House, principal ponto turístico da cidade, que cancelou suas apresentações até esta terça-feira (16). Informações iniciais não confirmadas relatavam que um pacote suspeito estava no local. A polícia confirmou uma operação no Ópera House, mas não forneceu mais detalhes. O Consulado dos Estados Unidos ficará fechado também nesta terça.
O Consulado do Brasil, que fica na área isolada pela polícia, estava fechado nesta segunda, mas mantinha contato com seus funcionários para obter e conceder informações.
Reações
Em uma entrevista coletiva, o primeiro-ministro disse que não estava claro se a invasão ao café teria motivação política, mas que há indicações disso. "Este é um incidente muito preocupante. Compreendo a preocupação e a angústia do povo australiano. Há pessoas que querem nos fazer mal. A violência só serve para assustar. A Austrália é um lugar pacífico", assinalou Abbott ao pedir aos australianos para continuar o dia com normalidade e, em caso de observar movimentos suspeitos, chamar as autoridades locais.
Na página oficial da Lindt Chocolate Cafe Austrália no Facebook, a companhia agradeceu o apoio e disse estar "profundamente preocupada com o grave incidente". "Nossos pensamentos e orações estão com a equipe e os clientes envolvidos e todos os seus amigos e famílias", diz o comunicado.
Mais de 40 grupos muçulmanos australianos condenaram a tomada de reféns. "Nós rejeitamos qualquer tentativa de tirar vidas inocentes de seres humanos ou de instilar medo e terror em seus corações", afirmam em um comunicado, que chama a tomada de reféns de "ato desprezível". As autoridades também expressam seu apoio e solidariedade para com as famílias das vítimas e dizem esperar uma solução pacífica para o caso.
Os grupos muçulmanos indicaram que a inscrição "não representa um posicionamento político, e sim reafirma o testemunho da fé do qual se apropriaram de maneira indevida indivíduos desorientados que não representam ninguém, exceto a si mesmos".
"Este ato desprezível serve apenas para as agendas daqueles que buscam destruir a boa vontade do povo da Austrália e para prejudicar e ridiculizar a religião do islã e os muçulmanos australianos", completa a nota.
Polícia retira pessoas de prédios em área próxima
ao café. (Foto: Rob Griffith/AP Photo)
Operação
Desde o início da ação, o premiê está reunido com o Comitê Nacional de Segurança para acompanhar a operação. Ao redor da área há mais de 20 homens de unidades especiais e cerca de 50 agentes e detetives à paisana e com coletes à prova de balas.
Ônibus e trens que transitam pela região foram desviados.
A Martin Place, praça onde fica o Lindt Chocolat Cafe, está localizada no centro financeiro de Sidney, onde fica também o escritório do primeiro-ministro, a emissora de TV Channel 7, o Reserve Bank of Australia e alguns dos maiores bancos do país. O Parlamento australiano fica a apenas algumas quadras dali.
O sequestro coincide com a detenção, em uma operação em separado, de um homem de 25 anos no noroeste de Sydney por supostos delitos por terrorismo. A detenção está ligada a um plano para realizar um ataque terrorista em solo australiano e a facilitação do deslocamento de cidadãos australianos para a Síria, segundo a imprensa local.
Em setembro, as autoridades australianas elevaram o alerta terrorista para 'alto', devido à possibilidade de possíveis ataques terroristas a cargo de uma só pessoa, pequenos grupos ou grandes organizações.
Policiais cercam área onde está localizado café invadido por homem armado na Austrália (Foto: Rob Griffith/AP Photo)
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