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Segunda - 08 de Dezembro de 2014 às 09:17
Por: *JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS

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Fernanda de Lima (destaque) optou pelo parto humanizado: suíte foi fechada em outubro
Fernanda de Lima (destaque) optou pelo parto humanizado: suíte foi fechada em outubro

Cada vez mais as gestantes têm optado pelo chamado "parto humanizado", em lugar da tradicional cirurgia, para dar à luz. 


Este tipo de parto prevê que a gestante tenha liberdade de escolha da melhor posição e do local onde dar à luz, além de diminuir ou acabar com as intervenções desnecessárias como a episiotomia (incisão efetuada na região do períneo para ampliar o canal de parto e facilitar o nascimento do bebê).

Somente neste ano, mais 24.471 partos foram realizados no Estado, sendo 15 mil normais, de acordo com a Secretaria de Saúde (SES). Em Cuiabá, foram 702 partos no período de janeiro a agosto sendo 512 normais.

No entanto, o único espaço destinado ao parto humanizado - tanto na rede privada quando na rede pública de Saúde - precicou ser desativado em definitivo no mês de outubro, devido à impossibilidade de se realizar uma reforma necessária no local.

A suíte de parto natural estava localizada no Hospital Santa Helena, em Cuiabá.

Na suíte era possível encontrar uma banheira para nascimentos na água, uma bola para promover a mobilidade pélvica durante o trabalho de parto e até uma bancada para possibilitar maior liberdade para a gestante, que podia ter a companhia de familiares para acompanhar o parto.

"Devido ao peso da banheira cheia, mais o peso do número de pessoas, principalmente familiares, que participam desse parto, não era possível manter (a estrutura), foi por isso que rachou. Comprometeu (a parede) e poderia até cair a banheira lá embaixo, na recepção"

Problemas e desativação
De acordo com o diretor do Hospital Santa Helena, o médico Marcelo Sandrin, a desativação da suíte ocorreu devido a falhas de engenharia que ocasionaram uma infiltração no local próximo à banheira.

Ele explica que o problema aconteceu por causa do peso da própria banheira, somado ao número de pessoas que ficavam juntas no local - que não estava preparado para grandes movimentações.

“Devido ao peso da banheira cheia, mais o peso do número de pessoas, principalmente familiares, que participam desse parto, não era possível manter (a estrutura), foi por isso que rachou. Comprometeu (a parede) e poderia até cair a banheira lá embaixo, na recepção”, disse.

Inicialmente, pensou-se em reformar o espaço, mas, após a realização de um estudo de viabilidade, optou-se por ampliar a sala de pré-parto, local onde as gestantes aguardam pela evolução do parto.

“A banheira estava posicionada em um lugar de alta movimentação. Então, para nós não era mais exequível e nós precisávamos da ala para melhorar a sala de parto geral, que fica em frente da sala onde as parturientes ficam esperando para adentrar ao pré-parto”, explicou.

O médico afirma que, apesar da determinação de desativar a suíte, um novo espaço semelhante será construído no hospital, que é credenciado pelo programa Rede Cegonha, do Ministério da Saúde, e tem o objetivo de fomentar a humanização dos partos.

“(A suíte) está inclusa nas nossas necessidades e objetivos do próximo ano, mas não haverá mais aquele lugar. Lá (a suíte) será utilizado para aumento da sala de pré-parto. Lá não vai reabrir em definitivo. Talvez possa ser realocado para outro lugar”, afirmou.

"O modelo biomédico impregnado em nossa formação muitas vezes nos afasta dos pacientes e tira a sensibilidade necessária para atender as mulheres e recém-nascidos neste momento tão importante"

Ainda não há previsão de quando outra suíte de parto será construída, contudo, o objetivo é que seja edificado um novo andar no hospital somente destinado a suítes de parto normal.

A ideia já é muito bem recebida por gestantes, enfermeiras, médicos e doulas, que são especialistas em auxiliar a gestante antes, durante e depois do parto.

Falta formação

A enfermeira e doula Geovana Hagata avalia que é preciso não só haver a ampliação e melhorias nas unidades de saúde, como também na formação dos profissionais que atuam diretamente com as gestantes que optam pelo "parto humanizado".

“Os profissionais ainda não se conscientizaram. O modelo biomédico impregnado em nossa formação muitas vezes nos afasta dos pacientes e tira a sensibilidade necessária para atender as mulheres e recém-nascidos neste momento tão importante”, disse.

Segundo ela, apesar de ainda não existir estrutura hospitalar e nem corpo clinico especializado para adotar o parto humanizado em Mato Grosso, a informação sobre os benefícios de um parto natural é um forte aliado para diminuir o número de cesáreas desnecessárias.

“Penso que a realidade no Estado está mudando. E mudará ainda mais, pois as mulheres estão mais conscientes do que é melhor para elas e seus bebês”, finaliza.

Fernanda de Lima/Arquivo Pessoal
Fernanda de Lima optou pelo parto humanizado e não se arrepende da escolha
Uma questão de escolha

Um exemplo de conscientização sobre o parto natural é de Fernanda de Lima, que deu à luz ao seu bebê, Leonardo, na sala de parto humanizado. Ela relatou que sofreu muita pressão para optar por um parto cesárea, mas, após o conhecer a estrutura do único hospital que atendia ao parto humanizado, decidiu que queria dar à luz dessa forma.

“Muitas pessoas me desencorajaram, querendo que eu fizesse uma cesariana, mas tive do meu lado pessoas que me deram muita força. Uma delas foi minha mãe, meu namorado - que no momento não estava presente - e meus amigos. A sala estava cheia e linda”, recordou.

Segundo ela, o espaço foi fundamental para a tranquilidade do nascimento do seu único filho. Isto porque a banheira instalada no local foi um analgésico natural para amenizar as dores do parto devido à água morna, além do espaço ser aconchegante e contar com a presença dos seus familiares.

“Fiquei o tempo todo ativa. Passei a maior parte do tempo ali, conversando, rindo e esperando a vontade do meu filho (de nascer). A cada contração sabia que faltava pouco para ver o rostinho lindo dele. Aquela sala tinha cheiro de amor, amor do qual eu nunca havia sentido por ninguém”, afirmou.

"Realmente dói, mas é suportável e eu pude escolher tudo para este dia, desde as músicas que estavam tocando na sala, até quem eu queria que estivesse comigo na hora"

O acompanhamento de uma doula do próprio hospital também foi essencial, segundo Fernanda, para a segurança do parto.

“Tive o acompanhamento de uma doula que estava de plantão, que me fez muita massagem, muito carinho. Muitas mulheres sentiam medo da dor. Eu senti medo, claro, pois não tinha noção de como era essa dor que todas falaram. Realmente dói, mas é suportável e eu pude escolher tudo para este dia, desde as músicas que estavam tocando na sala, até quem eu queria que estivesse comigo na hora mais importante da minha vida e achei isso muito importante, pois nessa hora o que você quer é ter segurança e os seus por perto”, afirmou.

Apesar da desativação da sala, o diretor Marcelo Sandrin afirma que é possível que os partos continuem sendo prazerosos e humanizados, como o de Fernanda.

“A mulher pode optar por diferentes tipos de parto. O parto humanizado, na verdade, é uma filosofia que rege o atendimento, particularmente aqui no Santa Helena, que envolve uma série de atitudes, desde antes da concepção, até o final do parto. Isso é uma filosofia. A sala de parto na água, a banheira que tínhamos aqui, é uma opção de pessoas, que deu para fazer enquanto tivemos condições”, disse.

Dados sobre os partoshumanizados

A SES e a assessoria do Hospital Santa Helena não informaram quantos partos ocorreram na suíte humanizada este ano.





Fonte: Midia News

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