"Empresários do agronegócio e fazendeiros aliciam e ameaçam" Polícia Federal afirma, em relatório, que quadrilha age de modo empresarial e articulado
As investigações feitas pela Polícia Federal na Operação Terra Prometida, que combate o comércio ilegal de terras da União, apontaram a existência de uma "organização criminosa estruturada" e organizada, que atua na região de Lucas do Rio Verde, Itanhangá, Tapurah e Ipiranga do Norte, em Mato Grosso, há pelos menos 10 anos.
MidiaNews
Delegados da Polícia Federal durante entrevista coletiva: esquema desbaratado
Segundo relatório assinado pelo delegado Hércules Ferreira Sodré, da Polícia Federal, a quadrilha age de modo articulado, para tomar lotes, avaliados em até R$ 1 milhão cada, transferi-los para "laranjas" e, em seguida, a empresários e fazendeiros.
"A quadrilha possui tarefas bem definidas para cada integrante. Empresários do agronegócio e fazendeiros aliciam, compram, ameaçam e expulsam posseiros, valendo-se de ações ardilosas, do uso da força e até de armas", diz trecho do relatório.
"A quadrilha possui tarefas bem definidas para cada integrante. Empresários do agronegócio e fazendeiros aliciam, compram, ameaçam e expulsam posseiros, valendo-se de ações ardilosas, do uso da força e até de armas"
De acordo com as investigações, o Sindicato Rural de Itanhangá elabora as listas com nomes de "laranjas" de fazendeiros e de empresários, fazendo a indicação ao Incra.
"Servidores públicos aprovam os nomes dos 'laranjas' indicados, efetivando a homologação e imissão na posse. Entretanto, quem tomou posse e produz nos lotes são grandes fazendeiros e empresários do agronegócio", diz o relatório.
"O esquema tem a subordinação a alguma forma de disciplina, ou controle e utilização de estrutura empresariais (Bungue, Fiagril, Latina Defendisos); utilização de entidades de classe, como Sindicato Rural e Fetagri; de poder político, como vereadores e vice-prefeito; e uso de poder econômico, como motivação de obtenção de lucro e poder".
A PF aponta que tais fatos foram "corroborados pelos depoimentos, declarações, interrogatórios e demais provas dos autos", constatando que cerca de 50 empresários ruralistas concentrariam aproximadamente 1.000 lotes no Projeto de Assentamento Itanhangá.
"Se a Justiça não adotar providências e medidas enérgicas, eficazes e urgentes o patrimônio da união continuara a ser alvo de incessantes, sucessivos e contumazes ataques por parte da organização criminosa", diz o delegado.
Ao pedir prisão preventiva de 52 suspeitos, o delegado Hércules Ferreira Sodré disse que a medida era "imprescindível".
"Se os líderes e integrantes da organização criminosa permanecerem soltos, poderão continuar atuando nos bastidores da política e poder, corrompendo servidores públicos, ameaçando parceleiros legítimos e testemunhas. E tentariam, a qualquer custo e meio, obstar o trabalho da polícia na coleta de provas e inquirição de envolvidos", afirmou.
Crimes
Segundo a investigação da Terra Prometida, além do esquema criminoso de compra e venda de lotes, ameaças, invasão de terras e crimes ambientais praticados no PA Itanhangá, a quadrilha pratica estelionato, fraude documental, associação criminosa, ameaça, corrupção ativa e passiva.
A Polícia Federal indicou ainda o contrabando de agrotóxico e defensivos agrícolas, porte ilegal de armas de fogo, utilização de laranjas por fazendeiros para inscrição fraudulenta perante o inca, e até tráfico de drogas.
Veja o organograma contido no relatório da PF sobre o esquema criminoso:
Clique AQUI e veja a íntegra da decisão da Justiça Federal
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