Mapeamento identifica pontos mais perigosos no trânsito de Cuiabá
De janeiro a outubro deste ano 128 pessoas morreram vítimas de acidentes de trânsito na Grande Cuiabá. O número é considerado preocupante pela Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito, que registrou mais de 2,8 mil ocorrências de acidentes de trânsito em Cuiabá e Várzea Grande, de janeiro a agosto deste ano.
Na intenção de reduzir estes números, a Coordenadoria de Estatísticas e Análise Criminal, da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), elaborou o primeiro mapa de zonas quentes de trânsito, que irá colaborar no desenvolvimento de políticas públicas para redução dos índices de mortes violentas nas vias públicas.
Titular da Delegacia de Trânsito, Christian Alessandro Cabral explica que o mapeamento de georreferência será realizado todos os meses, para que se tenha uma base de dados sólidos. “O projeto é piloto e ainda estamos no primeiro mês. Mas o objetivo é estabelecer os locais onde mais ocorrem os acidentes, em seguida estudaremos a motivação destes e tentaremos encontrar uma solução para que esse índice seja reduzido”.
Com base no primeiro resultado do estudo, Cabral foram identificadas as localidades com maiores registros de acidentes no mês. A avenida Fernando Corrêa da Costa lidera o ranking, com 17 acidentes, em seguida está a avenida Historiador Rubens de Mendonça (CPA) com 12 ocorrências e por último estão empatadas, com oito acidentes, as avenidas Carmindo de Campos e Edna Affi (Torres).
Ainda segundo o mapeamento, uma das vias que teve uma relevante redução nas ocorrências de trânsito foi a avenida Miguel Sutil. “Provavelmente isso está ligado à instalação dos equipamentos de fiscalização eletrônica. Continuaremos observando, e caso no próximo mês o índice seja ainda menor, teremos a certeza”, ressalta o delegado.
A imprudência ainda é um dos maiores responsáveis pelos acidentes e o sentimento de impunidade pode fortalecer a ideia de que crime de trânsito é diferente dos demais. “Por mais que as penalizações estabelecidas pelo Código Brasileiro de Trânsito tenham ficado mais rigorosas nos últimos anos, ainda é raro alguém que fique preso por ter matado alguém em um acidente”, fala Cabral.
Ele explica que este tipo de crime, quando julgado e condenado, dificilmente ultrapassa os três anos de reclusão e pode ser revertida em pena alternativa, voltado a trabalhos sociais prestados à sociedade.
O delegado lembra que a nível de Brasil, Cuiabá está entre as capitais mais violentas em se tratando de trânsito. “O transporte coletivo da capital deixa muito a desejar, e isso leva muitos cidadãos a comprarem um veículo sem ao menos ter a carteira de habilitação. É óbvio que isso não resultará em uma coisa boa, o que é comprovado, pois boa parte dos envolvidos nos delitos de trânsito não tem licença para dirigir”.
Atualmente, na Grande Cuiabá, os acidentes de trânsito não estão apenas ligados ao fator humano, como álcool e volante, ou qualquer outro tipo de imprudência. Segundo o delegado Christian, a infraestrutura das vias locais tem colaborado em muito com este crescimento. “Cuiabá e Várzea Grande cresceram muito e as ruas que já existiam não estavam preparadas para isso. O resultado são buracos, congestionamentos gigantescos, entre outros fatores, que acabam com a paciência de qualquer cidadão e, consequentemente, temos mais ocorrências”.
Engenheiro civil especialista em trânsito, Narcizio Nascimento Júlio concorda com o delegado e acrescenta novos fatores envolvendo a infraestrutura da cidade aos acidentes. “O psicológico do motorista cuiabano e várzea-grandense tem que estar muito preparado para lidar com o trânsito local. Depois das obras da Copa, a situação ficou ainda mais séria. Sair de casa é um martírio e é claro que a mente cheia acrescenta força à imprudência”.
Ainda falando das obras da Copa, o engenheiro fala das heranças que estas deixaram e até o momento não foram solucionadas. “Desfizeram canteiros, retiraram postes de iluminação, a sinalização vertical e horizontal não existe e, quando sim, são confusas. Tudo colabora para mais acidentes”. As obras já concluídas também são criticadas pelo engenheiro. “A maioria foi mal elaborada, os projetos são completamente falhos. Se realizarmos um estudo comparando o trânsito local antes e depois dessas obras, com certeza nos assustaremos com o resultado”.
Quando se fala em acidentes de trânsito, não se pode esquecer dos pedestres. Para Júlio, a falta das faixas de pedestres ainda é uma das causas dos acidentes com morte. “Para se dar um exemplo, podemos citar as avenidas do CPA e Fernando Corrêa, não tem uma faixa de pedestre, as pessoas precisam se arriscar e atravessar entre os carros, e o resultado, mais uma vez, são mortes no trânsito”, lamenta o engenheiro.
Questionado sobre o efetivo que trabalha no atendimento às ocorrências de trânsito, Cabral afirma que o serviço prestado pela delegacia à população é muito prejudicado por conta do déficit de agentes. “Hoje eu tenho um efetivo de quatro homens que atuam com o auxílio de duas viaturas, para atender toda a Cuiabá e Várzea Grande. Não tenho como negar que isso é prejudicial tanto para nós, como para a sociedade no geral”.
Sobre o efetivo ideal, Christian cita a experiência que teve durante a Copa do Mundo. “Durante o Mundial, eu trabalhei com 12 agentes, e posso dizer que o atendimento foi de primeiro mundo. Ficaria feliz em ter esse efetivo sempre em nossa delegacia”.
A Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito voltou a funcionar a pouco mais de um ano. Durante o governo estadual de 2006 o órgão e o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar foram desativados, voltando ao funcionamento em meados de 2013.
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