Ativista solto após 45 dias preso quer combater na Ucrânia com separatistas
O ativista Rafael Marques Lusvarghi, que ficou 45 dias preso em São Paulo,
acusado de atos violentos durante a Copa do Mundo, falou nesta sexta-feira (8) ao G1 que seu plano agora é ir à Ucrânia. No país europeu, ele pretende se juntar às forças rebeldes pró-Rússia.
“Eu vou para a Ucrânia ajudar a combater com os rebeldes separatistas”, disse Rafael por telefone à equipe de reportagem. Esta foi a primeira entrevista que ele concedeu desde que foi solto.
Mas, segundo ele, sua saída do Brasil só ocorrerá ao fim do processo judicial. O jovem de 29 anos afirmou que perdeu os empregos como professor de inglês e assistente de help desk devido à prisão. Ele responde em liberdade por crimes cometidos nas manifestações contrárias ao mundial de futebol. Ele nega as acusações.
Na quinta-feira-feira (7), Rafael e o manifestante Fábio Hideki Harano foram soltos pela Justiça, que considerou as prisões desnecessárias após laudos técnicos revelarem que os objetos que portavam no protesto de 23 de junho, ao contrário do que a Polícia Civil alegou, não eram explosivos. Ao sair do 8º Distrito Policial, no Brás, com os cabelos longos e barba por fazer, não falou com a imprensa.
Eles, no entanto, continuam sendo réus no processo por "incitação ao crime" e "associação criminosa armada". Rafael também é acusado de "resistência à prisão". Fábio, que tem 27 anos e é estudante e servidor da USP, foi responsabilizado por "desobediência".
Dos cinco ativistas presos pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil, suspeitos de integrarem o movimento Black Bloc - que prega a depredação do patrimônio público em manifestações- apenas um continua detido: o mecânico João Antonio Alves de Roza, de 46 anos. Para a investigação, todos se conhecem, se organizam em grupos e convocam adeptos por meio das redes sociais para atos violentos.
A equipe de reportagem não conseguiu localizar Fábio para falar. A defesa de João, que é feita pela Defensoría Pública, informou que ele continua preso no Centro de Detenção Provisória 4 de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, sob a acusação de "associação criminosa".
'Combatente'
Na conversa com o G1, Rafael se definiu como “combatente”, “stalinista” e de “esquerda”. Apesar disso, preferiu não polemizar a declaração do juiz Marcelo Matias Pereira, que o chamou de “esquerda caviar” – expressão de origem francesa (gauche caviar) para descrever ativistas que dizem ser socialistas, mas que usufruem do capitalismo. O mesmo magistrado foi quem o soltou.
Dizendo ter sido orientado por seu advogado (o defensor público Bruno Shimizu), Rafael também preferiu não comentar suas duas prisões nos atos anti-Copa (a primeira delas em 12 de junho, na abertura do torneio). Ele revelou que, no dia 17 daquele mês, se submeteu a uma escarificação (técnica que consiste em cortar a pele para deixar uma cicatriz) num estúdio de tatuagem enquanto a seleção brasileira empatava com a mexicana.
Quando foi preso pela segunda vez pela PM, estava na Avenida Paulista, sem camisa e vestindo kilt – traje escocês semelhante a uma saia. Devorador de livros sobre os vikings, tem a palavra bersek tatuada no braço, numa alusão a guerreiros da mitologia nórdica.
Mais velho de quatro irmãos nascidos numa família de origem húngara e de classe média, Rafael é jundiaiense. A mãe professora é separada do pai, empresário em Minas Gerais. Na adolescência, fez curso de técnico de agronomia. Aos 18, se alistou na Legião Estrangeira, na França, onde serviu por três anos. Na volta ao Brasil, foi soldado da PM de São Paulo entre 2006 e 2007. Depois tentou a carreira de oficial da PM no Pará, mas abandonou em 2009.
No ano seguinte, seguiu para a Rússia para concretizar seu desejo de conhecer, in loco, o que só havia visto em fotos do período comunista. Lá, estudou administração, onde ganhou de um professor o apelido de Riurik Varyag Volkovich, da dinastia Rurik. Tentou entrar para o exército russo, mas não conseguiu e voltou à América do Sul. Contou ter entrado no território colombiano, onde ingressou nas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Descontente, retornou ao Brasil. Começou a dar aulas de inglês e trabalhar numa empresa de informática em Indaiatuba, interior paulista.
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