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Cientistas visitam comunidades onde há alta incidência da doença. Um dos desafios foi conhecer o comportamento do mosquito transmissor.
Pesquisadores conseguem avanços no combate da malária no Amazonas
O número de casos de malária registrou queda de 30% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado. Mesmo com essa redução, a doença ainda é um problema grave na Amazônia. Pesquisas realizadas na região têm apresentado avanços para o controle do mosquito transmissor da malária.
Não há outro inimigo capaz de deixar o caboclo da Amazônia mais abatido do que o anopheles darlingi, nome científico do mosquito da malária. Apenas a fêmea transmite a doença e só após ter picado uma pessoa contaminada. A saliva do mosquito tem um parasita, que é um protozoário. Ele entra na corrente sanguínea da pessoa picada, se aloja no fígado e se multiplica. O principal sintoma é a febre, que geralmente aparece depois de duas semanas.
O agricultor Manoel Ciro, de 71 anos, vive da agricultura. Desde quando começou a trabalhar na roça, ainda jovem, convive com a doença. “Quando a malária ataca não tem quem resista. Eu desmaiei perto do limoeiro”, diz.
Não é só a saúde que sofre. A produção agrícola também. O trabalho nas lavouras fica prejudicado no assentamento com 37 famílias perto de Manaus. “A malária vem interferindo nos trabalhos comunitários, trabalho individual. As pessoas infectadas pelo transmissor da malária estão deixando de vir. Em um calor deste, a pessoa não suporta. Eu acredito que 50% das pessoas já contraíram malária”, diz o líder do assentamento José Rodrigues.
Embora seja um mosquito da selva, o problema preocupa mais nas regiões urbanas da Amazônia. Em Manaus, por exemplo, cerca de 300 mil pessoas, 16% por cento da população, vivem em áreas consideradas de risco.
Os maiores focos de contaminação no município de Manaus ficam na periferia da capital, onde a ocupação urbana avançou sobre a floresta. Quando isso acontece, o mosquito substitui suas fontes naturais de alimentação pelo sangue humano.
A malária não tem vacina. O exame é simples, feito nos postos de saúde. Os agentes que trabalham no combate fazem o acompanhamento das pessoas contaminadas que vivem em comunidades mais distantes dos postos. Eles levam o remédio contra malária para os pacientes. O tratamento dura até dez dias e se for interrompido a doença volta.
O biólogo Wanderli Tadei é o coordenador da pesquisa sobre a malária desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Toda semana, os cientistas visitam comunidades onde há alta incidência da doença. Um dos desafios do trabalho foi conhecer o comportamento do mosquito. Uma das descobertas está relacionada ao ciclo das águas.
A pesquisa já confirmou que quando as águas começam a subir, entre novembro e dezembro, aumentam também os casos de malária na Amazônia. O mosquito se reproduz nos igapós, nas regiões inundadas da selva.
“O igapó é um local estável. Então, há possibilidade de formação de todas as algas. Tudo que é necessário para a fêmea por seus ovos e desenvolver as larvas. Com este refluxo das águas, que é o que no momento nós estamos, a fêmea não vai jamais por ovos porque não tem condições de reprodução. Então, ela procura locais mais estáveis de água que são represas, que foram feitos, e tanques de piscicultura. É ali que ela acaba aninhando neste período pra ter a reprodução dos mosquitos”, diz Tadei.
Antônio Francisco da Silva, um dos ajudantes do professor Wanderli Tadei, se prepara para coletar os mosquitos, a parte mais arriscada da pesquisa. Ele usa meia preta para atrair o inseto, que gosta de cores escuras. Com um sugador bucal ele faz a captura.
“Tem que estar bem paramentado para não ser picado e ter sorte para o mosquito infectado não te pegar. Picado sempre vai ser, mas se ele não tiver infectado a gente continua dando sorte, se livrando”, diz Silva.
As prevenções são as conhecidas: borrifar as paredes com inseticida, fechar portas e janelas com telas e usar o fumacê, que mata e expulsa os insetos.
No laboratório, a pesquisa avança em outras áreas. Depois de anos de estudo, o professor Wanderli Tadei e cientistas de várias outras instituições acabam de conseguir fazer o mapeamento genético do mosquito da malária. “O mapeamento destes genes nos permitirá entender a dinâmica destes genes que normalmente ficam resistentes ao inseticida que é utilizado em ações de controle”, diz.
Também estão avançados os estudos para a produção de um repelente de longa duração na pele. Os testes são feitos com mosquitos de laboratório. Os próximos passos serão avançar na área da nanotecnologia, técnica que desenvolve microcápsulas que podem compor até tecidos de roupas. Pode parecer um pequeno avanço, mas é um passo muito importante no combate dessa doença que ainda faz sofrer milhares de brasileiros na Amazônia.
Fonte:
Do Globo Rural
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