Baixa não chega à bomba em Mato Grosso
O mês de junho começou, mas a tradicional baixa dos preços do etanol hidratado ainda não chegou às bombas dos postos revendedores. Em plena safra da cana-de-açúcar no Estado, o valor do litro segue praticamente inalterado, enquanto, somente no mês de maio, caiu quase 8% nas usinas. Oito das dez plantas mato-grossenses estão operando em plena carga e a moagem segue sem problemas. A seca não atingiu os canaviais durante o desenvolvimento e as chuvas pararam no momento certo, sem interromper o processo de colheita e processamento da matéria-prima.
Como aponta o Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado (Sindálcool/MT), de 28 de abril a 30 de maio, o preço do litro na usina, saindo com todos os impostos, passou de R$ 1,721 para R$ 1,587, queda de 7,78%. A redução foi acontecendo de forma gradual nas últimas cinco semanas. Na revenda, os preços seguem iguais ao período da entressafra, em cerca de R$ 2,29 por litro.
“Queremos entender, porque o preço do litro caiu para o produtor e não chegou ao consumidor. Queremos que assim como os aumentos chegam às pessoas, as baixas cheguem do mesmo jeito. Os outros elos da nossa cadeia não estão acompanhando o movimento da origem, ou seja, a queda da usina não foi repassada pelas distribuidoras e revendedores. O etanol tem o fator econômico, que gera emprego no Estado, e o peso ambiental, por ser menos poluente que os derivados de petróleo. O que não entendemos é como apenas um braço dessa engrenagem pode perder preço e os outros não”, argumenta o diretor executivo do Sindicato, Jorge dos Santos.
Ele lembra que neste ano em especial, a queda na usina ocorreu de forma mais significativa nos últimos 30 dias. Dois fatores colaboraram para as baixas, o primeiro, como ele elenca, foi a pressão da maior oferta do produto com o início da moagem da cana. O segundo foi a situação das usinas, que durante a entressafra reduziram muito o fluxo de caixa e foi preciso vender bastante para repor o orçamento.
“Como se não bastasse a própria oferta do etanol, houve uma injeção maior por parte das usinas para fazer dinheiro. Fora isso, estamos diante de um fator macro que é a perda do poder de consumo do trabalhador, principalmente pela inflação dos alimentos. Em suma temos uma oferta firme em um período de retração de consumo e isso tem forçado os preços na usina”, completa.
Santos destaca que em outros anos, como 2013 e 2012, por exemplo, não houve variações nesse mesmo período, mesmo com todas as usinas iniciando a safra quase ao mesmo tempo, movimento que por si só força a pressão baixista. “Entre final de abril e maior de 2013 e 2012, o preço do litro saiu da usina em cerca de R$ 1,43/1,42, se mantendo assim até o final de junho. A redução, e nada significativa assim, indo a R$ 1,39, só veio em agosto. Estamos diante de um ano atípico e o consumidor ainda não está usufruindo dele”.
Conforme o levantamento semanal da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), de 4 a 31 de maio, o valor médio do litro do etanol nos postos de Mato Grosso recuou 1,32%, de R$ 2,26 para R$ 2,23. Com este último valor, Mato Grosso exibe apenas o quinto menor preço do país para o derivado da cana.
O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Mato Grosso (Sindipetróleo/MT) lembra que o segmento revendedor é livre para definir os preços dos combustíveis. “Mesmo verificando queda nos preços nas usinas, há expectativa de que nas próximas semanas as distribuidoras repassem para os postos mais reduções”. O Diário não conseguiu falar com nenhum representante do segmento distribuidor de combustível. Pela ANP, nos mesmo período citado para o preço médio ao consumidor no Estado, a média saída das distribuidoras foi de R$ 1,85 para R$ 1,80 em maio.
A expectativa não é só do mercado, mas principalmente do consumidor que espera por quedas nos valores de bomba. O bancário Zenito de Oliveira, disse que desde janeiro deste ano deixou de abastecer o carro com etanol. “Primeiro, para evitar as altas motivadas pela entressafra e agora sigo usando gasolina porque o preço de bomba não é atraente para mim. Há alguns anos, nessa época, tínhamos o etanol na casa de R$ 1,50 e com forte tendência de queda ainda”.
A farra
Conforme pesquisa do Diário, em maio do ano passado, o preço médio no Estado para o litro do hidratado estava abaixo de R$ 2. Santos explica que dificilmente os preços da chamada temporada de ‘farra do etanol’, até 2009, quando os preços chegaram a dois dígitos: R$ 0,99. Em julho de 2009, por exemplo, estava valendo R$ 1,03 nas bombas. O valor recorde é R$ 2,45, março de 2006. “Com a política governamental de 2010 para cá em manter o preço da gasolina artificialmente baixo, a nossa capacidade de movimentação ficou restrita. Temos duas alternativas, ou acompanhamos o preço da gasolina dentro do parâmetro de até 70% do seu valor, ou parar como as mais de 40 usinas que pararam no Centro-Sul”, explica.
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