"Pessoas normais não fazem o que ele fez", diz Guido Palomba. Especialista afirma que nome do transtorno vai constar em perícia.
Médico: "doença psíquica fez filho matar pais PMs"
Perfil de Marcelo Pesseghini foi traçado por psiquiatra
chamado pela Polícia Civil (Foto:
Reprodução/GloboNews)
Uma "doença psíquica" levou o garoto Marcelo Pesseghini a matar toda a família e cometer suicídio em 5 de agosto, segundo conclusão do psiquiatra forense Guido Palomba. O especialista foi chamado pela Polícia Civil para traçar o perfil psicológico do principal suspeito de cometer a chacina. Ele vai produzir uma "perícia psiquiátrica" que será anexada ao inquérito policial sobre os crimes.
"Ele tinha uma doença psíquica que o levou a cometer os crimes. Pessoas normais não fazem o que ele fez", diz Palomba.
Segundo investigações da Polícia Civil, o estudante de 13 anos usou a pistola .40 da mãe para executar os pais, que eram policiais militares, a avó materna e a tia-avó, e se matar depois. Todos morreram baleados na cabeça com tiros à queima-roupa.
O psiquiatra Guido Palomba fará uma “perícia psiquiátrica forense” sobre a saúde mental de Marcelo à época dos crimes. Para isso, teve acesso aos quase 50 depoimentos de testemunhas que conviveram com as vítimas e com o investigado. Ele também irá requisitar os resultados das perícias da Polícia Técnico-Científica.
Em entrevista nesta segunda-feira (2) ao G1, o psiquiatra, que analisou mais de 1.300 casos em 40 anos de carreira, falou que está fazendo uma “perícia póstuma retrospectiva” de Marcelo. Ele não adiantou, no entanto, qual foi a doença mental diagnosticada no caso do estudante.
“Eu tenho determinada suspeita, mas não posso adiantar porque quero confirmar e recolher mais dados”, alegou Palomba, que disse ter encontrado, porém, a motivação para todas as mortes. “Ele tinha uma doença psíquica que o levou a cometer os crimes. A princípio chego a essa conclusão que o que ele tinha era doença. Pessoas normais não fazem o que ele fez”.
Procurado pela equipe de reportagem para comentar o assunto, o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), falou que “é muito raro uma doença psíquica levar alguém a cometer crimes, mas pode acontecer”.
Palomba afirmou estar convencido de que Marcelo cometeu os crimes a partir da investigação feita pelo Departamento de Homicídios e de Proteção è Pessoa (DHPP). Foram mortos o sargento das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Luís Marcelo Pesseghini, de 40 anos, da cabo Andreia Bovo Pesseghini, de 36, da avó materna Benedita de Oliveira Bovo, 67, da tia-avó Bernadete Oliveira da Silva, 55. Depois da chacina, Marcelo se matou, de acordo com a polícia.
Do ponto de vista clínico, Palomba comentou que Marcelo sofria de uma “psicopatologia”. “Psicopatologia não é o nome da doença. Psicopatologia é uma anormalidade psíquica, Ele sofria de algum transtorno mental, por exemplo: alucinação, delírio, depressão grave, distúrbio de memória, etc”, afirmou.
Palomba disse que nas próximas semanas dirá o nome, causa e sintomas da doença que acometeu Marcelo.
“No caso do Marcelo é incompreensível psicologicamente o que ele fez. Só é possível entender se der uma pitada de psicopatológica: de doença, anormalidade e transtorno mental”, disse o psiquiatra, que teve informações de que os pais do suspeito jamais perceberam a doença. “Eles não perceberam porque não dava para perceber”.
Doença e game
Entre outros motivos que estavam sendo investigados pela polícia para tentar saber o que poderia ter levado um garoto aparentemente normal a matar a família e se suicidar estão a doença que sofria - fibrose cística - e o uso de games violentos.
A médica que cuidava de Marcelo, Neiva Damaceno, já descartou, porém, a chance de os remédios contra a fibrose terem alterado seu comportamento a ponto de levá-lo a cometer os crimes.
Marcelo tomava insulina para controlar a diabetes. A fibrose cística é uma doença genética que afeta o funcionamento de secreções do corpo, levando a problemas nos pulmões e no sistema digestivo. Ela não tem cura e pode levar à morte precoce.
Um mês antes da tragédia em família, o adolescente havia mudado sua foto nas redes sociais na internet - ele colocou a imagem de um personagem de "Assassin´s Creed" na sua página pessoal do Facebook. No dia 8 deste mês, a desenvolvedora de games Ubisoft, criadora do jogo, divulgou nota de repúdio à ligação feita entre o jogo e o assassinato da família Pesseghini. Recentemente, o criador do game lamentou a tragédia.
Alguns dos depoimentos prestados ao DHPP têm declarações consideradas importantes para apontar Marcelo como o único suspeito pela chacina. Disseram, entre outras coisas, que o adolescente planejava matar seus parentes, fugir de casa e se tornar um assassino profissional, um ‘matador de aluguel’. A inspiração teria vindo do game. Colegas de escola relataram que Marcelo chegou a criar um grupo, ‘Os Mercenários’, baseado no jogo, e passou a usar um capuz. O menino também comentava com eles que se sentia sozinho mesmo na presença dos pais.
Um PM da Rota afirmou que o menino já tinha ameaçado matar a mãe durante uma discussão. Outro amigo contou que ele quis acertar uma flechada na avó, mas não conseguiu. Após o crime, o estudante revelou aos amigos que finalmente havia conseguido matar a família. Como pensaram se tratar de brincadeira não o levaram a sério.
Laudos e crimes
A Polícia Civil de São Paulo aguarda os resultados dos laudos da Polícia Técnico-Científica para poder concluir o inquérito sobre o caso Pesseghini. A expectativa do DHPP é que os exames fiquem prontos ainda nesta semana e depois sejam entregues para a investigação.
De acordo com policiais e peritos que investigam a chacina, os testes feitos pelo Instituto de Criminalística (IC) e pelo Instituto Médico-Legal (IML) deverão confirmar a principal versão que está sendo apresentada pelo DHPP para explicar os crimes. Para os investigadores, Marcelo é o assassino e suicida do caso.
Os laudos periciais deverão apontar que as mortes foram cometidas entre a madrugada e a tarde do dia 5 de agosto em duas casas onde a família morava na Brasilândia, na Zona Norte da capital.
“Estamos no aguardo dos laudos para poder relatar o caso e concluir o inquérito”, disse o delegado Itagiba Franco, do DHPP.
Procurada para comentar o assunto, a superintendente da Polícia Técnico-Científica, Norma Sueli Bonaccorso, afirmou que “os laudos serão entregues e depois haverá uma coletiva com a imprensa para falar das conclusões do caso”. Segundo a perita, ainda não há uma data prevista para a entrega dos documentos.
Os laudos deverão sair lacrados da perícia e deverão seguir primeiramente para o gabinete do secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira.
Entre os exames técnicos que serão apresentados estão os laudos necroscópicos que poderão determinar os horários e sequência das mortes no dia 5. Marcelo teria matado primeiro os pais num dos imóveis e depois a avó materna e a tia-avó na outra residência.
A reconstituição acústica poderá indicar que os disparos foram dados entre 0h20 e 0h30. Em outras palavras, Marcelo teria matado a família em dez minutos. Ao todo, seis disparos foram feitos. Um tiro foi encontrado na parede do quarto da tia-avó. E a perícia constatou que Marcelo disparou o tiro porque a tia acordou depois que ouviu disparo que matou a avó. O garoto se assustou e deu dois tiros: um que matou Bernardete e outro que pegou na parede.
Psiquiatra Guido Palomba diz que doença psiquica
levou Marcelo a cometer crimes
(Reprodução/ Globo News)
IML e IC
Exames do IML não detectaram substâncias químicas nas vítimas que poderiam ter sido usadas para dopá-las.
Análises feitas pelo IC nas câmeras de segurança mostram ainda que o garoto ir para a escola horas depois do crime. Para a investigação, ele pegou o carro da mãe, o estacionou perto do Colégio Stella Rodrigues, e dormiu no veículo até o horário de entrada na escola. Em seguida, assistiu as aulas e comentou, segundo o depoimento dos colegas, que havia matado a família. Depois voltou para a casa de carona com o pai de um amigo. Lá, teria se matado com um tiro na cabeça.
Os corpos foram encontrados por um colega de Andreia, que é PM e estava de folga no dia do crime, e pelo filho de Bernadete. O policial queria saber porque a mulher não havia ido trabalhar e o rapaz buscava informações sobre a mãe, que não atendia seus telefonemas.
A perícia também analisa o computador da família Pesseghini. Ela quer saber se há mais informações sobre o que Marcelo acessava na internet ou o que escrevia a respeito do grupo ‘Os Mercenários’. Segundo os colegas do suspeito, o estudante também tinha uma lista com mais pessoas que teriam de ser mortas, inclusive uma professora.
Os investigadores devem ter acesso essa semana aos documentos da quebra do sigilo telefônico da família, o que pode ajudar a polícia a determinar quem mais deve ser ouvido sobre o caso.
O que deve acontecer
Assim que o DHPP receber os laudos, deverá relatar o inquérito à Justiça. O Ministério Público também deverá se manifestar. Como o assassino se matou, a Promotoria poderá sugerir que o caso seja arquivado. Para outros parentes da família Pesseghini, Marcelo não matou os pais, a avó e a tia-avó.
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