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Ciência
Segunda - 05 de Maio de 2014 às 16:07
Por: *JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS

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Como explicar que um câncer, na maioria das vezes curável, é o que mais mata as mulheres no Brasil? A nova série do doutor Drauzio Varella no Fantástico é sobre câncer de mama e leva o título de um desabafo feito por uma pessoa cuja rotina estamos acompanhando há seis meses: é uma pedra, no caminho. E o primeiro episódio trata de um momento angustiante: a hora do diagnóstico. É como se você estivesse à espera de uma sentença.


“A gente não entende muito bem certas coisas que acontecem na vida da gente. Uma pedra no caminho. Eu estou com uma pedra no caminho, uma pedra que está me fazendo parar um pouco. E eu não gosto disso, eu não estou gostando dessa pedra”, conta Fabricia.

Em São Paulo vivem 6 milhões de mulheres. Muitas delas já receberam e outras um dia receberão a notícia de que têm câncer de mama. Felizmente, é um tipo de tumor curável, na maioria das vezes. Mas é, também, o que causa mais mortes entre as mulheres. Nosso desafio nesta série é entender por que uma doença tão curável é capaz causar tanto sofrimento.

Existem, no Brasil, 5 mil mamógrafos. Metade deles atende à população do SUS. Apesar desse número, muitas mulheres enfrentam uma longa espera pela mamografia. Fabricia demorou quatro meses.

A espera não é por falta de mamógrafos. O Ministério da Saúde recomenda um aparelho para cada 240 mil habitantes. Portanto, para 200 milhões de brasileiros, 800 mamógrafos seriam suficientes.

“A distribuição dos mamógrafos é muito diferente e heterogênea. Eles se concentram principalmente no Sul e no Sudeste. Outro problema são aqueles mamógrafos que, quando ela chega lá, estão em desuso: ou porque estavam estragados, ou por falta de manutenção, ou porque não chegaram nem a ser abertos e instalados”, explica Linei Urban, coordenadora da comissão de mamografia do Colégio Brasileiro de Radiografia.

Mas além da dificuldade de conseguir a mamografia, há outro problema muito sério que é a qualidade técnica dos exames. “Se não pegar todas as regiões da mama, não forem incluídas no filme, a gente pode errar e não achar o tumor”, explica a médica radiologista Vera Aguillar.

Os mamógrafos modernos empregam a tecnologia digital. As imagens são mais nítidas. Infelizmente, existem poucos no Brasil. Os convencionais são como as máquinas fotográficas antigas, dependem de filmes que precisam ser revelados. Revelações mal feitas, filmes de má qualidade, técnicos mal treinados e aparelhos desregulados produzem imagens borradas que podem esconder tumores, como aconteceu com a Fabricia.

Mamografia com resultado normal, quando existe um nódulo maligno, que não foi visto, é o pior que pode acontecer. Essa é uma das razões pelas quais um câncer tão curável ainda provoca tantas mortes. É uma doença que não espera, cresce silenciosamente e vira a vida do avesso.

Mulheres com menos de 40 anos, como Fabricia, costumam ter as mamas mais densas, com tecido mais espesso e pouca gordura. Essa densidade atrapalha, muitas vezes são necessários outros exames. A médica do posto de saúde pediu também uma ultrassonografia para ela.

“Porém essa ultrassonografia é lá em Barueri. A gente tem que aguardar uma carta informando a data, o local e o horário onde será realizado o exame. Até então, eu fiquei o ano de 2013 aguardando essa carta e eu nunca recebi”, ela conta.

“O ultrassom hoje realmente é o gargalo porque é um exame que exige o médico. Um bom exame de mama leva 20 minutos e hoje nós não temos médicos suficientes para fazer ultrassom em todas as mamas densas”, explica a doutora Vera Aguillar.

Na cidade de São Paulo, pelo menos 6 mil mulheres aguardam para fazer um ultrassom.

“O tumor cresce, duplica, em média, a cada três, quatro meses. Um tumor numa fase inicial é evidente que para passar de duas para quatro células não faz muita diferença, mas a hora que ele atinge um centímetro, um centímetro e meio, o crescimento do tumor é exponencial. Então, em três, quatro meses, passar de um centímetro para dois centímetros é grave. De dois para quatro mais ainda”, destaca o médico mastologista Alfredo Barros.

Depois de sete meses, Fabricia resolveu fazer o exame em uma clínica particular. “A médica falou assim: ‘é um nódulo, e esse nódulo não parece ser bonzinho’. Aí eu já fiquei muito, mas muito assustada mesmo”, ela conta.

Com uma agulha, a médica retira pequenos fragmentos do tumor. Cada pedacinho contém milhões de células que são analisadas no microscópio. De acordo com a aparência e estrutura dessas células, é possível saber se são malignas. A biópsia é o único método para identificar se o nódulo é benigno ou maligno. Se for benigno, na maior parte das vezes, é feita uma pequena cirurgia de remoção, sem maiores consequências. Se for maligno, é câncer de mama.

“Acho que esse processo de espera que é terrível na vida de qualquer pessoa. Está uma confusão tão grande dentro de mim que, às vezes, eu nem consigo me olhar direito. Parece que não sou eu. Parece que não sou eu que estou vivendo isso”, ela desabafa.

O resultado da biópsia de Fabricia confirmou o câncer de mama. E a partir de agora você acompanha a luta dela e de outras mulheres contra a doença.





Fonte: DO G1

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