'Infestação de baianos e goianos traria fome', diz prefeito no RS
Declarações do prefeito de Carlos Barbosa, na Serra do Rio Grande do Sul, são motivo de polêmica. Ao abordar o tema da migração para o município, atualmente em 1º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese) do estado, Fernando Xavier da Silva (PDT) disse que uma "infestação de baianos e goianos" poderia trazer "fome" para a cidade com menos de 27 mil habitantes.
As declarações do prefeito foram dadas no dia 31 de março, durante uma solenidade de apresentação da Festiqueijo 2014, o festival gastronômico do município, e publicadas pelo Jornal Contexto, de Carlos Barbosa.
Procurado pelo G1, o prefeito relatou inicialmente que “não disse isso”, mas em seguida ponderou que não lembrava das afirmações. “O que mais me deixa chateado é que eu não lembro o que eu falei. Se eu disse uma bobagem dessas, não me lembro de ter dito isso em forma de preconceito. Temos quantidades enormes (de migrantes). Acho que tem repercussão por tudo aquilo que aconteceu com o juiz (Márcio Chagas, alvo de racismo em uma partida do Campeonato Gaúcho, em Bento Gonçalves, também na Serra), que tem acontecido. Posso ter errado”, disse Silva.
Segundo o prefeito, as declarações dele foram mal-interpretadas. Fernando Xavier da Silva disse que não pretendia fazer propaganda da qualidade de vida de Carlos Barbosa para não atrair uma população maior que a cidade teria condições de suportar. "Não vamos fazer propaganda para evitar que de repente as pessoas se empolguem e venham todas de uma vez. Deixar que elas venham naturalmente. Disse para eles terem cuidado de não instigar as pessoas de fora para morar aqui”, detalhou.
Ao admitir que “pode ter dito algo errado”, Silva negou ser preconceituoso. “Não tenho preconceito contra nada. Não sou um sujeito que tenho curso superior, não sou muito letrado, até posso ter dito alguma coisa errada. Mas qual a razão de criar uma polêmica dessas? Aqui há um custo de vida muito alto, não queremos que as pessoas venham aqui para sofrer”, explicou.
Segundo a Prefeitura, Fernando Xavier da Silva é o único prefeito que foi reeleito na história de Carlos Barbosa. Ele também é considerado o político que mais vezes governou o município, com quatro mandatos. (1993/1996, 2001/2004, 2009/2012, 2013/2016).
Confira a declaração do prefeito ao jornal Contexto, publicada no dia 5 de abril
"O que falar de uma cidade como a nossa, que não tem desemprego, limpa, que tem atendido uma série de necessidades básicas? Não temos favela, invasão, gente morando embaixo de lona, de madeirite. Mas temos que ter cuidado ao falar sobre isto. Se colocarmos que aqui só tem coisas boas, as pessoas pensam: 'vou para lá!' Botam a mudança em um caminhão, e vamos ver todas as coisas que não queremos. É importante dizer que, para vir pra cá, precisa ter profissão, estudo. Que o custo de vida aqui não é barato. Me parece que as pessoas que fizeram a mudança aqui eram baianos e goianos... não queremos isso para o município. Se vier uma infestação aqui de baianos e goianos, vai começar a ter fome, vão ter que invadir algum lugar... e passamos a ter problemas no futuro e quem sabe a nossa tranquilidade e qualidade de vida comecem a cair".
Em Caxias do Sul, vereador também causou polêmica
Em Caxias do Sul, na mesma região de Carlos Barbosa, outra figura pública depertou polêmica no mês passado ao abordar o tema migração. Em sessão na terça-feira (18) para discutir os casos de racismo ocorridos na cidade, Flávio Dias (PTB) disse ser contra a ida de senegaleses e haitianos para o município.
“Eu não gostei nada desse pessoal vir para cá. Não vieram trazer benefício para o Brasil coisa nenhuma. Vieram trazer mais pobreza. Então eu não sou favorável a esses caras aqui, de jeito nenhum. O pessoal daqui precisa de muito apoio também e não tem”, afirmou Dias ao subir na tribuna da Casa.
Dias depois, o vereador usou o microfone na Câmara para dar explicações sobre o dia anterior e afirmou que não tem preconceito nem raiva dos imigrantes. Segundo ele, a declaração tinha como objetivo ressaltar o fato de a cidade não ter a estrutura necessária para receber um número elevado de imigrantes, o que poderia agravar problemas sociais.
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