Rússia retira progressivamente as tropas da fronteira com a Ucrânia
A Rússia "retira progressivamente" suas tropas posicionadas na fronteira com a Ucrânia, afirmou à AFP o porta-voz do ministério ucraniano da Defesa, que temia uma invasão do leste do país após a perda da Crimeia.
A presença dos soldados era vista como um indício de uma possível invasão do leste do país, em grande parte de língua russa, após a perda da Crimeia, ao sul, para onde o primeiro-ministro russo Dmitri Medvdev viajou nesta segunda-feira.
"As forças russas se retiram progressivamente da fronteira", afirmou o porta-voz Olexii Dimitrashkivski. "Talvez tenha ligação com a necessidade de assegurar um rodízio. A outra hipótese é que estaria relacionada com as negociações entre Rússia e Estados Unidos" domingo à noite em Paris, considerou.
A reunião, em caráter de urgência, entre os chefes da diplomacia russa Sergue Lavrov e americana John Kerry foi decidida sexta-feira à noite durante um telefonema entre Vladimir Putin e Barack Obama, que concordaram sobre a necessidade de negociações a fim de encontrar uma solução para a crise.
Antes do encontro, o ministro russo afirmou que Moscou não tinha "a intenção nem o interesse" de atravessar a fronteira da Ucrânia, o que fez crer numa vontade de acabar com esta confrontação, sem precedentes desde o fim da Guerra Fria entre Moscou e o Ocidente.
Mas após quatro horas de discussões, os dois homens constataram as posições divergentes sobre a crise ucraniana, mas aceitaram continuar a discutir o tema para chegar a um acerto diplomático.
"Manifestamos posições divergentes sobre as razões da crise ucraniana. Entretanto, estamos de acordo sobre a necessidade de encontrar pontos de acordo para chegar a um acerto diplomático dessa crise', declarou Lavrov no domingo.
O chefe da diplomacia russa prosseguiu com seus contatos diplomáticos nesta segunda-feira com seu colega francês Laurent Fabius, que segundo o Quai d'Orsay ressaltou "a urgência de uma solução diplomática".
O ministro francês deve, no início da tarde, viajar para Berlim, onde encontrará seus colegas alemão, Frank-Walter Steinmeier, e polonês, Radoslaw Sikorski.
Uma invasão menos provável
Por sua vez, o americano John Kerry insistiu na necessidade de se consultar Kiev sobre qualquer decisão que diga respeito ao país, em referência à ideia apresentada por Moscou de uma solução de "federalização" da Ucrânia, dando margem a uma autonomia às regiões de língua russa no leste desta ex-república soviética.
"Não aceitaremos um processo, no qual o governo legítimo da Ucrânia não se sente à mesa (de negociações). Não haverá decisões sobre a Ucrânia sem a Ucrânia", declarou Kerry à imprensa.
O secretário de Estado americano também reiterou o apelo de Washington para a retirada das forças russas na fronteira da Ucrânia, uma pré-condição para qualquer solução.
Na quinta-feira, o presidente do Conselho de Segurança Nacional da Ucrânia, Andrei Parubei, afirmou que Moscou havia mobilizado 100.000 soldados ao longo da fronteira com a Ucrânia, enquanto que o governo dos Estados Unidos mencionou a presença de 20 mil homens.
Moscou negou ter enviado tropas à fronteira e alegou que recentes inspeções internacionais não destacaram nenhuma atividade militar fora do comum. O Kremlin acusou os países ocidentais de má-fé.
O porta-voz do ministério ucraniano da Defesa não soube precisar quantos homens estão atualmente nas regiões de fronteira.
O especialista militar Dmytro Tymchuk estimou em 10 mil os efetivos ainda estacionados. "A probabilidade de uma invasão diminuiu consideravelmente", considerou em seu blog.
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