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Economia
Segunda - 31 de Março de 2014 às 16:16

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O forte crescimento da economia do país no período conhecido como milagre econômico, ocorrido no final dos anos 1960 e início dos 1970, durante a ditadura militar, ganhou destaque graças aos índices de crescimento obtidos pelo Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, a riqueza gerada não foi distribuída igualmente entre os setores da economia. Para aqueles que viviam de salário mínimo, por exemplo, o período representou um retrocesso.

“Nos anos 60 e 70, houve uma retomada do investimento público em infraestrutura, apoio ao processo de industrialização, combinado muitas vezes com restrições ao crescimento do salário, especialmente do salário mínimo. Portanto, um contingenciamento do crescimento de base na economia, favorecendo uma formação de preços sem pressão de custo de salário”, destaca o diretor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1960, 20% dos brasileiros mais pobres detinham 3,9% do total da renda nacional. Vinte anos depois, em 1980, 20% da população mais pobre concentravam apenas 2,8% da renda produzida no país.

“O período do milagre econômico é um período de forte concentração de renda, tanto é que nesse período você tem a famosa frase que se atribui ao Delfim [Netto, ex-ministro da Fazenda] de que é preciso crescer para depois distribuir. Mas nós só conseguimos desconcentrar a renda a partir de meados do ano 2000”, destaca Clemente.

Segundo o professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Ordem dos Economistas do Brasil (OEB), Manuel Enriquez Garcia, as reformas econômicas feitas nos primeiros anos da ditadura militar, nos anos de 1964 a 1968, foram os principais fatores para a criação de um ambiente favorável ao chamado milagre econômico, nos anos de 1968 a 1973.

“Foi a única ocasião em que se realizaram reformas de peso, do ponto de vista econômico. Reformas importantíssimas. Foi criado o Banco Central, a lei que gere todo o Banco Central e o Sistema Financeiro Nacional. Foi criado todo o mercado de capitais, todo o sistema tributário”, relata.

No entanto, em 1974, após o chamado milagre econômico, o salário mínimo tinha a metade do poder de compra de 1960. Em contrapartida, nos anos do milagre (1968 a 1973), a taxa de crescimento econômico ficou em torno de 10%, com picos de 14%. A indústria de transformação cresceu quase 25%. Entre 1965 e 1974, o salário mínimo manteve, no entanto, na média anual, apenas 69% do poder aquisitivo de 1940.

“Na verdade, houve um aumento da receita do Estado, um aumento da receita do capital e uma queda na receita do trabalho”, destaca o diretor do Dieese.

“Houve, muitas vezes, críticas de que teria havido uma concentração de renda por conta da política salarial. Mas o fato é que os setores de bens duráveis - geladeiras, televisores - cresceram muito. E os setores de bem de capital - máquinas e equipamentos - e de bens intermediários cresceram muito também. Isso acabou criando um mercado interno muito forte, que ajudou muito o crescimento econômico”, ressalva o professor da USP.

O país ficava mais rico, mas boa parte da população não era beneficiada na mesma proporção. De acordo com o professor, a política salarial do regime procurava não dar aumentos salariais acima dos ganhos de produtividade. Apenas recompunha as taxas de inflação passadas. À classe trabalhadora, por exemplo, restaram poucas oportunidades.

“Só alguns setores, em função da falta de mão de obra mais especializada, passaram a pagar salários bem acima da taxa de inflação. Mas foi pela necessidade imperiosa do setor industrial em demandar uma mão de obra mais qualificada.”

Além da concentração de renda, o país passou a enfrentar problemas com o choque do petróleo, em 1973. “Os problemas começaram a surgir, ligados à dívida pública do ponto de vista interno e do ponto de vista externo”, ressalta o professor da USP.

Terminado o ciclo do milagre, a economia do país ingressa nos anos 1980 e 1990 profundamente debilitada para conduzir qualquer estratégia de investimento, o que agrava a capacidade de crescimento.

“A debilidade de estado era sempre fragilizada pelas crises internacionais, todas elas fragilizavam a nossa economia. As contas públicas eram prejudicadas pelo déficit que nós tínhamos em conta corrente, pelo valor de nossa dívida externa”, destaca Clemente.






Fonte: Agência Brasil

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