Defensor de Roger Pinto Molina levava papéis para processo de refúgio. Senador fugiu da embaixada brasileira em agosto com ajuda de diplomata.
Advogado de senador boliviano é retido ao embarcar para o Brasil
Molina deixou no mês passado a embaixada do Brasil em La Paz, na Bolívia, onde estava asilado, sem autorização do governo boliviano. A operação de fuga que trouxe o opositor do governador do presidente Evo Morales ao país foi organizada pelo diplomata Eduardo Saboia e culminou na demissão do então ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.
O senador boliviano responde a cerca de 20 processos, quatro por corrupção, e foi condenado pela justiça boliviana. Pinto Molina se diz perseguido político do governo Morales e vivia como asilado na embaixada brasileira havia mais de um ano.
Segundo o advogado Fernando Tibúrcio, responsável pela defesa de Molina no Brasil, o advogado boliviano retido pelas autoridades policiais transportava documentos que seriam utilizados no pedido de refúgio político no Conselho Nacional de Refugiados (Conare), órgão vinculado ao Ministério da Justiça.
Tibúrcio conversou por telefone com o colega boliviano nesta quinta. Ele relatou ao G1 que Luís Vásquez foi abordado por policiais da Bolívia ao chegar no aeroporto de Santa Cruz de la Sierra. O jurista pretendia embarcar em um voo da Gol para São Paulo, onde faria uma conexão para Brasília.
Vásquez foi mantido no aeroporto para averiguações das 9h às 15h (10h às 16h em Brasília) desta quarta. Em razão da retenção, acabou perdendo o voo para o Brasil e retornou para La Paz assim que foi liberado pelos policiais.
De acordo com Tibúrcio, a polícia boliviana pediu para o advogado abrir as malas que transportava. Em seguida, contou o defensor de Molina, os policiais cortaram forros da mala e trouxeram cães farejadores para inspecionar a bagagem. Vásquez disse ao colega do Brasil que, em diversas ocasiões, a polícia tentou tirar as malas de perto dele. O ex-ministro, contudo, impediu que a bagagem fosse afastada dele para evitar que fossem colocados objetos que não pertenciam a ele.
No entanto, disse Tibúrcio, os policiais da Bolívia confiscaram temporariamente os documentos que o advogado trazia ao país. Após fazerem cópias do material, o devolveram ao jurista boliviano.
Tibúrcio afirma que entre os papéis que o advogado transportava ao Brasil estavam documentos que comprovariam as denúncias de Roger Molina de que integrantes do governo Evo Morales têm ligações com narcotraficantes. O senador da Bolívia alega que foi devido a essas denúncias que passou a ser perseguido pelo regime boliviano.
“Nessas informações que ele [Vásquez] trazia tinham dados que detalham mais esses fatos [denúncias envolvendo autoridades bolivianas]. Tinham nomes de pessoas. O governo boliviano teve acesso a isso. Falar de narcotráfico é perigoso. Com essa retenção arbitrária, as informações se tornaram do conhecimento do governo [da Bolívia]”, ressaltou Tibúrcio.
Mensageiro
Devido ao episódio no aeroporto boliviano, o advogado Luís Vásquez informou à defesa brasileira de Pinto Molina de que desistiu de viajar ao Brasil. Ele decidiu enviar os documentos por meio de um mensageiro. “Ele [Vásquez], obviamente, ficou extremamente preocupado com essa situação”, ressaltou Tibúrcio.
O defensor brasileiro disse ainda que o parlamentar da Bolívia ficou “muito preocupado” com sua “situação de segurança”. “Preocupação da politização excessiva deste caso. Tudo que ele [Molina] quer é ter um ambiente tranquilo, para que seja julgado dentro da lei”, observou.
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