“Fazia piada e ninguém ria”, diz ator acostumado a papéis dramáticos
Leonardo Medeiros já está acostumado com a alta carga dramática de seus personagens na tevê. No ar em Em Família como Fernando, o ator encontra, mais uma vez, um papel marcado pela densidade e seriedade. Na atual trama das nove, o advogado sofre com a obsessão de sua mulher Juliana, interpretada por Vanessa Gerbelli, em ter um filho. "Por ser advogado, o tempo todo ele tenta alertá-la sobre as questões legais do processo de adoção. Acho educativo mostrar esse lado do processo", valoriza. Empolgado com sua primeira novela de Manoel Carlos, Leonardo diz que é preciso ler com cuidado os textos escritos pelo autor. "É tudo muito psicológico. É um texto que você tem de entender por dentro", garante. Se é a primeira vez com Maneco, Leonardo comemora o reencontro com o diretor Jayme Monjardim, com quem trabalhou em A Vida da Gente, exibida em 2011. "Quando a gente trabalha muito, perde o senso crítico. E aí é fundamental trabalhar com um cara como ele, premeditado", valoriza.
Com um olhar agradecido pelo trabalho, Leonardo conta que, por causa de seu contrato de exclusividade com a Globo, já teve de recusar alguns projetos no cinema, onde também tem uma carreira expressiva. "Tenho muito respeito pelo fato de terem me contratado. É uma deferência que preciso devolver. Não brigo com quem me trata bem", diz. Para ele, até os conhecidos problemas que a tevê enfrenta, como, por exemplo, a pouca frente com que os atores recebem os capítulos, é vista com bons olhos. "Adoro trabalhar com isso. Isso torna o ator muito ágil e é muito atraente. Você recebe, tem pouco tempo para se preparar e já é jogado lá para fazer", conta, animado.
A sua carreira, principalmente na tevê, é marcada por personagens densos. Isso chegou a incomodar alguma vez?
Adoraria ser comediante, mas não tem jeito. Acho que minha índole é assim, densa. Teve uma época que me incomodou porque as pessoas me levavam muito a sério. Fazia piadas e ninguém ria, ficavam esperando um sentido maior por trás do que eu tinha falado. As pessoas têm essa ideia ao meu respeito. Acham que eu sou um cara durão, solitário...
E você é?
Todo mundo acha isso. Tenho que achar também (risos). Mas tem um lado bom nessa coisa toda: os diretores e as pessoas responsáveis por escolher o elenco são as que mais me veem assim. E eu correspondo bem a esse tipo de personagem.
Alguma vez já tentou fugir desse estereótipo?
Já tentei muito. Mas agora não mais, já acostumei. Hoje em dia, sou até tranquilo em relação a isso. É um diferencial que tenho, poucos caras na tevê têm esse perfil. Mas tento quebrar um pouco todos esses personagens. Até para eles não ficarem muito duros. Sempre coloco um pouco de humor, um pouco de afeto, um pouco mais de coração... E, assim, consigo chegar no meio termo do que querem de mim e do que eu espero do personagem.
Você começou sua carreira como diretor de teatro. Como se tornou ator?
Sempre fui artista, desde garoto. Era ligado à pintura, fotografia, desenho, teatro, música... Fazia teatro amador, tinha uma banda. Na adolescência, o teatro me encantou e logo quis dirigir. Acho que o diretor é o grande artista. Muitas vezes, o ator só obedece. Me dediquei à direção, mas sempre subia no palco para fazer umas pontas. Quando de repente eu vi, já era ator. Era convidado para fazer personagens e não só pontas. Aí, não tinha mais volta, virei ator.
Nunca surgiu a vontade de expandir o leque e passar a dirigir produtos para a tevê e cinema também?
Na tevê, o trabalho do diretor é muito desgastante. Ele tem de ser meio produtor, que é uma coisa que eu não gosto. Tem de atender demandas de audiência, é uma pressão muito grande e eu não sei como lidaria com isso. A tevê é uma indústria, o teatro é artesanal. A tevê tem muito dinheiro envolvido; o teatro, a gente faz para a gente mesmo. Já o cinema é um processo muito burocrático. Além disso, é um sistema precário. Mas, apesar de tudo, tenho muita vontade de dirigir teatro. Tevê, não.
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