Lagarta pode causar perda de até R$ 800 mi em São Paulo

As cooperativas do Estado de São Paulo calculam que podem deixar de ganhar entre R$ 500 milhões e R$ 800 milhões neste ano por causa do ataque da lagarta Helicoverpa armígera, que já levou outras regiões do País a decretarem estado de emergência fitossanitária. No estado, a presença da praga ainda não foi reconhecida pelos órgãos oficiais, mas um estudo da Unicamp identificou a presença da Helicoverpa em 98% das amostras coletadas em janeiro. Além disso, cooperativas e produtores independentes também relatam que tiveram problemas para controlar a lagarta durante o plantio, no semestre passado.

As lagartas foram encontradas em lavouras de soja, feijão, algodão, segundo Flávia Sarto, consultora de agronomia do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), que contratou o estudo junto à Unicamp. No início do levantamento, acreditava-se que as perdas seriam maiores. Porém, o clima seco de dezembro e janeiro intimidou a lagarta, que passou a ser menos observada nas últimas semanas. "Antes acreditávamos que seriam 60% de perda, mas hoje acho que vai dar no máximo 40%", argumenta a técnica, que utilizou como base para avaliar os prejuízos o Valor Bruto de Produção das três culturas em 2012.

Segundo Sarto, as plantações de cana-de-açúcar escaparam da lagarta por causa de outra praga, a cigarrinha, que embora seja um problema para a produtividade da lavoura sucroalcooleira, é um inimigo natural da Helicoverpa.

As amostras foram coletadas pela Unicamp, que realizou uma análise do DNA para confirmar a espécie. Em seguida, outra coleta foi feita pelo Instituto Biológico, cadastrado pelo Ministério da Agricultura para dar diagnóstico fitossanitário, que realizou uma análise morfológica e não identificou a Helicoverpa armígera. Porém, a Secretaria estadual de Agricultura informou em nota que "o fato da espécie não ter sido detectada oficialmente não significa que a praga não esteja presente no estado".

Em Paranapanema, a Cooperativa Agro Industrial Holambra tem observado a presença da Helicoverpa nos 50 milhões de hectares ligados à associação há dois anos. Na safra 2012/2013, os cooperados perderam R$ 4 mil por hectare na cultura do algodão, a mais atingida pela praga. Na soja, o volume colhido caiu 20%. Depois das perdas, a cooperativa decidiu realizar medidas de controle, que incluíram desde a adoção do algodão transgênico resistente à lagarta em todas as lavouras até controle químico e biológico.

"Na cultura de algodão foram feitas em média 18 aplicações na safra, normalmente são cinco", conta o presidente da cooperativa, Simon Veldt. Com isso, o custo de produção da pluma subiu de R$ 5 mil para R$ 6 mil por hectare. Nas plantações de soja e feijão, o cuidado também aumentou e os custos subiram de R$ 3 mil para R$ 3,5 mil o hectare.

Nas lavouras da Cooperativa Agrícola de Cândido Mota (Coopermota), a Helicoverpa foi controlada logo no início do ciclo, mas o problema agora é com a falsa medideira. "Nesse final de ciclo a quantidade foi maior que a Helicoverpa", diz Sandro Amadeu, superintendente da entidade.

Clima adverso

Embora a estiagem tenha espantado a lagarta ao longo do desenvolvimento das plantas, o clima também preocupa os produtores. "Devido à seca, o ciclo da soja está adiantando em 15 dias", conta o produtor Frederik Wolters, de Itararé, na divisa com o Paraná. Nos 200 hectares que ele já colheu, a produtividade está menor que na safra passada: foram tiradas 58 sacas por hectare contra 65 sacas na última colheita.

A estiagem deve castigar mais severamente sua produção de milho, cuja produtividade deve cair 30%, calcula o agricultor.

A redução nos volumes colhidos por Wolters deve reduzir sua margem, já achatada pelo aumento dos custos de produção nesta safra por causa do controle da Helicoverpa. Ele dobrou a quantidade de aplicações de produtos químicos e também utilizou controle biológico. "Esse ano gastei R$ 600 a mais por hectare."