"FANTÁSTICO"
“Se fosse só um estalinho, acho que seria covarde", diz ator É uma quebra de tabu', diz Walcyr Carrasco
"Em Família" chega para substituir uma novela que mexeu com o Brasil. O último capítulo de "Amor à Vida" foi o assunto do fim de semana. A começar pelo beijo...
O Tadeu conversou com os atores Mateus Solano, Thiago Fragoso e também com o autor Walcyr Carrasco. Os três contaram tudo sobre a cena que comoveu pela sensibilidade.
Uma cena comum de família: café da manhã, os filhos vão para a escola, o casal troca palavras de carinho.
Niko: Félix, eu não vivo sem você.
Félix: Eu não vivo sem você, carneirinho.
Era só um beijo, mas acabou sendo mais do que isso.
Thiago Fragoso: As pessoas começaram a gritar antes do próprio beijo.
Mateus Solano: Tem uma hora que ele me dá um beijo no rosto, aí o Niko vai embora e o Félix puxa ele de novo, aí o povo já: "Ih!"
Thiago Fragoso: Na hora que eu boto a mão em volta do pescoço dele, o pessoal começou a gritar, gritar...
Mateus Solano: Foi um gol mesmo.
Walcyr Carrasco: Deram um grito na hora do beijo!
O beijo tão falado foi entre Félix, personagem de Mateus Solano, e o Niko, vivido por Thiago Fragoso. Os dois formaram uma nova família nos capítulos finais da novela.
“O público se apaixonou por esses dois personagens e torceu para que eles fossem felizes, para que eles ficassem juntos. Esse foi o grande passo. O beijo foi uma consequência, e aí que o tabu realmente perdeu importância porque as pessoas já estavam torcendo pela felicidade desses dois”, declara o ator Thiago Fragoso.
“Eu queria fazer uma cena que tivesse lógica dentro da trama, que tivesse motivo para existir. A história daqueles personagens, o Félix e o Niko, pedia esse beijo”, revela Walcyr Carrasco, autor da novela.
“Puxou o tapete de muita gente preconceituosa que acabou gostando do casal e até torcendo pelo tal do beijo, né?”, diz Mateus Solano.
A cena foi mantida em sigilo até o último minuto. “A nossa cena não tinha nenhuma indicação do beijo. Ela acabava e tinha vários asteriscos no final, duas linhas de asteriscos. E era isso”, conta Thiago.
“Eu liguei para o Thiago e falei: ‘Viu os asteriscos?’”, lembra Mateus.
“Na hora me deu um nervoso assim, eu falei: ‘caramba, eu realmente estou fazendo isso, vai acontecer, que legal’”, declara Thiago.
Cada passo foi estudado. Depois da gravação da cena, os atores e a equipe comemoraram.
“Foi muito pensado como a gente poderia fazer aquilo de forma afetuosa, de forma carinhosa”, diz Thiago.
“Se fosse só um estalinho, acho que seria covarde. Então foi na medida certa do que o público estava esperando e precisando. E a gente chamou de beijo Tarcísio Meira, porque é um beijo com a boca fechada, mas longo.”, afirma Mateus.
“A gente foi buscar lá atrás na televisão, aquelas coisas mais antigas assim, que são coisas bem plásticas, bem épicas assim, que o pessoal em casa olha e diz ‘own’. Eu e Mateus somos atores muito entregues, então a gente não tem pudor na hora de fazer a cena”, revela Thiago.
“Não tem muito espaço para ‘é estranho’ ou ‘não é’, mas a barba é um incômodo”, diz Mateus.
Durante toda a novela, o Félix enfrentou a rejeição de César, personagem de Antônio Fagundes. O pai não aceitava o filho homossexual.
A reconciliação só veio na última cena. “Primeira vez que o César chama o Felix de filho, ali eu me emocionei. Ali aquela emoção é muito de verdade. Na primeira vez eu soluçava, e o Maurinho dizia: "Mateus, um pouquinho mais de silêncio”, conta Mateus.
“Eu coloquei há meses no roteiro um recado para o Fagundes ‘Fagundes, não chama o Felix de filho’. Porque poderia, assim, na atuação sair, então ‘não chama o Felix de filho’. Mas eu estava guardando o momento do reconhecimento: ‘É meu filho e eu amo meu filho’”, revela Walcyr Carrasco.
“Na verdade acho que esse final é o início de uma nova novela, né? De uma nova relação entre esse pai e esse filho, uma nova família constituída”, diz Mateus Solano.
“Eu acho que é uma quebra de tabu e é um passo à frente para a sociedade brasileira no sentido de a entender que a liberdade do outro é a liberdade do outro, e assim vamos, assim se constrói uma sociedade”, declara Walcyr.
“Assim como na vida não tem um felizes para sempre, né, a vida é uma montanha-russa de altos e baixos, e o importante dessa montanha-russa é a gente sempre estar olhando para dentro e pensando: como eu posso melhorar, como eu posso ultrapassar meus preconceitos”, conclui Mateus.
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