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Internacional
Sábado - 01 de Fevereiro de 2014 às 00:38

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O embate ideológico entre governo e oposição na televisão venezuelana pode estar com os dias contados. Mas o conflito na base chavista pode ter apenas começado. A nomeação de um apresentador de TV "convertido" ao governo como presidente de um dos canais estatais despertou a ira dos chavistas que desaprovam a aproximação do governo Nicolás Maduro com setores da mídia antes identificados com a oposição.

Críticas ao governo ganharam força depois que Maduro nomeou Winston Vallenilla como presidente da Televisora Venezuelana Social (Tves), emissora criada em 2007 em substituição ao canal privado RCTV, considerada à época uma dos principais opositores ao governo.

Naquele ano, o governo do presidente Hugo Chávez decidiu não renovar a concessão aberta da emissora, medida que gerou intensos protestos de rua e transformou a RCTV em um dos principais ícones do antichavismo.

Vallenilla era funcionário da RCTV. Quando o canal perdeu a concessão, o apresentador, considerado uma espécie de "Luciano Huck venezuelano", migrou ao canal Venevisión, onde atua como animador do jogo A Guerra dos Sexos.

A "conversão" de Vallenilla ao chavismo ocorreu no ano passado, logo após a morte do ex-presidente. Desde então, ele se tornou o apresentador oficial da campanha presidencial de Nicolás Maduro.

O pragmatismo adotado pelo governo Maduro, tanto em relação a alguns setores da oposição como a correntes mais conservadoras do partido, preocupa a base chavista.

Para Mariclein Stelling, diretora do Observatório Global de Meios da Venezuela, desde a morte de Chávez e após as recentes mudanças no campo econômico, os chavistas temem que o governo dê uma guinada à direita. "A reação do chavismo em relação ao caso Vallenilla corresponde a esse temor do governo ir rumo à social-democracia", diz.

A ascensão de Vallenilla à esteira governista veio com a indicação de sua candidatura a prefeito do município de Baruta, na grande Caracas, controlado pela oposição. Derrotado nas urnas em dezembro, sua nomeação à frente de Tves é vista por críticos como um prêmio de consolação.

Stelling considera que o governo, de olho em melhorar a audiência do canal estatal, não calculou o impacto político ao nomear um ex-funcionário da RCTV como presidente.

"Vallenilla vem dos canais privados e o governo pensa que, por conhecer o trabalho televisivo por dentro, ele terá condições de desenvolver uma proposta atrativa para a população", acrescentou.

Competitividade

Em entrevista a uma rádio local, Vallenilla disse que pretende transformar a Tves em um canal competitivo como as emissoras Televen e Venevisión - ambas acusadas pelo governo de participação no golpe de Estado contra Chávez em 2002.

"Sem nenhum tipo de tendência política, quero converter a Tves num canal de entretenimento para toda a família, com uma mensagem de alegria e informação", afirmou.

A mensagem, no entanto, não foi bem recebida por ativistas do chavismo. A polêmica gerada pelo caso Tves levou a hashtag #WinstonVallenilla a estar entre os tópicos mais comentados no Twitter venezuelano na terça-feira.

"O chavismo foi crítico do modelo televisivo que pariu Winston: jogos, sexismo, espetáculo vazio. Já se rendeu (ao antigo modelo)", escreveu um internauta identificado como @luiscarlos.

A reação não veio só dos apoiadores do governo. A atriz Erika La Vega, ex- namorada do líder opositor Henrique Capriles, alfinetou Wallenilla no Twitter, pedindo que ele empregasse os artistas que ficaram sem trabalho após o fim da concessao da RCTV.

Winston respondeu oferecendo emprego à atriz, irritando ainda mais os chavistas. "Érika de La Vega, minha vida, te amo. Se precisar de trabalho, será bem-vinda. Mas não há porque continuar motivando a intolerância", respondeu Vallenilla no microblog.

Aproximação

A ascensão de Vallenilla ocorre dias depois de uma reunião entre o governo e as redes de televisão nacionais privadas para tratar do programa de redução da insegurança e do programa de "pacificação" do país. Especula-se que no encontro houve uma espécie de "pacto de moderação".

O escritor e jornalista venezuelano José Roberto Duque afirma que, caso exista um acordo, ele se basearia na seguinte equação: "O Estado cede no discurso radical, coloca figuras 'palatáveis' para a direita, que amenizem o discurso de confronto entre os setores. E os (canais) privados já não bombardeiam (o governo) a ponto de convocar rebeliões civis e militares, como ocorreu há alguns meses. Mas isso não é um fato comprovado."

Na Venezuela polarizada, no entanto, qualquer figura pública que deixa de apoiar a um grupo e passa a defender o adversário cai numa espécie de limbo político. Nem chavistas, nem opositores respeitam os que "pulam o muro". Esse parece ser o destino de Vallenilla. O apresentador tinha tal grau de compromisso com a RCTV que o ex-diretor de redação do canal escreveu uma carta aberta para criticar sua "traição".






Fonte: DO BBC

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