Conheça as profissões 'mais ameaçadas' pela tecnologia Tendência é de que a crescente informatização continue a substituir algumas profissões
Justiça de Cajuru (SP) investiga o envolvimento de quatro pessoas, dentre as quais o ex-prefeito de Santa Cruz da Esperança (SP), Daércio Lopes da Silva (PPS), em uma possível 'armação política' contra o também ex-prefeito da cidade, Jayme Leonel de Assis (PSDB), acusado de pedofilia por uma mulher em 2008, ano em que Assis tentava a reeleição como chefe do Executivo e tinha Silva como concorrente direto ao posto.
De acordo com o Ministério Público, que ofereceu denúncia sobre o caso no fim de 2013, a denunciante Ana Rosa Alves, que trabalhava na campanha eleitoral de Silva na época, admitiu ter recebido dinheiro e uma casa para compactuar com a armação. Segundo o MP, entre 5 e 22 de setembro de 2008, Ana esteve na casa de José Mauro Baltazar, coordenador da campanha de Silva, e recebeu uma proposta para acusar Assis de manter relações sexuais com uma menor desde seus 11 anos.
O tucano perdeu a eleição daquele ano e Silva foi eleito. Em 2012, a própria Ana Rosa resolveu denunciar a armação e, desde então, diz estar sendo perseguida pelos envolvidos.
Investigação
Na denúncia do MP, assinada pelo promotor Guilherme Chaves do Nascimento, consta que Baltazar, na presença de Silva, teria oferecido a Ana Rosa R$ 500 por mês, R$ 10 mil de uma só vez e mais uma casa na Cohab para que ela assinasse os documentos de acusação contra Assis que, posteriormente, foram enviados ao Conselho Tutelar, ao MP e à Polícia Civil.
Além de Ana Rosa, Assis e Baltazar, o quarto denunciado pelo MP é o advogado Homero Tranquilli, que teria orientado Ana Rosa sobre como proceder perante a investigação da Polícia Civil a fim de manter a denúncia caluniosa contra o então prefeito de Santa Cruz da Esperança. De acordo com a Promotoria, Tranquilli também é filho do dono de um jornal que circula na cidade e que publicou em primeira mão a calúnia contra Assis.
IndíciosCargos nas áreas de educação, saúde, arte, mídia, gestão, negócios e finanças são os que têm maior probabilidade de sobreviver aos avanços na tecnologia, aponta estudo da Universidade de Oxford.
A crescente informatização, porém, continuará a eliminar profissões, principalmente aquelas que não exigem habilidades criativas, sociais e percepção espacial mais sofisticada. São atividades em áreas como vendas, produção industrial, suporte administrativo, transporte e construção civil.
Os pesquisadores Carl Benedikt Frey, do Departamento de Filosofia, e Michael A. Osborne, do Departamento de Engenharia, analisaram 702 profissões – retiradas de uma classificação americana - segundo a probabilidade de perdas de postos de trabalho devido aos avanços tecnológicos.
Aplicando fórmulas estatísticas, eles deram notas entre 0 e 1 para essas profissões – quanto maior a classificação, maior o risco de desaparecimento.
A fórmula aplicada levou em conta o quanto essas atividades demandam criatividade, interação social, percepção espacial e atividades manuais complexas.
Profissões com maior probabilidade de serem informatizadas, segundo o estudo
- subscritor de seguros (avaliador de riscos em seguradoras)
- técnicos em matemática
- costureiros manuais
- reparador de relógios
- operadores de telemarketing
São habilidades que ainda não foram incorporadas por computadores e talvez nunca sejam. O atual estágio tecnológico não indica que isso seja possível nas próximas duas décadas, observam os pesquisadores.
"Profissões que exigem habilidades criativas e sociais estão imunes à informatização", disse Osborne, em entrevista à BBC Brasil.
Profissões com menor probabilidade de serem informatizadas, segundo o estudo
- terapeutas recreacionais
-supervisores mecânicos, instaladores e que fazem consertos
- diretores de gerenciamento de emergências
- Assistentes sociais especializados em saúde mental e abuso de drogas
- profissionais de saúde auditiva
O artigo que apresenta a pesquisa explica que a criatividade depende de valores humanos que variam muito no tempo e em diferentes culturas, o que torna difícil reproduzi-los em uma máquina.
Avanço das máquinas
Já as habilidades sociais que não podem, ao menos por enquanto, ser informatizadas incluem a capacidade de perceber a reação das pessoas e entender suas causas, de negociar, reconciliar e persuadir, e de cuidar dos outros, dando suporte emocional e médico.
A limitação atual de computadores e robôs de lidar com formas e espaços não padronizados reduz também as possibilidades de substituição de algumas funções, notam os pesquisadores.
Outras profissões
(com notas entre 0 e 1 – quanto maior a classificação, maior o risco de desaparecimento)
Médicos e cirurgiões 0,004
Dentistas 0,004
Psicólogos 0,004
Nutricionistas 0,004
Analista de sistemas 0,006
Clero 0,008
Antropologistas 0,008
Professores 0,009
Gerente de vendas 0,013
Engenheiros 0,014
Gerente de marketing 0,014
Executivos-chefes 0,015
Compositiores 0,015
Arquitetos 0,018
Cientistas ambientais 0,033
Advogados 0,035
Designers 0,037
Gestores financeiros 0,069
Personal trainers 0,085
Policiais 0,098
Repórteres 0,11
Tradutores 0,38
Historiadores 0,44
Pilotos comerciais 0,55
Trabalhadores de construção 0,88
Taxistas 0,89
Padeiro 0,89
Modelos 0,98
Outros avanços tecnológicos, porém, têm permitido substituir mais atividades humanas por máquinas, detalha o estudo. Antes, a mecanização estava restrita a atividades manuais mais padronizadas. O desenvolvimento de sensores cada vez mais modernos e o aumento da capacidade de armazenamento e processamento de dados estão permitindo, no entanto, que mesmo atividades menos "ensaiadas" possam ser executadas por máquinas.
É o caso por exemplo do carro autônomo desenvolvido pelo Google, que é conduzido por seu próprio sistema, prescindindo do motorista.
Esses avanços tecnológicos também vêm permitindo mecanizar atividades cognitivas, notam os pesquisadores. Oncologistas do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York, já usam tecnologia da IBM para fazer diagnósticos.
Escritórios de advocacia também usam softwares para fazer pesquisas em leis e decisões judiciais antes dos julgamentos, o que reduz a necessidade de pessoal, embora não ponha em risco a existência da profissão que exige, por exemplo, a capacidade de persuadir.
Mais qualificação
Os trabalhos mais ameaçados com a contínua evolução tecnológica são trabalhos de baixa qualificação. Entre eles estão o telemarketing, caixas, e corretores de imóveis. No caso da construção civil, por exemplo, os pesquisadores de Oxford acreditam que o aumento do uso de partes pré-fabricadas vai eliminar algumas etapas do processo.
O principal desafio para evitar o aumento do desemprego com a perda dessas vagas, portanto, é o investimento na educação para desenvolver as habilidades criativas e sociais das pessoas, diz Osborne.
O estudo se baseou em 702 profissões categorizadas pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos. Embora os pesquisadores não calculem quantos postos devem ser fechados, eles estimam que haja risco elevado de perda de vagas em 47% das atividades americanas nas próximas duas décadas.
Para Osborne, essa é uma tendência mundial, mas que deve ser mais lenta nos países pobres, onde a mão de obra é mais barata e há menos recursos para investimentos em informatização.
De acordo com a denúncia do MP, o cruzamento das bilhetagens telefônicas dos acusados, feito durante o inquérito policial, demonstra que eles mantinham uma estreita relação, considerada pela Promotoria como um indício do envolvimento deles na armação. O período em que os registros telefônicos foram feitos, entretanto, não foi especificado.
O MP identificou 108 ligações entre Tranquilli e Ana Rosa. Ela também teria falado ao telefone 25 vezes com Baltazar, que por sua vez teria entrado em contato 76 vezes com Tranquilli. O promotor salientou ainda que os documentos assinados por Ana Rosa e entregues às autoridades locais com a denúncia caluniosa contra Assis possuem termos usado por uma pessoa com bom nível intelectual, algo que ela, com pouco nível de escolaridade, não é.
Sigilo no processo
A ação penal corre em segredo de Justiça no Fórum de Cajuru e é analisada pelo juiz Mário Leonardo Marsiglia, que já deferiu uma medida cautelar impedindo que Baltazar, Tranquilli e Silva se aproximem de Ana Rosa. A pena para o crime de denunciação caluniosa pode chegar a oito anos de reclusão.
Por telefone, Ana Rosa disse ao G1 que denunciou a armação em 2012, quatro anos após o ocorrido, porque sofreu uma crise de consciência. "Eu fui usada, fui o que chamam de laranja. Na época, eu estava muito fragilizada, tinha acabado de descobrir que estava com câncer de pele. Precisava do dinheiro. Agora acabo sofrendo por causa disso. Troco de celular toda hora, não consigo morar em lugar nenhum", relatou.
Prejudicado
O ex-prefeito Jayme Leonel de Assis, que atualmente é chefe de gabinete do prefeito em exercício, Dimar de Brito (PSDB), disse que ainda sofre com a acusação de pedofilia e que nos próximos dias vai entrar com uma ação por danos morais contra os denunciados. “A nossa cidade é pequena, o boato acaba sendo uma coisa muito forte. Eu nunca vi essa menina que eles disseram ter sido abusada. Se ela passar na rua ao meu lado eu não reconheço”, disse.
“Essa acusação foi uma pancada na minha cabeça. Foi algo muito baixo, mas eu não devo e não temo, pois não fiz nada de errado. Isso prejudicou toda a minha família”, comentou.
Envolvidos
Como defesa, o funcionário público José Mauro Baltazar, que é gestor ambiental, disse ao G1 que, em 2012, Ana Rosa foi paga por pessoas interessadas em inventar a suposta armação e prejudicar a eleição municipal em que Silva concorria à reeleição.
“O fato aconteceu em 2008 e, oportunamente, em agosto de 2012, durante a campanha, ela fala sobre essa suposta armação. Por que não fez a denúncia antes? Os opositores políticos pagaram esta mulher para falar isso e prejudicar o Daércio na eleição”, alegou Baltazar.
O advogado Homero Tranquilli disse estar tranquilo com as acusações do MP e repetiu o discurso de Baltazar. “Foi uma armação que fizeram contra o Daércio. Eles armaram essa situação e inventaram uma história. Compraram essa senhora para dizer tudo o que ela disse. É uma atitude baixa e política. A turma do atual prefeito fez isso para ganhar a eleição.”
Procurado por telefone pelo G1, Dáercio Lopes da Silva não foi encontrado para comentar o assunto.
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