Profissionais dizem ser ameaçados pelos internos do Pomeri, em Cuiabá. Trabalhadores denunciam ainda supostas regalias aos adolescentes
Agentes prisionais protestam em MT por melhores condições de trabalho
Um grupo de quase 100 pessoas, entre agentes prisionais, técnicos, professores e outros profissionais que atuam no Centro Socioeducativo de Cuiabá, conhecido como Complexo do Pomeri, fez um protesto na manhã desta terça-feira (10), contra as atuais condições de trabalho.
Os profissionais se reuniram em frente ao portão principal da unidade e apresentaram armas apreendidas com os menores de idade, feitas de forma artesanal. “Eles quebram a parede, retiram o vergalhão e amolam”, diz Paulo Cesar Souza, presidente do Sindicato dos Servidores Penitenciários de Mato Grosso.
Os trabalhadores dizem não ter condições de manter a ordem no complexo por se sentirem vulneráveis à ação dos menores. Um agente, que preferiu não se identificar, conta que foi ferido na cabeça durante a intervenção em uma briga entre internos.
“Durante um procedimento padrão, um adolescente se rebelou e partiu pra cima de nós. Eu tentei segurá-lo, ele escapou. Ele arremessou uma bigorna, que é a porta da ala dele, contra as minhas costas. Eu feri minha testa contra uma trinca de ferro que é utilizada para trancar essa bigorna. Sempre num tom de ameaça contra nós, agentes. E isso não é a primeira vez que acontece”, relatou.
Os agentes também revelam que seriam oferecidas regalias aos menores pela própria direção da unidade. “Eles pedem cigarro, pedem televisão, pedem DVD e conseguem tudo. Com o tempo, o que vai acontecer conosco?”, questiona Souza.
O Pomeri tem cerca de 120 menores, entre internos e provisórios - aqueles que aguardam decisão judicial. Mais da metade seria de Várzea Grande, onde há a promessa de um novo Centro Socioeducativo.
Problemas e confusão
Os problemas no complexo têm sido frequentes. Um dos prédios, interditado pela Justiça, ainda estaria sendo usado. Na última sexta-feira (6), houve uma confusão na ala onde ficam os que cometeram as infrações mais graves.
Celas foram depredadas e até o Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) foi chamado. No domingo, os agentes dizem que dois menores fugiram. Na ocasião, o secretário adjunto de Direitos Humanos, Valdomiro Pascoal, negou que a unidade seja dominada pelos internos.
“O adolescente não manda e não implementa. Nós temos o socioeducativo que é gerido pela parte do governo, tem o judicial, e nós trabalhamos em conjunto. Existe a reivindicação? Existe. Existem os problemas de conduta? Existem, porque isso é natural. Tenho seis meses de gestão e nesses seis meses foram quatro motivos acontecidos. Princípio [de motim] sempre acontece, porque um adolescente pode ter um conflito com o outro. Acontece um fato pequeno e que se torna grande demais”.
Essa versão é contestada pelo presidente do sindicato que representa os agentes. “A gente fica refém de tudo, eles [os internos] ficam rindo da nossa cara. Essa ressocialização não está acontecendo”, afirma.
A manifestação dos profissionais nesta terça-feira não paralisou as atividades do complexo. Os agentes obedeceram a escala, mas agora querem discutir com as autoridades mudanças no sistema socioeducativo. Em 2011, 153 novos agentes foram contratados para todas as unidades por meio de concurso público. Os profissionais querem a contratação de mais agentes.
Outro lado
De acordo com o secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Luiz Antônio de Carvalho, a reforma do centro já está em processo de licitação. A obra deve começar em 60 dias. Ele afirma ainda que está em fase de convênio e construção de outras sete unidades no estado.
Quanto ao número de agentes, o secretário diz que o quadro atende as exigências da lei e que todos os concursados já foram convocados.
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