"FANTÁSTICO"
'Levantei para ajudar minha vovó', diz menino que sobreviveu O espanto é tentar entender como uma criança de apenas 20 quilos conseguiu suportar o peso de um carro de quase uma tonelada
Como é o rosto de um herói? Há uma semana, os 6,5 mil habitantes da pequena cidade de East Rochester descobriram que ele pode ter cara de sapeca, olhar alegre, um pouco tímido e uma coragem enorme para quem ainda tem apenas 9 anos de idade
No dia 19 de janeiro, Crystal deu o último abraço no filho. Tyler tinha um sorriso no rosto: estava feliz porque ia passar a noite na casa do melhor amigo dele: o avô.
“Eles faziam tudo juntos. Tyler era um menino doce, sempre preocupado com as pessoas. Eu estou me sentindo vazia. É uma tristeza profunda e ao mesmo tempo raiva, porque isso tinha que acontecer?”, questiona a mãe do menino.
No último domingo Chrystal deixou Tyler com o avô que morava em Penfield, uma cidade vizinha. Um lugar de moradias modestas. Além dele, outras oito pessoas estavam na casa.
Os bombeiros ainda não sabem o motivo do incêndio. Mike foi o primeiro a chegar ao local. “Quando chegamos, a família disse que ainda havia três pessoas dentro. Tentamos entrar na casa, mas por causa da fumaça forte e do calor, não conseguimos resgatar ninguém”.
Não restou nada da casa, o fogo consumiu tudo. O menino e a família estavam dormindo, quando o incêndio começou por volta das 4h45. Tyler acordou os adultos e as crianças que dormiam. Ele e outras seis pessoas saíram, ele e o menino decidiram voltar para casa, quando viu que o avô - que usava cadeira de rodas - ainda estava lá dentro.
Connie, irmã de cristal, diz que o sobrinho ajudou a resgatar os dois primos. Mas quando ouviu o avô gritar por socorro, decidiu ir salvá-lo.
“Meu pai dizia ‘o que está acontecendo? O que está acontecendo?’ A fumaça era muito forte. Não percebi quando Tyler desapareceu”, conta ela.
Chrystal recebeu a notícia de manhã. “Eu comecei a chorar. Porque sabia que algo estava errado. Aí me disseram que uma tragédia havia acontecido e meu filho havia morrido”.
Os bombeiros encontraram o corpo de Tyler junto ao do avô. Mike diz que a ação do menino ajudou a salvar seis vidas. “Ele partiu com o avô, o melhor amigo dele. Eu sei que onde ele estiver vai estar feliz com ele”.
A história desse pequeno herói comoveu todo o país. Amigos da família abriram um fundo na internet para arrecadar dinheiro para o enterro de Tyler, do avó e do bisavó, que também morreu no incêndio. O objetivo era juntar US$$ 5 mil. Já conseguiram mais de US$ 60 mil. Nesta sábado, a população doou cobertores, roupas, comida e veio prestar solidariedade.
Brisbane, amigo da família, disse que uma semana antes do incêndio, o menino havia dito para ele e para o padrasto que queria morrer fazendo algo que fosse memorável para que ninguém se esquecesse dele. E foi isso mesmo que aconteceu.
Chrystal nos mostra com carinho os desenhos que o filho deixou para ela.
A mãe diz que tem muito orgulho de Tyler. Mas o que ela queria mesmo era o filho de volta.
“Eu preferia que ele não tivesse feito isso. Pode parecer egoísta, mas eu queria que ele não fosse um herói e hoje eu ainda teria ele comigo”.
Tyler ficou conhecido como herói na mesma semana em que no Brasil o atropelamento do menino João Pedro e sua avó surpreendeu pelo final feliz.
Em Anápolis, Goiás, um acidente impressionante. Uma sequência de duas batidas. A última faz o carro, que estava estacionado, passar em cima da avó e do neto. A cena é forte, assusta. Mas dá para acreditar que o garotinho de 5 anos ficou sob o carro voltou para reencontrar os amigos da escolinha dois dias depois do acidente?
O acidente foi na tarde da última terça-feira. Logo depois que Dona Vilma pegou o neto na creche, os dois decidiram descansar na calçada.
“Sentei aqui, fiquei, aí ele deitou aqui no chão, falou: ‘vovó eu vou descansar um pouquinho’. Estava uma sombra boa. Aí ele falou: vamos embora vovó? Eu falei: ‘então vamos’”, ela lembra.
Quando eles se levantaram: “Eu descendo, o cara bateu aqui nas minhas portas, na lateral, daí eu perdi o controle e fui pra cima do branco”, conta Henrique Araújo, motorista do carro preto.
Carlos é o dono do carro branco que estava estacionado. Foi o primeiro a socorrer às vítimas. “Eu pensei o pior, né do jeito que ele saiu debaixo do carro e levantou. Foi muito rápido, foi impressionante”
“Levantei para ajudar minha vovó”, conta o menino.
Se não fosse a imagem, seria difícil convencer até os pais de João de que um carro tinha passado por cima dele.
“Quando ele falou pra mim, eu falei não, não foi não meu filho, o carro só bateu em você e depois subiu na calçada. Aí ele falou, não pai, o carro passou em cima da minha cabeça”, diz o pai.
Quem estava no lugar só conseguiu perceber o que realmente aconteceu, depois de ver as imagens registradas por uma câmera de segurança. O espanto entre as pessoas é tentar entender como uma criança de apenas 20 quilos conseguiu suportar o peso de um carro de quase uma tonelada.
A pedido do Fantástico, um perito em acidentes calculou velocidade e força do impacto com que o carro branco atingiu o menino. Para isso, analisou: a distância entre os carros antes da batida, de 19 metros; a distância percorrida pelo carro branco com o impacto, de 15 metros; Segundo as contas do perito, o carro atingiu o menino a 39 km/h.
“Comparativamente, você pega esse carro que tem 932 quilos aproximadamente sobe ele 6 metros, são dois andares de um edifício, coloca o carro na ponta e solta. É bastante intenso”, diz Renato Orsi, perito em acidentes.
Ele analisa as imagens cena a cena. “A roda sobre ele, sobre as costas, mas a cabeça justamente nessa posição aque está para fora. Ou seja, a roda não atingiu a cabeça”, ele diz.
Um outro fator pode ter aliviado o impacto: “A roda que nós observamos aqui, a queda dela, dessa posição pra essa aqui. A frente do carro levantou minimizando, o que deve ter minimizado os ferimentos do garoto”.
João fez radiografias da coluna cervical, bacia e tórax. O médico não encontrou nenhum arranhão.
“Você vê que surpreende mesmo, diz o médico, olhando a radiografia.
“Existem uma série de alterações anatômicas inerentes da idade, que podem até justificar esse caso. Na idade de 5 até 6 anos, os ossos estão mais flexíveis, os ligamentos estão mais flexíveis. No entanto, não tenho dúvidas de que isso foi um milagre”, avalia Juliano Martins, médico que atendeu o João Pedro.
O garoto que viu a vida passar por um triz debaixo do carro já tem planos para o futuro: quer ser jogador de futebol.
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