Gaeco desmantela grupo que ganhou pelo menos R$ 800 mi com roubo e adulteração de carretas
Treze anos de esquema
O Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) desmantelou uma das maiores quadrilhas de roubo e adulteração de carretas do país com a Operação Dublê, divulgada ontem, mas ainda em andamento. Há 13 anos, a quadrilha lucrava com roubo e adulteração do chassi de pelo menos uma carreta por semana, um prejuízo que o Gaeco estima em R$ 800 milhões.
Segundo os investigadores, o esquema era chefiado por Loidemar Silva Landefelt, o “Nico”, dono da transportadora Buriti, em Rondonópolis (a 212 km de Cuiabá). Ele e outras três pessoas foram presos.
Além de documentos e computadores, duas carretas “esquentadas” foram apreendidas desde março, quando começaram as investigações em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e com uso de escutas telefônicas, mas ontem mesmo o Gaeco conseguiu apreender mais cinco veículos na região de Nova Ubiratã (a 502 km). Também são investigados funcionários do Departamento de Trânsito (Detran) que teriam cooperado com o esquema. Ainda não foi identificado qualquer funcionário, mas a própria Corregedoria do Detran está auxiliando o Gaeco nesta apuração.
O esquema tinha como peça fundamental Francisco Alcides de Farias, o “Paraíba”, preso em Itumbiara (GO). Relacionado a uma série de quadrilhas de roubo de carretas no país, como em Minas Gerais e Goiás, era ele quem providenciava veículos roubados para Nico.
O empresário pagava pelas “encomendas” e, em fazendas arrendadas no Estado, trocava o chassi dos veículos com a ajuda de um especialista, Joaquim de Jesus Ferreira (o “Joaque”) – Gaeco pediu a prisão preventiva dele, mas foi negada pela Justiça. Para substituir o chassi na adulteração, Nico comprava as peças de veículos acidentados que o Detran registrava como “perda total”. Por meio de um esquema dentro do órgão, ele conseguia que esses registros fossem antes trocados por “perda parcial”. A adulteração dos veículos era feita em várias fazendas que Nico foi arrendando ao longo dos anos no interior do Estado, com a alegação de que iria “criar gado”.
Entre a compra do veículo novo roubado e o chassi acidentado, Nico (também conhecido como “Biro-Biro”) gastava cerca de R$ 70 mil, mas, depois conseguia vender cada carreta adulterada por cerca de até R$ 200 mil. Além dele e de Paraíba, foram presos seus ajudantes mais próximos no esquema, Salvador Ferreira de Jesus Junior e Miguel Arcângelo Ferreira de Jesus.
DENÚNCIAS - Eles e outras dez pessoas foram denunciados e tiveram suas prisões preventivas pedidas pelo Gaeco pelos crimes de roubo, receptação e lavagem de dinheiro. O promotor Arnaldo Justino da Silva, entretanto, esclareceu que a Justiça negou os pedidos de prisão para dez pessoas que participavam ativamente do esquema todo.
Entre essas pessoas está a esposa de Nico, Naria Núbia de Souza Landefeldt, que também administrava os negócios ilícitos; Marcelo Costa, auxiliar do esquema; Rudimar Silva Landfeldt, irmão de Nico e “faz-tudo”, segundo Justino; Reginei Luiz de Paulo (conhecido como “Negão” ou “Alemão”), caseiro de uma fazenda em Santo Antônio de Leverger onde as carretas eram adulteradas; Ronaldo Medrado, outro auxiliar, e Norisvaldo Belém de Amorim, o “Sula”, despachante que o Gaeco aponta como responsável por esquentar documentos.
Outros três denunciados são apontados como fornecedores de selos e plaquetas para esquentar as peças usadas na adulteração. Eles são Roberto Lucas Portilho (“Fio”), Marisa Felix de Lima e Luciano Aparecido Portilho. Segundo o chefe do Gaeco, procurador Paulo Prado, há a suspeita, levantada pela PRF de Goiás de que Fio seja integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC, de São Paulo), mas Prado enfatiza que ainda não surgiram provas disso.
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