“[O Enem] não está passando a sensação de ser um exame seguro, um exame moderno de seleção”, diz a aluna Priscila Esteves.
“Ele passou a valer muito, passou a ser a porta de entrada para cursos muito cobiçados. Quando isso acontece é como transportar dinheiro, uma coisa muito cobiçada”, diz o especialista em avaliação Leandro Tessler, da Universidade da Campinas (Unicamp).
Este ano, o Ministério da Educação (MEC) exige da gráfica itens como raio-x e detectores de metais; funcionários identificados por impressão digital; câmeras a cada 20 metros quadrados, monitoradas 24 horas e vigilantes a cada cem metros quadrados.
As exigências estão especificadas em um documento com as regras para a concorrência. A escolhida deveria ser a gráfica que cumprisse todos os itens de segurança pelo menor preço. O valor mais baixo foi oferecido pela Gráfica Plural, que é a mesma de onde a prova foi furtada no ano passado. Mas o MEC recusou a gráfica e, agora, a Plural pede na Justiça a revisão da decisão.
O Fantástico entrou na gráfica no exato dia em que os testes de impressão deveriam ter começado. O diretor geral não quis gravar entrevista, mas contou que desde o ano passado, quando o Enem foi roubado lá de dentro, cerca de R$ 15 milhões foram investidos em equipamentos de segurança.
Para a empresa, o MEC deveria ter visitado o local antes de decidir pela desclassificação na concorrência do Enem.
Para o MEC, a verificação era desnecessária porque, como indica um documento, a Plural não tem experiência com trabalhos que exigem tanta segurança.
“Eu esperava que este ano corresse tudo perfeitamente”, diz o estudante Lucas Furushio.
“Um dos objetivos era acabar com o estresse do vestibular. Agora, está sendo criado o estresse do Enem”, diz a educadora Maria Helena Guimarães de Castro, que fez parte da equipe do MEC que criou o Enem, em 1998, quando 160 mil alunos prestaram a prova. “Era uma referência individual de avaliação. Não era seleção”.
Em 1999, o Enem já começou a valer pontos em vestibulares importantes. Dez anos depois, veio a grande mudança: o Enem passou a ser usado por universidades federais no lugar do vestibular. Este ano, 4,5 milhões de alunos se inscreveram.
“Na medida que você aumenta o tamanho, a chance de as coisas darem errado aumenta”, afirma Leandro Tessler.
Atraso
Os estudantes querem saber: o Enem deste ano vai atrasar? O Fantástico levou a dúvida dos alunos até Brasília, para o responsável pela prova. O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Joaquim José Soares Neto, garante que não. "As provas vão ser dias 6 e 7 de setembro, conforme anunciado”, garante.
“Eu queria saber como está sendo a segurança da prova”, diz Luís Pinho.
“Estamos cuidando ponto a ponto da segurança do exame. Na parte da gráfica, na parte da distribuição, na parte da aplicação”, responde o presidente do Inep.
Segundo o MEC, a distribuição e o armazenamento das provas vai ser acompanhado pelas polícias militar e federal.
“Uma prova desse tamanho, centralizada, feita em um dia só, dificilmente vai dar certo sem nenhum problema. Isso é muito difícil”, comenta Maria Helena Guimarães de Castro.
Exemplo
Uma das soluções pode vir dos Estados Unidos, do exame que inspirou o Enem. A prova que seleciona alunos para as universidades americanas acontece várias vezes ao ano e pode ser feita até pelo computador, em salas especialmente reservadas. Isso é possível porque, ao longo dos anos, foi formado um enorme banco de questões: são 130 mil itens. O acervo no Brasil ainda é pequeno: apenas 10 mil questões. A intenção é ampliá-lo.
“Isso vai fazer com que, no futuro, o Enem possa ser aplicado em várias versões, em várias vezes”, explica Joaquim José Soares Neto.
Os alunos esperam um Enem sem polêmicas. “Acho que daqui a um tempo eles vão aperfeiçoar e reconhecer os erros. Acho que o Enem vai dar certo mais para frente”, afirma Marjorie Romano.
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