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Domingo - 22 de Agosto de 2010 às 08:25
Por: Raquel Ferreira

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Queimadas recorrentes no Estado, principalmente nos meses que vão de julho a outubro, agravam problemas
Queimadas recorrentes no Estado, principalmente nos meses que vão de julho a outubro, agravam problemas

O índice de mortalidade por doenças respiratórias em crianças de até 5 anos se aproxima de 30% em algumas cidades do interior de Mato Grosso, como ocorre em Guarantã do Norte e Alta Floresta. Os dados constam na pesquisa de mestrado da professora de Enfermagem Antônia Maria Rosa, mostrando que as doenças respiratórias são as principais causas de internação em pelo menos 7 cidades do Estado, todas localizadas no interior e com mais de 25 mil habitantes.

São consideradas doenças respiratórias rinite, sinusite, laringite, bronquite, pneumonia e Doença Pulmonar Obstrutivo Crônica (DPOC) e asma. As duas últimas se agravam com o clima e a poluição, conforme o pneumologista Clóvis Botelho.

No estudo da professora Antônia, a soma dos registros de internações e óbitos resultou no ranking das cidades que apresentam a situação mais grave. Alta Floresta (803 km ao norte de Cuiabá) está no topo. Do total de internações de crianças com até 5 anos, 80% tiveram como motivo doenças respiratórias e 27,3% dos óbitos ocorreram pelo mesmo motivo.

Juara (709 km ao médio-norte de Cuiabá) está em segundo lugar com 67% de internações e 25% de mortes, seguida de Barra do Bugres (168 km ao médio-norte da Capital), com 64,8% e 20%, respectivamente.Tangará da Serra e Barra do Garças (239 km ao médio-norte e 509 km ao leste, respectivamente) empatam na quarta colocação, sendo que a primeira cidade tem 61,5% dos casos de internações e 20% de mortes. Já Barra do Garças tem índice de morbidade menor, 47,2%, mas a taxa de mortalidade é superior 26,3%. Embora Guarantã do Norte (715 km ao norte) tenha o maior índice de mortalidade do Estado, 28,6%, os números de internações (34,3%) ficam abaixo da maioria das cidades pesquisadas. A média coloca a cidade na 7ª posição.

Cuiabá ocupa a 13ª colocação, abaixo de Várzea Grande (12ª). Na Capital, a média registrada de internação pelas doenças das vias aéreas é de 35,8% e 18% de mortes. Em Várzea Grande são 51,5% de internações e 6,7% de mortes. (Ver quadro)

A professora explica que vários fatores levam a este resultado. Entre eles a situação de queimadas recorrentes no Estado, principalmente nos meses que vão de julho a outubro. Antônia destaca que internações e óbitos por enfermidades das vias aéreas ocorrem durante todo ano, mas os registros são maiores no período da seca. Ela comenta ainda que existem diferenças características nas épocas distintas. Durante a seca, aumentam as internações, enquanto que no período chuvoso existe uma ampliação de atendimentos nos ambulatórios.

Poluição - Este ano, Mato Grosso enfrenta situações críticas de queimadas e baixa umidade relativa do ar. Dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) mostram que até esta sexta-feira (20) Mato Grosso lançou 3.105.411 toneladas de monóxido de carbono na atmosfera, somente neste mês de agosto, além de dióxido de carbono e material particulado.

O monóxido de carbono, quando respirado em excesso, ocasiona problemas respiratórios, afetando especialmente crianças e idosos. O material particulado contribui para estes problemas, uma vez que fica em suspensão no ar e se aloja nos pulmões, quando ocorre a respiração.

Assim como a professora Antônia, o pneumologista Clóvis Botelho lembra que as enfermidades respiratórias ocorrem em qualquer época do ano. Porém, o especialista destaca que é nítido o aumento da procura por atendimento médico quando a poluição intensifica e a umidade relativa do ar fica baixa.

As principais vítimas são crianças e idosos. Os mais jovens são afetados por conta da imaturidade do sistema de defesa, enquanto os mais velhos já perderam a capacidade do organismo de se defender.

A poluição sozinha já irrita bastante a mucosa, que fica ainda mais sensível com a baixa umidade do ar, que resseca as vias respiratórias, ocasionando os problemas mesmo em pessoas saudáveis. Assim, gripes simples podem virar problemas sérios, afirma Antônia. Botelho estima que haja um aumento médio de 30% nas buscas por atendimento ambulatorial e 50% das internações durante a seca em Mato Grosso.

A gerente do Centro de Saúde do Quilombo, em Cuiabá, Katiuscia Camargo, reforça a informação do pneumologista. Ela comenta que muitos pacientes buscam médicos diante de incômodos respiratórios, especialmente as crianças e idosos, como o caso de Nelson Nilo Rodrigues Figueiredo, 55, que fazia inalação na unidade. Ele conta que teve pneumonia e ficou internado por 3 dias, tendo alta na semana passada. "Agora o médico recomendou a inalação 3 vezes por dia".

Registros do DataSus, mostram que nos 6 primeiros meses de 2010, foram 12.725 internações por problemas respiratórios em Mato Grosso. Somente o município de Cuiabá foram 1.871 casos, seguido de Várzea Grande (1.181), Tangará da Serra (886) e Rondonópolis (645).

Embora as queimadas sejam apontadas como o fator principal do agravamento da saúde, Antônia lembra que a desnutrição, crianças que não foram amamentadas no peito, filhos de fumantes contribuem, para o cenário.

Prevenção - Para minimizar os casos de doenças, o ideal seria diminuir a poluição e aumentar a umidade relativa do ar. De forma prática, o pneumologista orienta a ingestão de bastante líquido e umidificação de ambientes (com toalhas molhadas, bacias de água ou umidificador), manter a limpeza dos condicionadores de ar e redobrar a atenção com a umidade do ambiente onde existe o aparelho. O médico alerta ainda para a prática de exercícios físicos, que deve ocorrer somente em locais fechados, academias ou piscinas. "Nessa época do ano tem que esquecer caminhada ao ar livre, a menos que faça isso às 5h".

De forma mais ampla, o médico defende a elaboração de políticas públicas para aumentar as áreas verdes da cidade e inserção de elementos que garantam maior umidade do ar, como chafariz, lâminas de água, bicas.

Sintomas - Febre, falta de ar ou tosse que persiste por mais de 15 dias são sintomas de alerta. Deve-se procurar um médico para investigar o caso, que pode se tratar de alguma doença respiratória.

 





Fonte: A Gazeta

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