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Domingo - 22 de Agosto de 2010 às 13:21

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Uma seca sem precedentes está fazendo com que as águas da Baía Chacororé, em Barão de Melgaço (a 133 Km de Cuiabá), a maior do Pantanal, aos poucos cedam lugar a um solo rachado de lembrar o sertão. Há dois meses, a situação tem ficado mais desoladora para moradores do entorno da baía por tratar-se de um cenário de seca que remete a uma estiagem muito mais intensa do que as sazonais, que sempre acometem o Pantanal em seu ciclo natural. As águas nunca estiveram tão longe do que deveria ser suas margens. É o pior retrato em 40 anos.

As medições do nível da água no local, feitas desde 1969, mostram que a pior seca registrada tinha sido em 1970, quando o nível da água estava em 1,34 m. Naquele ano, a estiagem assolou a região em setembro e as chuvas só vieram em dezembro. Hoje, a régua limnimétrica marca espantosos 0,34 m (a média histórica é 1,66 m), conta o professor Rubem Mauro Palma de Moura, da Engenharia Sanitária da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e morador da região. Tendo em vista a demora das chuvas neste ano, ele é taxativo ao interpretar os números do que é considerado um cartão-postal: “Hoje este é um cenário morto”.

Não é exagero, e sobram provas disso. Como o fato de que, hoje, a água se limita a uma porção longe dos 10 mil hectares que a baía atinge nas cheias (maior que a baía de Guanabara, no Rio de Janeiro). O fato de que o deck onde Moura pescava agora faz sombra para carneiros, a centenas de metros da água restante. Também o fato de que a pequena Ilha do Caco, conhecida pela presença de artefatos indígenas antigos, hoje não tem mais como ser chamada de ilha no meio da baía. Ou o fato de que a reportagem andou a pé numa extensão que já chegou a ser coberta por 2,5 metros de água, tropeçando em carcaças de peixes, caranguejos secos, conchas e crânios de jacarés.

“Nunca vi isso aqui desse jeito”, lamenta o caseiro Vilmar Aymoré, 50, que trabalha na região. Ele mostra a dimensão do problema mencionando que nem o gado pantaneiro tem se acomodado no que costumava ser as regiões mais fundas da baía nos períodos de cheia. Diz que a pouca água restante, barrenta, não dá 0,5 m. Canoa só passa “arrastando”.

“Mas não tem conserto, não?”, pergunta-se o pantaneiro Orlindo Pereira da Silva, 48, intrigado com as pegadas de gado, carneiros, cavalos e capivaras na terra rachada – com o horizonte esfumaçado ao fundo.

APELO - A explicação é que tamanha seca é nada menos que uma “tragédia anunciada”, com impactos diretos na biodiversidade e na economia da região, segundo Moura (ver matéria). Ele já estudou a dinâmica da região e viu outros momentos de seca, mas explica que a situação atual já poderia ter sido prevista nos últimos dois anos por conta da gradual destruição de uma barragem feita de pedras entre as baías Chacororé e Siá Mariana, outro cartão-postal da região. A barragem servia para manter o nível das águas, cujo fluxo é de Chacororé para Siá Mariana, mas está sendo depredada por pescadores profissionais.

Outro fator é o fechamento dos corixos (canais que interligam baías e rios) que levavam a água até Chacororé. Hoje, apenas um deles não foi fechado, o que é um crime para a dinâmica pantaneira, segundo Moura. Ele aponta que os possíveis interessados nesta situação seriam pescadores profissionais, pois o peixe fica mais fácil de ser pego quando concentrado numa pequena área ainda alagada, e os criadores de gado, pois o local é uma potencial área de pastagem.

Moura acredita que o governo não vislumbra ainda a dimensão do problema e apela para que as autoridades tomem providências urgentes (ver matéria). Sem contar o fato de que o local é um dos ambientes pantaneiros mais próximos a Cuiabá, um potencial turístico com risco de ser jogado fora. Ele teme que a situação piore em setembro, para quando as previsões de chuva são as mais desanimadoras possíveis. “Vai ser a catástrofe”. 






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