A definação é da Cartilha SaferDic@s lançada recentemente pela organização não governamental SaferNet Brasil. Em algumas escolas de Belém (PA), jovens decidiram fazer filmes de conteúdo social e disponibilizar na internet. A pratica do sexting virou competição entre as escolas para saber qual era o conteúdo mais acessado.
A professora Rosana Leris, de uma escola pública da capital paraense, afirma que o exibicionismo provocou a competição. "Os alunos mostravam sempre um filme de escola diferente e diziam que iriam fazer um melhor. Quando perguntei qual o interesse disso eles responderam que era para se exibir, aparecer".
O exibicionismo na internet é perigoso e pode até mesmo virar crime, segundo o psicólogo da SaferNet, Rodrigo Nejim. "Ao pé da letra, o sexting poderia ser considerado como aquela imagem de pornografia. É um desafio para as autoridades porque, ao se tratar de uma imagem produzida pelo próprio adolescente, ele se torna ao mesmo tempo vítima e agressor. Quem é o culpado se o próprio adolescente é também a vítima?", questiona.
Nejim chama a atenção para o fato de que o adolescente não sabe que sua imagem pode ser utilizada como material por redes criminosas de pornografia infantil, o que pode expor os jovens a situações constrangedoras e perigosas, como a exploração sexual.
A diretora de uma escola em Belém, que não quis ter o nome publicado, disse que com a exibição de um vídeo na internet, em uma competição de sexting, enfrentou problemas com a rejeição de alunos que usavam o uniforme da escola. "Os alunos da escola, quando estavam no trajeto para casa, eram alvo de brincadeiras e provocações, às vezes no próprio ônibus".
A diretora afirma que até dezembro do ano passado os estudantes foram liberados do uso de uniforme para evitar esse tipo de constrangimento. Segundo ela, foi preciso realizar um trabalho sério com pais, alunos e professores para reverter a situação.
Para Nejin, da SaferNet, a escola está no caminho certo, uma vez que informação e conscientização são armas importantes para evitar não só o arrependimento, mas também que as fotos e vídeos caiam em mãos erradas.
Combate
Uma pesquisa feita pela SaferNet Brasil em escolas públicas e particulares revela que os alunos passam em média quatro horas por dia conectados à internet - 80% em sites de relacionamentos e 72% em programas de comunicação instântanea. Quatro em cada dez alunos pesquisados disseram que já se comunicaram com alguém que conheceram pela rede.
Para a gerente de projetos sociais da organização não governamental (ONG) Terra dos Homens, Valéria Brahim, o resultado mostra que as famílias e as escolas não estão preparadas para lidar com esse comportamento virtual.
"Nós estamos falando de duas gerações, uma que nasce ligando o computador e se envolvendo na rede virtual e outra que precisa se apropriar dessa ferramenta". Para ela, o fato provoca um hiato. "A gente precisa mostrar aos educadores o quanto a internet é uma ferramenta de pesquisa, mas também de crimes", acrescenta.
Valéria Brahim defende que as escolas recebam formação e desenvolvam, junto com a família, um trabalho de conscientização de crianças e adolescentes sobre o perigo da internet.
Recentemente foi realizada uma oficina em Belém (PA), promovida pela SaferNet em parceria com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, mas, segundo o procurador Ubiratan Cazetta, não existe uma política pública correta ou minimamente direcionada ao tema na questão da educação.
"Não temos hoje uma visão clara de qual o papel do educador na escola pública com relação às crianças que estão usando esse meio e também percebemos uma ausência de qualificação do professor para tratar o assunto. A internet é uma realidade crescente nos alunos e parece que a escola não considera relevante. É preciso ensinar as crianças sobre os riscos", disse o procurador.
Uma prova de que esse tipo de trabalho tem resultados positivos está na Escola Pio XII , em São Paulo. A partir da capacitação, foi inserida na grade de horário uma matéria que orienta sobre o uso da internet de forma segura. A professora da disciplina, Isabel Costa, descobriu, por meio das aulas, que os estudantes ficaram surpresos ao saber que a escola era, na realidade, uma aliada.
"Nossa, agora a gente pode falar?", espantaram-se os alunos. A educadora explicou a eles que não só podiam como deviam falar sobre esse assunto, além de mostrar aos pais as imagens acessadas. Para a diretora do Pio XII, Fátima Trindade, "é preciso que a família saiba o que está acontecendo, os riscos. A parceria da escola com a família pode conseguir que essa juventude faça um bom uso da rede".
Em casa, entre quatro paredes, o risco é bem maior. "O homem tinha 43 anos e eu não quis falar com ele, mas ele ficou insistindo e enviando imagens de partes íntimas", conta a adolescente Maria (nome fictício). Apesar de ser uma jovem de 16 anos, ela diz que nunca foi orientada a navegar pela internet.
Um outro levantamento, também da SaferNet, mostra que 63% dos pais não colocam limites para os filhos navegarem na rede. Oito entre dez adolescentes pesquisados têm pelo menos um amigo que conheceu virtualmente, mas 36 % dos pais não sabem disso e acreditam que os filhos não fazem amizade na internet.
O excesso de liberdade das crianças e adolescentes no uso da internet em casa pode ser muito mais perigoso. A opinião é da delegada de Crimes Cibernéticos do Rio de Janeiro, Helen Sardemberg. "Uma criança na internet às 14h é muito mais perigoso do que outra na rua às três da madrugada. Na internet a criança está sozinha com o seu aliciador".
Os especialistas dizem que o segredo para que as crianças e os adolescentes usem a internet de forma segura não é proibir, mas mostrar os perigos e como se defender deles. Fabíola Messias é mãe do pré-adolescente André e aposta no diálogo. "Eu tento ter uma abertura bem grande com ele, porque hoje em dia essa geração não pode estar fora das redes sociais, mas é claro, com bastante cuidado". Ela diz que impôs um horário para o acesso a internet.
Alguns pais pensam que, por não entenderem de tecnologia, não são capazes de proteger os filhos dos perigos da rede. O diretor de Comunicação da Google Brasil, Felix Ximenes, sugere que os pais usem ferramentas para bloquear acesso a conteúdos impróprios. Segundo ele, o que funciona mesmo é a boa e velha e educação.
"Meus pais me diziam para não conversar com estranhos e isso vale para os dias de hoje". Ele tem algumas dicas: "Não deixe o computador no quarto, mas na sala. Acompanhe o que seu filho faz online. Determine horas de acesso, enfim, converse com os filhos e esteja próximo deles quando estiverem na internet".
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