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Cidades
Segunda - 23 de Agosto de 2010 às 09:56
Por: Fernando Duarte

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Não existe controle sobre o número de aeronaves desaparecidas em Mato Grosso. As instituições ligadas ao setor desconhecem o "sumiço" dos aviões, o que favorece a falta de segurança no espaço aéreo. Sem os dados fica praticamente impossível ter controle sobre a movimentação da segunda maior frota do país, com 964 aeronaves registradas, perdendo apenas para São Paulo. Em um período de 3 meses, 2 aeronaves desaparecidas há anos foram encontradas ao acaso no estado.

Responsável pela segurança dos voos e pelo cadastro de todas as mais de 12,5 mil aeronaves no Brasil, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) não sabe quantas nem quais delas estão desaparecidas. O argumento está na dificuldade em investigar se elas realmente desapareceram ou apenas deixaram de voar por ter terminado o tempo de vida útil. A grosso modo, a Anac é o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) das aeronaves, em que são registrados prefixo, modelo e ano.

A Aeronáutica, por meio do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), também não possui essa informação. Segundo o setor de Comunicação Social, as informações de aeronaves desaparecidas só são obtidas se acontecer o anúncio da situação.

Em alguns momentos as autoridades sabem da localização de determinada aeronave pelo plano de voo disponibilizado e o tempo (médio) para se deslocar de um aeroporto a outro. A comunicação de um possível desaparecimento acontece após a não chegada do veículo ao ponto final marcado no plano. De acordo com a instituição, outra questão destacada é que as buscas pelas aeronaves nunca "acabam". Elas são suspensas e retomadas caso sejam apontados indícios sobre a real localização da unidade.

A Superintendência da Polícia Federal é outro órgão que desconhece esse número, já que a responsabilidade só recai sobre ela se houver alguma infração federal como ocorre com frequência no transporte de entorpecentes oriundos da Bolívia.

A mesma situação é pertinente para a Polícia Judiciária Civil (PJC), que investiga apenas roubos e furtos. "Realmente não temos esse número, ninguém tem. Eu pretendo fazer isso. Vou levantar todo o histórico de desaparecimento de aeronave para montar um arquivo", disse um agente que não quis se identificar.

Casos - O acaso é o motivo para que as 2 últimas aeronaves desaparecidas em Mato Grosso tenha sido localizadas. Parte do monomotor N90324 da empresa Itagro/Edson Flying foi visto pelo filho do administrador da fazenda Pouso Lindo (130 km de Santo Antônio do Leverger), com 32 mil hectares de extensão.

A localização só foi possível depois que uma área foi queimada e foi possível enxergar a asa do avião. Não haviam informações sobre o monomotor desde 2002, quando saiu de Campo Novo do Parecis (396 km a oeste de Cuiabá) para Goiânia (GO) e enfrentou uma tempestade em Santo Antônio do Leverger.

Com essa peça sendo encontrada, mais buscas foram feitas e outras partes dos destroços descobertas. Somente assim os 20 policiais civis realizaram uma operação "pente fino" para encontrar os restos mortais de Roberto Machado Bonilla, 23, e da noiva dele, Júlia Komori, 29, respectivamente piloto e passageira.

O monomotor PT-NTR, desaparecido desde o início de 2007, também foi encontrado por acaso. Ele foi localizado por fiscais do Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que estavam sobrevoando a Serra das Araras, entre os municípios de Várzea Grande e Rosário Oeste. Eles buscavam focos de incêndio e localizaram os destroços.

O avião saiu de Tangará da Serra (239 km ao norte de Cuiabá) em direção a Sinop (500 km ao norte da Capital) e até o dia 15 deste mês não havia informações sobre seu paradeiro. Os restos mortais do piloto Cleverson de Souza não foram localizados.

Delegado de Sinop na época, Richard Damasceno lembra que a primeira hipótese para explicar o sumiço da aeronave foi roubo para utilização no tráfico de entorpecentes. Ele contou que o proprietário da aeronave a "emprestava" para Cleverson fazer alguns trabalhos particulares nos fins de semana. Damasceno também conta que a mãe do piloto frequentava a delegacia quase que diariamente para obter informações sobre o filho.

Roubos - A falta de controle das aeronaves facilita a aquisição delas por quadrilhas e traficantes. Existe um grande interesse sobre os monomotores, principalmente o Cessna, que têm as asas altas (acima da porta) e facilidade para pouso e decolagem em áreas irregulares.

O delegado da Polícia Federal (PF), Éder Rosa de Magalhães, disse que não é possível prever o número de pistas clandestinas que existem em Mato Grosso. "Eles não utilizam somente pistas. Áreas em fazendas e até estradas de terra são usadas para trazer entorpecentes".

Luciano Inácio, delegado da Gerência de Repressão a Sequestro e Investigações Especiais da PJC, conta que a "segurança" dada pelos proprietários de aeronave em Mato Grosso contribui para o roubo. "Às vezes deixam uma pessoa para vigiar o monomotor. As quadrilhas que vão roubar são formadas por 5, 6 pessoas e todos armados".

Em Juína (735 km a noroeste de Cuiabá), uma aeronave só não foi levada porque o trem de pouso ficou preso em um buraco no aeroporto municipal e impediu a fuga. O vigia mais próximo do avião estava a 2 km do local.

Com a aeronave e o pagamento de US$ 5 mil ao piloto contratado é possível fazer o transporte da droga por Mato Grosso ou arremessá-la nas vastas propriedades rurais para serem levadas por caminhões em direção às regiões Sul e Sudeste do Brasil.

 




Fonte: A Gazeta

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