Governo investe R$ 14 bilhões em gás ocioso
A Petrobras começa a operar até dezembro um investimento de R$ 11,7 bilhões que vai aumentar a oferta de gás natural processado no país em um terço do consumo atual, mas não terá a quem vender, porque o mercado brasileiro já está abastecido.
O complexo inclui a maior plataforma de gás do país, para explorar os campos Mexilhão e Uruguá-Tambaú, gasodutos e uma unidade de tratamento em Caraguatatuba (SP). Houve ainda investimentos em unidades no Rio de Janeiro e no Ceará, com mais R$ 2,5 bilhões.
Um documento enviado neste mês pela Petrobras à Amprogás (associação de municípios produtores) confirma que "o suprimento da demanda de gás natural da região está garantido".
Inicialmente, ela planejava iniciar a operação em Caraguatatuba em 2009, mas atrasou. Foi em razão do equilíbrio do mercado, diz o ofício, que a estatal desistiu de perfurar um gasoduto que agilizaria o escoamento do gás processado em Caraguatatuba para outras cidades.
Além do litoral paulista, a estatal construiu terminais de gás natural liquefeito, um no Rio e outro no Ceará.
Esses terminais, que desde a inauguração passaram a maior parte do tempo ociosos, são abastecidos com gás congelado por navios alugados durante dez anos, por R$ 160 milhões por ano.
Os investimentos foram decididos em 2007, em razão da crise do gás, quando faltou produto no mercado.
DECISÃO ESTRATÉGICA
Pressionada, a Petrobras decidiu injetar recursos nesses terminais. Os projetos começaram a ficar prontos no final de 2008, mas a crise mundial reduziu o consumo.
Segundo especialistas, houve ainda erro de estratégia da empresa, que detém monopólio no país, de aumentar o preço do gás para bancar investimentos. O resultado é que agora sofre para captar clientes.
Outra prospecção que amplia o potencial de gás no Brasil foi a descoberta de um campo com até 15 trilhões de pés cúbicos no Maranhão, anunciada por Eike Batista. A produção diária, estimou a empresa OGX, pode chegar a mais 15 milhões de m3/dia.
Além da produção nacional, que cresce, o Brasil é obrigado a comprar gás da Bolívia. Em 2009, a Petrobras deixou de usar 8% do mínimo que tem que importar por ano do vizinho. E pagou por isso. Até o meio deste ano, o Brasil queimava o equivalente a 12% de todo o consumo comercial nacional, por não ter o que fazer com o gás.
Analistas e especialistas veem um descompasso no setor. Faltaram equacionar o ritmo de exploração e construção de dutos pelo país, uma política de distribuição confiável e preços regulados.
"É incrível que haja uma fonte limpa, mas não tenham sido planejadas a distribuição e a política de preços", diz Carlos Cavalcanti, diretor de energia da Fiesp.
Para o diretor de gás da Arsesp (agência reguladora de São Paulo), Zevi Kann, o preço afugentou empresas. "Investimentos não devem ser pagos pelo consumidor. A empresa deve fazê-los e, aí sim, colocar no seu preço."
Segundo Wagner Marques Tavares, consultor de energia da Câmara, o monopólio interfere na lei da oferta e da procura. "Nos EUA e na Europa, a rede de gasodutos é grande e há concorrência."
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