Aluno de 99 anos é exemplo de vontade e superação
A dupla frequenta, assiduamente, as aulas do 1º segmento do Centro de Educação de Jovens e Adultos, Ceja Almira Amorim, instalado no bairro CPA II, em Cuiabá. A unidade atende a 1,4 mil alunos dos quais 38 possuem algum tipo de deficiência. Essa, com as outras 23 unidades dos Centros de Educação de Jovens e Adultos atendem em Mato Grosso mais de 92 mil alunos, que não tiveram a oportunidade de frequentar a escola no período regular.
Simonídio, apesar das dificuldades de locomoção, deixa sua casa às 5h da manhã no bairro Jardim Umuarama I - vai até o terminal do CPA e de lá segue em outro coletivo que o deixa em frente da unidade no CPA II, não pensa em desistir. Bem humorado, conta que já perdeu muito tempo de sua vida sem estudar e por isso nem mesmo as doenças, lhe atrapalham. Faltar não é uma opção que ele gosta de considerar. “Quando eu era criança pensava que tanto fazia estudar ou não. Eu ia viver de qualquer jeito, mas percebi que não é assim. Sem saber ler e escrever não se vive, se esconde”, diz sabiamente.
O estudante conta ainda orgulhoso que é o aluno “mais velho” da escola, pois nasceu em 13 de julho de 1911. Entretanto, pondera que perdeu o registro de identidade original emitido em Cabo Frio, no Rio de Janeiro. No momento da emissão de novo documento, dessa vez em Várzea Grande, por desconhecer o ‘mundo das letras’ não percebeu que o registraram com a data de 13 de julho de 1941. “Mas ninguém vai dizer o contrário”, avisa. Dono de uma memória invejável ele conta que deixou o Estado do Rio de Janeiro em 1972 e veio para o interior de Mato Grosso em busca de emprego em serrarias. Cansado, resolveu mudar-se para a capital em 1997.
Para o colega dele, o deficiente visual Rosinei dos Santos, a oportunidade de aprender a ler e escrever em braile, lhe confere autonomia e maior facilidade de locomoção. “Antes de freqüentar a sala de aula eu não conseguiria voltar para casa sozinho mesmo que estivesse somente a três metros dela”. Natural do município de Santo Antônio do Leveger ele conheceu a Educação de Jovens e Adultos por intermédio de sua namorada (hoje esposa). Morando no bairro Jardim Industriário II, na região do Coxipó, Rosinei sai de casa de madrugada e às 6h25 está na porta do Ceja. “É que eu não gosto de me atrasar”, conta.
Ele avalia ainda que é de fundamental valia a presença da ledora. A dedicação dispensada pela profissional, mantida pela Secretaria de Estado de Educação, fomenta sua participação em sala de aula. “Minha vida mudou em tudo”, disse. A unidade conta com duas profissionais que atendem a seis estudantes portadores de deficiência visuais.
A professora da turma de Simonídio e Rosinei, Bertulina Miranda da Silva, explica que a metodologia de trabalho é diferenciada para contemplar o público. Uso no meu dia-a-dia, a realidade dessas pessoas. Nossa produção é baseada no que conhecem, objetos de cozinha, da área rural, da lida profissional de cada um deles”. Ela pontua ainda que sem amor jamais poderia desempenhar a função com tamanha dedicação.
O mesmo sentimento é compartilhado pelos coordenadores da escola, professores Márcia Cruz e José Roberto. Márcia explica ainda que a escola possui uma importante parceria com o Instituto dos Cegos o que deu origem a empregos a alguns dos estudantes que por lá passaram. “Atuamos para a promoção da inclusão social e da inserção no mercado de trabalho de jovens e adultos que não tiveram acesso à educação na idade própria. Possibilitamos condições para que essa parte da população construa sua cidadania”, finaliza Márcia.
Para o atendimento, o Ceja Almira Amorim, dispõe de Sala de Recursos, espaço dotado de diversos recursos tecnológicos e pedagógicos adequados às necessidades educacionais especiais dos alunos.
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