Banco de dados da Crediconsult totaliza 1,607 milhão de registros de consumidores que compraram nos últimos 5 anos e até agora não quitaram os débitos
Dívidas no comércio somam R$ 488,3 mi
Mato Grosso tem 1,607 milhão de registros de inadimplência. O número consta no banco de dados da Crediconsult da Federação das Associações Comerciais do Estado (Facmat) referente aos últimos 5 anos até agosto de 2010. A quantidade de registros representa, nada menos que uma dívida de R$ 488,3 milhões que o comércio varejista estadual têm a receber dos devedores. Ainda de acordo com os dados, o ticket médio de cada registro é R$ 311,92. O atraso nas dívidas nem sempre é proposital, pois muitos passam por dificuldades financeiras que impossibilitam honrar os compromissos.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso (Fecomércio), Pedro Nadaf, explica que a inadimplência no Estado vem apresentando redução nos últimos 2 anos. Ele ressalta que Mato Grosso acumula resultados de crescimento da economia acima dos indicadores brasileiros. "Essa estabilidade entre os setores econômicos propicia o pagamento de dívidas". Para Nadaf, o cenário apresenta um circulo vicioso. "Quando a economia vai bem há aumento de consumo o que consequentemente favorece o endividamento", diz o presidente da Fecomércio-MT acrescentando que o ato de se endividar é positivo para o mercado porque indica gastos, consumo. Já a inadimplência é o resultado de dívidas não pagas e que correm o risco de serem prescritas.
Ainda de acordo com os números do Crediconsult, levando em conta somente o acumulado deste ano, de janeiro a agosto, as inclusões totalizaram 313,4 mil registros e um valor de R$ 10,471 milhões. O volume representa um aumento de 30% sobre o que foi observado no mesmo período do ano anterior, de R$ 8,028 milhões referentes a 294,7 mil inclusões no banco de dados. Para o diretor da Facmat, Manuel Gomes da Silva, esse acréscimo está atrelado à preocupação do setor, que está cada vez mais atento à liberação de crédito. Conforme ele, o aumento dos registros não indica, necessariamente, aumento das dívidas, mas que as negociações entre o empresário e consumidor estão mais ativas. "O comércio está buscando recuperar o seu capital de giro".
No país, o percentual das famílias endividadas subiu de 59,1% em agosto para 59,2% em setembro. Dados da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC-Nacional) mostram que 9% dos endividados brasileiros não terão condições de pagar suas dívidas. O cartão de crédito é o principal tipo de dívida para 71,5% das famílias endividadas, seguido pelos carnês (24,6%) e pelo crédito pessoal (10,7%).
O comerciante Paulo Passos, 43, conta que foi justamente o cartão de crédito o motivo para elevação de suas dívidas. "Tinha 3 cartões, reduzi para 2 e ainda estou tentando equilibrar as dívidas". O consumidor diz que com a lição da inadimplência resolveu fazer somente compras à vista. "Se não tenho dinheiro eu não compro mais".
Exclusões - Nos últimos 5 anos, 982,3 mil registros foram deletados da lista de inadimplência. O valor das dívidas pagas, cujo ticket médio é de R$ 348,80, somou R$ 342,6 milhões desde 2005. Somente entre janeiro a agosto deste ano, 181,4 mil registros foram excluídos do banco de dados da Crediconsult, ao saldo de R$ 10,1 milhões. Em 2009, nesse mesmo período, foram registradas 139,9 mil exclusões somando R$ 7,6 milhões.
O consultor de finanças pessoais, João Paulo Fortunato, afirma que a facilidade de acesso ao crédito e o grande número de ofertas de produtos foi responsável por tornar a população mais consumista. Ele ressalta que o consumidor ainda precisa aprender qual a necessidade de adquirir determinado produto. "Responder a pergunta Eu preciso ou Eu quero determinado produto?, devem ser hábitos da população". Ele conta que o primeiro passo para aqueles que já estão endividados é não contrair novas dívidas até que seja possível o controle orçamentário.
Fortunato orienta que aqueles que estão com parcelas em atraso e não conseguem colocá-las em dia, nem mesmo com o corte de despesas, a melhor alternativa é procurar a instituição de crédito para explicar a situação, e aproveitar as campanhas de renegociação com inadimplentes oferecidas pelas empresas. "Nesta época do ano, normalmente, as empresas ofertam descontos para renegociações de dívidas, visando regularizar a situação de inadimplente para que o mesmo possa fazer novas compras no fim de ano".
Mas aconselha prestar atenção quanto aos juros e prazos da proposta. "As compras a prazos muito longos devem ser evitadas". Conforme ele, o monitoramento do orçamento é primordial para a identificação de possível desequilíbrio financeiro. "Caso aconteça imprevistos e as despesas fogem do controle, é necessário tomar ações corretivas o mais rápido possível, evitando surpresas desagradáveis. Além disso, envolver a família na elaboração do orçamento doméstico também contribui para a manutenção das contas em equilíbrio".
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