Ex-presidente Gutiérrez nega envolvimento em rebelião no Equador
O ex-presidente equatoriano Lucio Gutiérrez negou na noite desta quinta-feira (30) qualquer envolvimento com a rebelião policial contra o presidente Rafael Correa, em declarações à rede de televisão CNN.
"Minhas primeiras palavras são para rejeitar as covardes, falsas e temerárias acusações do presidente Correa", disse Gutiérrez, que está no Brasil e foi convocado pela Procuradoria por sua "suposta tentativa de assassinato contra Correa".
"No Equador, temos um governo abusivo, corrupto, totalitário, um governo que não respeita os direitos", afirmou o líder opositor, para quem o culpado "desta crise é o próprio presidente Correa".
"A irresponsabilidade de Rafael Correa acelerou todo este clima de incerteza no Equador; o único que quer acabar com seu mandato antes da hora é o próprio Correa".
Durante seu discurso, Correa acusou o levante de ter sido provocado por policiais infiltrados a serviço do ex-presidente Lucio Gutiérrez e contra sua "revolução cidadã". A multidão reunida diante do Palácio Presidencial, onde Correa discursou após sair do hospital onde permanecia cercado por policiais rebeldes, gritava: "Lucio assassino, Lucio assassino".
CNN/Reprodução
Rafael Correa discursa após ser resgatado
As intensas manifestações desta quinta no país foram motivadas por uma proposta do governo que reduz benefícios salariais das forças de segurança e que está em votação na Assembleia Nacional. Em reação ao amplo protesto de policiais e de parte dos militares, o Equador decretou estado de exceção por uma semana em todo o território nacional e delegou o policiamento e a segurança interna e externa do país às Forças Armadas.
Mais cedo, Correa foi encaminhado ao hospital, atingido por gás lacrimogêneo, depois tentar conter os protestos no principal quartel da capital. Em entrevista por telefone, ele tinha dito que não autorizava uma operação para resgatá-lo do local --onde estaria "refém" dos manifestantes-- porque queria "evitar derramamento de sangue" no país. Ele foi libertado na noite de ontem, apóso Exército do Equador e a polícia trocarem tiros nas redondezas do hospital, segundo a imprensa local.
VIOLÊNCIA
O ministro de Segurança do Equador, Miguel Carvajal, disse nesta quinta-feira que informações preliminares indicam ao menos um morto e seis feridos após manifestações. A morte teria acontecido perto do hospital onde Correa estava. Moradores cercaram o local e começaram a ser agredidos com pedras e bombas de gás lacrimogêneo pelos policiais manifestantes.
Ao mesmo tempo em que Correa se reuniu com a delegação dos manifestantes, nas ruas em torno do hospital na capital equatoriana os policiais entraram em confronto com a população, que tentava chegar ao prédio onde o presidente está internado.
"É um enfrentamento do povo contra o povo", disse um dos participantes do protesto onde é possível ouvir frases como "policiais corruptos, não enfrentem o povo com armas, o povo vem de mãos limpas".
"O povo unido jamais será vencido, aqui vem o povo", gritavam enquanto tentavam superar a barreira de policiais que estão do lado de fora do hospital.
Na passeata, as pessoas, algumas com paus e bandeiras, lançam palavras de apoio a Correa e entre elas estão, inclusive, cadeirantes, crianças e idosos, relata a agência Efe.
"Estamos aqui de pé na luta pela democracia, defendendo o presidente de todos os equatorianos. Está aqui a população que veio de vários cantos caminhando. Estão lançando bombas de gás lacrimogêneo em ministros, senhoras, crianças", disse a ministra dos transportes, María de Los Angeles Duarte.
O povo apoia a democracia e não vai permitir que um grupo "que se acha atingido porque está mal informado coloque em risco a democracia no Equador", disse a ministra no meio da manifestação que avança em direção ao hospital, em referência aos militares e policiais que rejeitam a eliminação de incentivos profissionais. "Estamos todos aqui dispostos a dar a vida para resgatá-lo", disse María se referindo a Correa.
Segundo informações da Radio Quito, cidades como Guayaquil, Manta, Portoviejo e Quevedo observaram uma onda de assaltos a bancos e furtos, diante da falta de policiamento local, já que parte das forças de segurança entraram em greve. Escolas também decidiram encerrar suas tarefas e mandaram os alunos para casa. O ministério da Educação suspendeu as aulas até a próxima segunda-feira (4).
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