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Nacional
Sexta - 20 de Setembro de 2013 às 06:50

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Local onde funcionava a gráfica, segundo endereço registrado na Junta Comercial. (Foto: Reprodução/Polícia Federal)

Local onde funcionava gráfica, segundo endereço registrado
na Junta Comercial. (Foto: Reprodução/Polícia Federal)

Empresas classificadas como “descaradamentes laranjas” pela Polícia Federal (PF) foram utilizadas para o desvio de mais de R$ 10 milhões do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A verba deveria ter sido utilizada pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC) para a execução do ProJovem, em cidades do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha. Segundo as investigações, as firmas emprestavam seus dados e contas bancárias para o saque de valores milionários.

O IMDC, presidido por Deivson Oliveira Vidal, é suspeito de comandar um esquema de fraude na celebração de contratos, em diversas áreas, com órgãos públicos, inclusive o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Ao todo, conforme as investigações, foram desviados cerca de R$ 400 milhões. Na última semana, 23 pessoas foram presas, entre elas o presidente da Oscip, e servidores do ministério. O secretário-executivo da pasta, Paulo Roberto Pinto, pediu demissão e foi exonerado.

De acordo com a Polícia Federal, a Gráfica Indianara Ltda., sem funcionários registrados na época, situada em Congonhas, na Região Central do estado, foi ponte para o desvio de quase R$ 2 milhões. A gráfica recebeu R$ 1.882.162,94 para a impressão de cartazes, banners e apostilas. O dinheiro, entretanto, não ficou com a empresa. As investigações apontam que a quantia, paga em quatro cheques de R$ 470,5 mil, foi sacada por Fernando Mendes dos Santos, sócio de Deivson Vidal, na Conquistar Consultoria. Esta empresa servia, segundo as apurações da PF, “apenas para lavar o dinheiro desviado” do IMDC.

Os R$ 10 milhões desviados, segundo a polícia, são parte da quantia do convênio de R$ 17,5 milhões, firmado entre o MTE e o IMDC, em 2008 e 2009, e mediado pelo Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene), órgão do governo do estado.

De acordo com o relatório da Operação Esopo, da análise dos pagamentos feitos às empresas identificadas, o Tribunal de Contas da União (TCU) constatou irregularidades na documentação das companhias e do próprio IMDC.

Walter Antônio Adão, que à época era diretor do Idene, foi preso também na operação, na última segunda. Conforme a PF, ele contratou o IMDC irregularmente para a execução do ProJovem. Além disso, a polícia disse que Walter Adão assinou todas as “absurdas” prestações de contas do programa, o que resultou em sua condenação pelo TCU a ressarcir valores superiores a R$ 30 milhões.

O ex-proprietário da gráfica, uma das quatro empresas citadas pela PF como "laranjas" neste convênio do ProJovem, contou ao G1 que o empreendimento fechou há cerca de seis anos. Ele nega ter tido qualquer tipo de contrato com a Oscip e diz desconhecer Deivson Vidal. Questionado sobre supostas fraudes, ele citou o nome de “um tal de Fernando” e disse ter participado de um negócio, no qual recebia uma “comissãozinha”.

Também utilizada para a execução das fraudes, PRT Transportes e Logística Ltda., que seria responsável pelo transporte diário de 13,4 mil alunos do ProJovem, recebeu, como consta no relatório da PF, R$ 4.103.662,48 para a execução do serviço.

A Polícia Federal mostrou, porém, que a companhia era na verdade registrada como transportadora de carga e possuía uma frota de seis veículos, sendo que nenhum era destinado ao transporte de passageiros. Além disso, segundo a polícia, em 2009 também não havia nenhum funcionário no quadro da empresa. No ano seguinte, a firma tinha apenas um empregado registrado, segundo a PF.

Na empresa, o G1 localizou uma das sócias por telefone, mas ela não quis comentar sobre as denúncias da Polícia Federal. Já a atual gerência, que também foi localizada, disse que não falaria sobre o assunto, mas colocaria a reportagem em contato com um advogado, o que não ocorreu.

Já a empresa Sol Nascente Ltda. recebeu R$ 2.108.483,50 do IMDC pelo fornecimento de materiais aos alunos do programa, segundo as investigações. O serviço seria realizado em um período de seis meses em 2010.

Entretanto, novamente a polícia mostrou que naquele ano a companhia não possuía funcionário registrado e tinha dois sócios – entre eles um empregado de uma cerâmica. Segundo a polícia, a empresa foi aberta menos de seis meses antes da assinatura do contrato com o IMDC. Nenhum responsável pela empresa Sol Nascente foi encontrado pela reportagem.

De acordo com a PF, Fernando Mendes dos Santos foi quem pagou também o valor de R$ 637.596,00 para AOM Indústria e Comércio de Confecções Ltda. pelo fornecimento de 26,4 mil camisetas e 13,4 mil mochilas para alunos do ProJovem. A empresa, que também não possuía funcionários, não foi encontrada no endereço registrado, segundo a PF. No local, foi localizado outro empreendimento, cujo proprietário informou não haver relação com a AOM, conforme o relatório.

O G1 fez contato telefônico no número registrado em nome da proprietária da empresa. A ligação foi atendida por uma mulher, que se apresentou como mãe da responsável pela AOM. Ela disse que a filha não mora mais naquele endereço e, apesar de manterem contato, afirmou desconhecer os novos telefone e o endereço.

Com relação às supostas irregularidades no contrato entre o Idene e a Oscip, o governo de Minas informou que está colaborando com a apuração. Segundo o Executivo estadual, o instituto já disponibilizou todos os documentos requisitados pela Polícia Federal.

O governo afirmou também que, logo após o surgimento das primeiras denúncias, no final de 2010, rescindiu os contratos firmados pelo Idene. Ainda de acordo com administração pública, em 2012 e 2013, o governo ajuizou ações, cobrando devoluções de recursos do IMDC e solicitando a concessão liminar de bloqueio cautelar de contas bancárias da entidade, o que, porém, não foi deferido pela Justiça. Além disso, instaurou sindicância para apurar irregularidades praticadas pelo IMDC.

O advogado Sérgio Leonardo, que representa Deivson Vidal e o IMDC, disse que não teve acesso ao inquérito policial. Ele falou que, portanto, não foi possível conversar com seu cliente para avaliar a linha de defesa. Leonardo afirmou ainda que, com relação ao ProJovem, os serviços foram todos prestados e o programa, executado. Nenhum representante de Fernando dos Santos foi localizado pela reportagem.

Na segunda-feira (16), o Ministério do Trabalho publicou no Diário Oficial da União a abertura de uma sindicância interna para apurar as denúncias de irregularidades na pasta levantadas pela Operação Esopo.





Fonte: Do G1

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