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Saúde
Terça - 05 de Outubro de 2010 às 14:06
Por: Caroline Rodrigues

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Todo dia pelo menos uma pessoa descobre que tem o vírus HIV em Cuiabá. Conforme dados da Organização Não Governamental (Ong) Corações Amigos, apenas a unidade do Serviço de Assistência Especializada (SAE) da Capital têm 8 diagnósticos positivos por semana. Os integrantes da Ong conseguiram a informação com funcionários da instituição. O número é um reflexo da falta de prevenção que, segundo a entidade, acontece apenas em períodos comemorativos, como carnaval e dia dos namorados.

Em Cuiabá, de acordo com dados oficiais, 1.483 pessoa fazem tratamento no SAE. A integrante da Ong, Kátia Damascena, explica que o diagnóstico tardio é o principal problema. A maioria das pessoas descobre a presença do vírus quando está internada no Pronto-Socorro, devido a doenças oportunistas, causadas pela deficiência da imunidade.

Ela descobriu que estava com o vírus há 13 anos e, desde então, faz o acompanhamento da carga viral e das taxas de imunidade. Devido ao tratamento nunca ficou doente e consegue fazer todas as atividades diárias sem restrições.

Kátia descobriu que estava com o vírus em 1997. Ela namorava com um rapaz, que era portador e sempre usaram preservativo nas relações. Um dia, a "camisinha" estourou e o marido dela disse que não precisava ficar preocupada porque ele estava curado.

Na época, Kátia conta que havia pouca informação e as pessoas costumavam tomar as populares "garrafadas". O marido dela chegou a ir ao Rio de Janeiro, onde morava uma mulher especialista no produto, que atendia apenas pessoas famosas, como Cazuza.

Depois do acidente com o preservativo, o casal passou a fazer sexo sem proteção. Alguns meses depois, ela fez o exame e constatou a presença do vírus. A descoberta fez com que a vida dela ficasse "estagnada". Ela fala que não tinha estímulo para fazer nada e ficou em depressão por acreditar que a morte estava perto.

A situação era agravada pelo preconceito. Quando visitava a casa da família do marido dela, os parentes ficavam jogando água sanitária no chão e no banheiro quando o casal utilizava. As roupas chegavam em casa manchadas devido ao respingo do produto de limpeza.

A história dela mudou quando foi até um encontro entre portadores do vírus e viu que não estava sozinha. Havia no grupo pessoas mais debilitadas e que demonstravam com convicção o desejo de lutar. A experiência a levou a ser ativista e participar da Ong.

Kátia assegura que aceitou a condição de portadora do vírus, mas ainda esperou cerca de 6 anos para "mostrar a cara" e assumir para a sociedade que vive com HIV.

Hoje, ela oferece palestras em unidades de saúde, escolas e demais entidades sobre prevenção e preconceito. "Os participantes nos consideram verdadeiros "ETs". Tenho impressão que eles acreditam que o vírus está distante da realidade deles".

Maria, nome fictício, tem 58 anos e também é portadora do vírus. Ela conta que tem medo da reação das pessoas, principalmente por causa dos filhos. Ela descobriu a presença do HIV quando foi doar sangue para uma pessoa que estava doente. Maria foi contaminada por um homem, com quem fez sexo uma única vez. "Caso não tivesse feito o exame, hoje poderia ter contaminado outras pessoas".

Procedimento - A coordenadora do SAE, Márcia Quatti, conta que a busca espontânea por exames e tratamentos ainda é pouca.

O diagnóstico tardio amplia a contaminação, já que o portador não está consciente da existência do vírus, e faz com que o uso do medicamento seja imediato. A administração contínua do remédio é indicado quando a carga viral e a imunidade estão altas, explica a coordenadora. É possível um portador ficar 8 anos sem consumir nenhuma substância.

Ela relata que os medicamentos usados atualmente garantem qualidade de vida aos doentes, sendo que alguns estão há mais de 20 anos com vírus em Cuiabá. Os paciente ficam com a aparência debilitada apenas nos estágios avançados. "O vírus não tem cara".

Os médicos evitam fazer a prescrição sem necessidade devido aos efeitos colaterais, que podem ser vômito, diarreia e lipodistrofia (que é a perda ou excesso de massa corpórea em alguns pontos), que causa deformações no corpo do paciente. As mudanças corporais fazem com que parte dos doentes não utilize os medicamentos corretamente.

As pessoas que são atendidas no SAE recebem auxílio psicológico durante todo o tratamento. Márcia argumenta que alguns pacientes chegam a ter reações ao remédio devido a conflitos com a aceitação do vírus. A maioria ainda opta por manter-se em sigilo até de parentes para evitar discriminação.

Grávidas - Grande parte das mulheres portadoras do vírus HIV descobrem a contaminação durante o pré-natal. A coordenadora do SAE, Márcia Quatti, explica que a assistência à gestante é eficiente no município e o exame de AIDS está incluso no procedimento de atendimento.

No ano passado, 154 gestantes tinham o vírus HIV. Elas são encaminhadas para a SAE e começam a usar os remédios específicos para o controle da carga viral. O uso correto das substâncias reduz a possibilidade da criança ser contaminada em 98% dos casos.

O número de crianças infectadas reduziu em Mato Grosso. Em 2008, 9 foram identificadas como portadora e no ano seguinte o número passou para 5.

As gestantes e pessoas feridas em acidentes podem pedir o exame rápido, que demora cerca de 20 minutos para emitir resultado. Os demais casos passam pelo processo convencional, que após a coleta de sangue, precisa de 30 dias para ficar pronto. Os pacientes com soro positivo passam a fazer exames a cada 4 meses para constatar a carga viral, bem com a imunidade do portador.

Márcia explica que quem faz sexo sem proteção não pode recorrer ao exame rápido, porque é ineficiente nestes casos. O vírus demora cerca de 4 meses para ser detectado após a contaminação.

Sem grupo de risco - Dos 1.279 adultos contaminados em Mato Grosso, 733 são do sexo masculino e 546 são do sexo feminino. A opção sexual não pode ser usada como fator de risco, explica Márcia Quatti. Ela afirma que os homossexuais hoje são os mais cuidadosos quando o assunto o sexo. As mulheres casadas e com relacionamento estável são as principais vítimas da contaminação, conta Kátia Damascena da Ong Coração Amigo.

Nos últimos 3 anos, 247 pessoas morreram devido as consequências da manifestação do vírus em Mato Grosso. Do total, 30 foram na Capital entre os anos de 2007 e 2009. De janeiro a agosto deste ano, a mortalidade atingiu 5 dos portadores.

Ong - Kátia explica que a organização não tem fins lucrativos e dá apoio às pessoas portadoras do vírus, bem como familiares e amigos deles. Este ano, o grupo vai oferecer cursos às pessoas que vivem e convivem com o vírus. Serão oferecidas aulas de costura, informática e línguas. O trabalho é uma forma de tirar os portadores da situação de vítima e criar oportunidades para o sustento.

Os interessados devem ligar para o número 3634-2672.

 




Fonte: A Gazeta

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