Em mensagem, Dilma não diz que irá vetar projetos sobre aborto
Segundo líderes evangélicos que discutiram o texto com a candidata, a petista assumiu o compromisso de colocar a promessa no manifesto.
Na carta que será distribuída em templos e igrejas, Dilma repete declarações feitas ao longo da campanha, como ser "pessoalmente contra o aborto", não encaminhar nenhuma legislação referente ao tema ao Congresso e defender a "manutenção da legislação atual sobre o assunto", que só permite a prática em casos de estupro e risco de morte para a mãe.
Coordenador evangélico da campanha dilmista, o bispo da Assembleia de Deus e deputado Manoel Ferreira (PR-RJ) reconheceu o recuo, mas minimizou a falta do compromisso no documento.
"Ela assumiu solenemente o compromisso [de veto] apesar de não estar na carta. O mais importante é esse compromisso de que esses temas serão tratados pelo Congresso e nunca pelo Executivo. Acho que esta muito bem colocado e esse é o compromisso dela conosco ela não vai voltar atrás. A maior importância é a convicção do candidato", disse.
Antes de ser candidata, Dilma defendia abertamente a descriminalização da prática --o fez, por exemplo, em sabatina na Folha em 2007 e em entrevista em 2009 à revista "Marie Claire".
Depois, ao longo da campanha, disse que pessoalmente era contra a proposta. Hoje, diz que repassará a discussão ao Congresso.
FATURA
A fatura evangélica apresentada à candidata na quarta-feira exigia dela uma posição contrária sobre casamento homossexual, adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo e regulamentação da função de profissionais do sexo, além da defesa da liberdade religiosa.
O documento não cita diretamente a polêmica em torno da união civil entre homossexuais e opta por compromissos genéricos em relação a outros temas-tabus sustentando que, se eleita, não pretende promover "nenhuma iniciativa que afronte à família".
Na carta, Dilma afirma que se o projeto que criminaliza a homofobia, o chamado PLC 122, for aprovado no Senado, o "texto será sancionado nos artigos que não violem liberdade de crença, culto e expressão". O temor dos cristãos é que o projeto impeça sermões e pregações contra homossexuais.
Sobre o PNDH 3 (3º Plano Nacional de Direitos Humanos), que causou polêmica por tratar do aborto, legalização da prostituição e defender que hospitais conveniados ao SUS façam operação de mudança de sexo, entre outros pontos, Dilma diz que o programa é uma "ampla carta de intenções" e que está sendo revisto. Dilma diz ainda que a família será o foco de seu eventual governo e que defende a liberdade religiosa.
Após forte reação, o governo tirou do programa, em maio, pontos como a revisão da lei que pune quem se submete ao aborto.
Ontem, dezenas de líderes católicos e evangélicos divulgaram um manifesto em apoio a Dilma.
"Não aceitamos que se use da fé para condenar alguma candidatura. Por isso, fazemos esta declaração como cristãos, ligando nossa fé à vida concreta, a partir de uma análise social e política da realidade e não apenas por motivos religiosos ou doutrinais", diz a mensagem.
"No momento atual, Dilma Rousseff representa este projeto que, mesmo com obstáculos, foi iniciado nos oito anos de mandato do presidente Lula. É isto que está em jogo neste segundo turno das eleições de 2010", completa a mensagem.
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