"Acreditei no sequestro até o fim", diz irmão de Mércia Nakashima
Após o depoimento do investigador Alexandre Simoni da Silva, que falou sobre os sigilos telefônicos dos acusados de envolvimento na morte da advogada Mércia Nakashima, o irmão dela foi o terceiro a ser ouvido na audiência de instrução do processo sobre o crime. Ele pediu que os acusados pelo crime --Mizael Bispo de Souza, ex-namorado de Mércia, e Evandro Bezerra da Silva-- deixam a sala na Justiça de Guarulhos (Grande São Paulo).
O advogado Márcio Nakashima falou por cerca de uma hora, começando por volta das 15h20. A defesa pediu para que ele tivesse o depoimento recusado, por considerá-lo suspeito, mas não foi atendida.
Márcio confirmou a versão apresentada mais cedo por sua irmão, Cláudia, de que a família teve dificuldade para registrar boletim de ocorrência no 6º DP de Guarulhos, após o desaparecimento de Mércia. Segundo a família, os policiais eram amigos e protegeram Mizael, que é policial militar reformado.
Márcio disse, inclusive, que policiais civis e militares de Guarulhos já trabalharam para Mizael em sua empresa não regularizada de segurança privada. O irmão disse que o avisaram de que no 6º DP iriam "passar o pano no Mizael", e que era melhor procurar uma delegacia em São Paulo.
Segundo o depoimento de Márcio, o boletim chegou a ser registrado no DP. Porém, quando Mizael foi ao local para depor, ele já portava uma cópia dos depoimentos prestados antes por Márcio e pelo pai de Mércia, Makoto Nakashima.
RELACIONAMENTO
Márcio falou que, apesar de não aprovar o relacionamento de Mércia e Mizael, respeitava o posicionamento dela. "Eu não acreditava que ele tinha matado a minha irmã. Mas ele não ajudou a procurá-la, pelo contrário, um vizinho dele me ligou para falar que ele estava tirando os panfletos pregados perto da casa dele. Eu achava que ela tinha sido sequestrada, acreditei no sequestro até o fim", disse. Após o desaparecimento de Mércia, a família divulgou panfletos com sua foto e telefone à procura de informações.
O irmão reafirmou que Mizael era um namorado ciumento, e que ele nutria ciúmes dele próprio e de um primo de Mércia --quando ela estava com Mizael, não podia conversar com a irmã. Entretanto, disse nunca ter presenciado uma cena de ciúmes dele --somente tinha informações "de que ele não prestava".
Márcio citou ainda, como exemplo de que não tinha problemas com o relacionamento, o fato de ter pago seis meses do aluguel do escritório que a irmã abriu em sociedade com o então namorado, além de ter fornecido a mobília.
Márcio Nakashima ficou emocionado ao relembrar o dia em que encontraram o carro de Mércia na represa em Nazaré Paulista, sem o corpo dentro --Mércia só foi localizada no dia seguinte.
A defesa dos acusados perguntou se ele chegou a ficar sem falar com a irmão por causa de Mizael, mas ele respondeu: "Sim, do dia 23 de maio para cá, não falei mais com ela".
PESCADOR
Por volta das 17h20, o pescador que disse ter visto o carro da Mércia sendo empurrado na represa e ouvido gritos começou seu depoimento. Ele foi a última testemunha a depor nesta segunda-feira.
A pedido da testemunha, o juiz pediu para todos se retirarem da sala de audiência. Antes dele, prestaram depoimento Bruno da Silva Oliveira, guardador de carros, Jurandi Ferreira da Silva, funcionário do posto de gasolina onde trabalhava Evandro Bezerra da Silva --acusado de ter ajudado Mizael no crime-- e Maria Cleonice Ferreira, conhecida da família de Mércia.
Em depoimento de aproximadamente dez minutos, Bruno reafirmou que viu Mizael parar o carro no estacionamento do hospital geral de Guarulhos por volta da 18h30 do dia 23 de maio, data de desaparecimento da advogada. Também reafirmou que alguns minutos depois Mércia parou na rua e Mizael entrou em seu carro. De acordo com a testemunha, Mizael voltou para buscar seu carro por volta das 22h.
Em seu depoimento, o funcionário do posto de gasolina disse que antes do desaparecimento da advogada, Mizael aparecia no posto aproximadamente de 15 em 15 dias. Após o crime, a frequência aumentou. Mizael ficava dentro do carro e ficava de uma a duas horas conversando no posto. Jurandi depôs durante cerca de 15 minutos.
Após Jurandi, foi a vez de Maria Cleonice Ferreira, cujo depoimento durou aproximadamente três minutos. Ela ajudou a colar cartazes sobre desaparecimento de Mércia no bairro onde Mizael mora. A amiga da família disse que recebeu uma ligação falando que alguém estava retirando os cartazes no bairro. O grupo que colocava os cartazes junto com ela constatou que eles foram retirados e colocaram de novo.
AUDIÊNCIA
Ao todo, 26 testemunhas serão ouvidas na audiência que está prevista para terminar na próxima quarta-feira. No final, o juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano irá determinar se Mizael e o vigia Evandro Bezerra da Silva serão levados a júri popular.
O juiz dispensou na manhã de hoje as 15 testemunhas de defesa que deverão ser ouvidas apenas amanhã. Isso porque não daria tempo de ouvi-las ainda hoje. Também hoje, o magistrado determinou a inclusão do perito criminal Renato Patolli do Instituto de Criminalística na relação de testemunhas.
Mizael é acusado de homicídio triplamente qualificado, mas desde o início das investigações nega qualquer envolvimento com o crime. O vigia Evandro Bezerra da Silva, acusado pela polícia de ajudar Mizael, foi denunciado por homicídio duplamente qualificado. Silva chegou a falar, em depoimento à polícia, que combinou de ir buscar Mizael na represa de Nazaré Paulista no dia 23 de maio --data de desaparecimento de Mércia--, mas depois mudou a versão e negou envolvimento com o crime.
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