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Política
Sábado - 23 de Outubro de 2010 às 20:24
Por: João Negrão

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O ex-deputado estadual e federal por Mato Grosso, Gilney Viana (PT), que agora reside em Brasília e coordena a área de meio ambiente do Programa de Governo da candidata Dilma Rousseff, criticou duramente seus colegas de partido, senadora Serys Marly  e deputado federal Carlos Abicalil, ambos derrotados à Câmara e ao Senado, respectivamente. Serys e Abicalil lideram duas alas antagônicas dentro do PT e a luta interna se acirrou depois que a parlamentar foi preterida na disputa à reeleição. Abicalil ganhou a vaga numa prévia marcada por polêmica, cujo resultado não foi aceito pela senadora.

Aposentado como bancário, Gilney Viana deixou Mato Grosso e a política eleitoral. Diz que não disputa mais eleições por discordar da  “mercantilização das campanhas”. Além de participar da coordenação de Meio Ambiente da direção nacional do PT, ele se dedica a escrever livros, sendo um de poemas e outro de memórias. A temática é uma só: seus anos de prisão durante a ditadura militar (64/85).

Sobre a briga entre Serys e Abicalil, ele sentencia: “É muito triste; é desastroso para o PT e para a maior tristeza de ambos lados. Morreram afogados e abraçados", diz o ex-deputado, numa referência à derrota nas urnas dos dois colegas. Gilney acrescenta: “Nós precisamos superar aquele tipo de enfoque que estava lá para criarmos novas forças, redimensionar, reposicionar tanto Abicalil quanto a Serys, porque todos são valiosos e não dá para continuar nesse processo de autodestruição”.

Nesta entrevista para o RDNews em Brasília, Gilney Viana comentou ainda sobre a eleição presidencial e alerta que a disputa está “cabeça a cabeça e não chega a corpo”, numa analogia à corrida de cavalos, indicando que o adversário tucano José Serra está forte na raia do hipódromo eleitoral.

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RDNews - Por que o senhor está morando agora em Brasília?
Gilney Viana - Agora eu estou residindo aqui. Estou me dedicando a escrever meus livros. São de memórias. Um é de poemas, o “Cartas do Cárcere”, que já está pronto para lançar. Vou lançar aqui e lá em Cuiabá também para a companheirada. Outro é o “Memorial do Cárcere”, que vai demorar ainda mais uns dois anos para ficar pronto.

RDNews - E profissionalmente, o que está fazendo?
Gilney Viana - Não faço nada profissionalmente. Aposentei-me e estou apenas na militância política dentro do PT. Sou da coordenação do Meio Ambiente do partido e atualmente trabalho no Plano de Governo da Dilma, especialmente nessa área do meio ambiente.

RDNews - Tem alguma pretensão de voltar para Mato Grosso?
Gilney Viana - Não, meu muito obrigado!

RDNews - Sério, está de mal com o Estado? Por que se decepcionou tanto?...
Gilney Viana - Não, não se trata de Mato Grosso. Trata-se da minha abdicação da disputa eleitoral. A luta eleitoral está muito profissionalizada, muito mercantilizada e eu sou de um tempo de militante, de voluntário, de autônomo, de gente que paga para militar e não de gente que é paga para militar. Mas não é uma característica só de Mato Grosso, quero frisar, é do Brasil. É claro que existe, tanto no PT e provavelmente em outros partidos, candidatos que não praticam ou que não estão nesse esquema, mas existe uma certa generalidade nesse fenômeno. Ademais, eu advogo dentro do PT que precisamos dar um passo atrás nisso. Não que não seja necessário dinheiro para campanha. Dizer isso é hipocrisia. Você não faz um bom programa de televisão se não tem bons profissionais, não faz uma mídia boa, enfim, é preciso dinheiro para isso. Agora, pagar cabo-eleitoral, boca-de-urna e principalmente uma relação entre candidatos que envolvem um certo rebaixamento dos compromissos... Eu estou fora disso.

  RDNews - Está acompanhando a briga interna do PT em MT, entre Serys e Abicalil? Como se posiciona a respeito?
Gilney Viana - Acompanhei totalmente. Aquilo foi muito triste. Foi desastroso para o PT e eu já previa isso. Eu fui num encontro, onde os dois já tinham um acordo preferencial com o PMDB. E o que é mais desastroso: um acordo sobre coligação na proporcional. Eu alertei que isso seria desastroso porque não elegeria nossos candidatos. Então, aconteceu: perdemos o cargo de senador, elegemos um deputado federal, ou seja, mantivemos o número, e reduzimos nossa bancada estadual, de dois para um. E para a maior tristeza de ambos lados, aqueles que se engalfinharam numa luta suicida morreram afogados e abraçados, a Serys e o Abicalil.

RDNews - Ainda agora a luta entre os dois continua. O ex-deputado Alexandre Cesar, aliado de Abicalil, defende a expulsão de Serys. Como vê isso?
Gilney Viana - Olha, eu acho que ali vai ter que esperar assentar a poeira e eu tenho esperança de surgir uma nova forma de fazer política lá que não seja em função dessa briga de lideranças. Eu não desqualifico nenhum nem outro. Todo mundo sabe da minha ligação com a Serys, meu apoio a ela, mas acho que esgotou um certo tipo de contradição. Nós precisamos superar aquele tipo de enfoque que estava lá para criarmos novas forças, redimensionar, reposicionar tanto o Abicalil quanto a Serys, porque todos são valiosos e não dá para continuar nesse processo de autodestruição.

RDNews -  E sobre a eleição presidencial, quais as chances de Dilma? Está tranquila a eleição?
Gilney Viana - Não acho que esteja tranquila. Eu acho que é uma parada dura. Não nos enganemos com as pesquisas de opinião, porque já se mostraram falhas no primeiro turno. Se quisermos ganhar a eleição temos de ir para as ruas. Eu vou às ruas todo dia para pedir voto, e vejo que existem muitas manifestações a favor da Dilma, mas também existem muitas a favor do Serra. Então, eu acho que é como corrida de cavalo: será cabeça a cabeça, não chega a corpo.
 




Fonte: Terra

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