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Ciência
Sábado - 30 de Outubro de 2010 às 13:11
Por: New Scientist

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Juha Ristolainen

Não, não estamos xingando o pobre animal. Este é o nome popular da espécie Heterocephalus glaber, que é feia, enrugada e pelada, mas vive muitos anos a mais do que ratos comuns, não é afetado por produtos químicos e nunca tem câncer. E, por isso, começa a despertar a curiosidade de cientistas que buscam entender problemas que afetam os humanos, como câncer e envelhecimento.

 
"O rato-toupeira pelado é uma espécie antiga. Sua estrutura social é como a dos insetos", afirma Thomas Park, biólogo da Universidade de Illinois, em Chicago, que estuda os animais. Por muito tempo a ciência se concentrou em seu modo de vida diferente, mas só agora começa a estudar suas outras características interessantes.

Geralmente a expectativa de vida dos animais está diretamente relacionada a seu tamanho. Os pequenos vivem menos do que os grandes. Enquanto ratos e camundongos vivem cerca de 3 anos em cativeiro, os pelados chegam a 30 anos. Eles são os roedores que mais vivem. E não pense que eles sofrem muito com a velhice. Seus ossos continuam fortes, o corpo em forma, nenhum sinal de doenças do coração e câncer. E as fêmeas continuam a procriar mesmo com o peso da idade.

Rochelle Buffenstein, fisiologista da Universidade do Texas estuda os animais há 30 anos e agora quer encontrar explicações moleculares para sua longevidade. Um das teorias de envelhecimento mais aceitas é a do estresse oxidativo, que diz que oxigênio contendo radicais livres danificam as moléculas do corpo com o tempo, até que elas parem de funcionar de vez. Para ela, os ratos pelados têm uma taxa menor de danos oxidativos do que espécies menores.

 Mas para surpresa da pesquisadora, ela descobriu níveis maiores de danos oxidativos em ratos pelados do que em camundongos comuns da mesma idade. Com a diferença que os danos não tinham impactos no bem estar dos parentes sem pelos.

Para entender o que acontece, a fisiologista observou a estrutura tridimensional das proteínas dos roedores. As estruturas dos ratos comuns começam a perder a forma assim que elas sofrem danos oxidativos, e faz com que parem de trabalhar direito, enquanto a proteína dos "carecas" aguenta muito mais a oxidação antes de perder a forma. "Achamos que a estabilidade da proteína é um componente importante da longevidade. Se suas proteínas mantém a integridade, se têm mecanismos para se proteger, não importa o tipo de estresse que ela vai sofrer", diz a pesquisadora.

Câncer

Muitos camundongos têm tumores detectados quando morrem, mas a doença nunca foi encontrada nos ratos pelados. "Toda vez quem um morre, tentamos descobrir o motivo. Nunca vimos um tumor, lesões e sinais de linfoma. Nós sabemos que eles não têm câncer relacionado ao envelhecimento", diz Rochelle.

Os pesquisadores injetaram células cancerígenas de roedores e humanas nos animais. Em duas semanas, os camundongos desenvolveram a doença. E seis meses depois, os ratos pelados não apresentavam nenhum problema. As células anormais continuaram em seu corpo, mas param de se replicar. "Acreditamos que os ratos-toupeira têm um mecanismo de vigilância melhor para acessar o que há de errado em seu DNA", diz. Quando algo dá errado, as células são seladas e ficam incapazes de reproduzirem.

Uma outra possibilidade investigada por cientistas da Universidade de Rochester é que as células destes animais param de se multiplicar bem antes que as nossas e as dos outros roedores. A equipe está tentando identificar sinais extracelulares que façam com que as células tumorais parem de se replicar, para quem sabe um dia ativar ou injetar o mesmo mecanismo em humanos.

Outra curiosidade investigada sobre esses animais é sua resistência a dores químicas. Quando entram em contato com pimenta, por exemplo, eles não sentem nada. Sentir dor é importante. Quando encostamos no fogo, a dor avisa que há algo de errado, por exemplo. Mas dores pós-cirúrgicas e outras situações poderiam ser evitadas se os cientistas conseguirem imitar o mecanismo dos ratos.

Segundo Park, a explicação para a resistência a dor poderia ser o local onde os animais vivem, no subterrâneo com níveis baixos de oxigênio e altas concentrações de amônia e dióxido de carbono, que afetariam nervos que o animal "desliga" para sobreviver.
 






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