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Política
Domingo - 31 de Outubro de 2010 às 19:01

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O enterro de Iara Moreira, 50 anos, uma das vítimas do desabamento de um prédio na rua Laura de Araújo, na Cidade Nova, aconteceu por volta de meio-dia deste domingo, no Cemitério do Cajú, na zona zorte do Rio de Janeiro. Ainda nesta tarde acontecerá o sepultamento da menina Tais Damasceno Oliveira, 8 anos. Na segunda-feira, está marcado o enterro de Stephany Oliveira Silva, 7 anos, no Cemitério do Catumbi. O horário não foi divulgado.
Os documentos da quarta moradora morta, Antônia Sártiro Soares, 46 anos, não foram encontrados. Por este motivo ainda não há previsão do sepultamento dela.

Sofrimento para alguns e vitória para outros
Moradores que sobreviveram ao desabamento tentaram encontrar documentos e objetos pessoais nos escombros do que restou do prédio de três andares, na manhã deste domingo. O auxiliar de cozinha e garçon Rodrigo da Silva, 27 anos, lamentou pelos vizinhos mortos, mas comemorou ter conseguido salvar sua família.

"Por mais que eu tenha encontrado minha esposa e meus dois filhos, não dá para comemorar porque outras pessoas morreram. Estou muito feliz por ter conseguido salvar minha família", disse o garçon. Ele contou que encontrou duas garrafas de vodka, uma de wisky e outra de champagne intactas, em meio aos escombros.

O imóvel, onde moravam cerca de 30 pessoas, ruiu por volta das 7h do sábado. Minutos antes foram ouvidos estalos e as paredes começaram a rachar. "Eu me preparava para ir trabalhar. De repente, ouvi um barulho e cheguei para o lado, mas as pedras caíram sobre mim. Por 40 minutos achei que fosse morrer. Quando os bombeiros me tiraram, pensei: "Nasci de novo!", contou o pedreiro Ismail Ferreira Leite, 55 anos.

Ajuda de vizinhos
Antes da chegada dos bombeiros e da Defesa Civil, vizinhos ajudaram a a retirar moradores soterrados. O mecânico Bruno Santos, que trabalha na oficina ao lado, auxiliou no salvamento de duas crianças: "Graças a Deus, sobreviveram". O policial Mauro Sancas lembrou o drama do resgate de dois menores. Um morreu. "Outro estava com muita terra na boca. Enfiei o dedo na garganta e ele voltou a respirar".

Três feridos receberam atendimento médico no local e foram liberados. Outros 12 foram para o Hospital Municipal Souza Aguiar, mas, até o início da noite, 11 tinham recebido alta e uma criança, fora de risco, estava em observação. Cerca de 80 bombeiros atuaram no resgate, e 33 famílias do prédio e outros imóveis interditados no entorno foram a abrigos e casas de parentes.

Os corpos de Iara, Stephany e Tais foram encontrados ainda na manhã do sábado. O de Antônia foi localizado às 15h, encerrando as buscas. Segundo familiares, ela conseguiu deixar o prédio com marido e filho caçula, mas voltou ao imóvel para buscar documentos. "Estamos arrasados. Ela já tinha reclamado de infiltrações", contou a cunhada, Rita Soares.

As causas do desabamento do imóvel, construído no fim do século 19, serão investigadas pela Defesa Civil. "O mais provável é que sejam problemas estruturais, uma vez que os imóveis são muito antigos. Mas ainda precisamos saber se sofreu algum tipo de intervenção", afirmou o secretário de Saúde e Defesa Civil do estado, Sérgio Côrtes.

Côrtes disse não ter conhecimento de que obras tivessem provocado o desabamento. "Interditamos imóveis adjacentes e realizaremos estudos. Estamos fotografando cada etapa do trabalho e o entulho será analisado", afirmou. Segundo moradores, os cômodos no prédio eram alugados por R$ 250, mas serviços de manutenção estrutural não eram feitos. A responsável pelo imóvel, identificada como Rose, não foi localizada.

Maria de Lurdes Oliveira, 37 anos, precisou ser amparada por familiares ao receber a notícia de que a filha caçula, Stephany, 7 anos, não havia sobrevivido. "Ela pediu: Me ajuda, mãe. Me socorre. Meu Deus, não faz isso comigo, me diz que é mentira", gritava após reconhecer o corpo da menina no Hospital Souza Aguiar.

Ela não teve tempo de retirar a criança dos escombros. Foi tudo rápido, quando vi, já estava cheio de concreto em volta. Só consegui puxar meu filho de oito anos. A dor foi a mesma de Renata Damasceno Oliveira, mãe de Tais, 8 anos, outra vítima do desabamento. Ela teve que ser medicada após saber da morte da filha. O resgate das meninas comoveu até quem já atuou em outras tragédias, como um bombeiro, que passou mal após retirar os corpos.
 





Fonte: Terra

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