O ator receberá o Troféu Marlin Azul e a edição especial do Caderno do Festival pelos 46 anos de carreira
Ney Latorraca é o homenageado do 17º Vitória Cine Vídeo
Trabalhou como bancário, balconista, gerente de loja de roupas e vendedor de jóias. Mas, desde pequeno, o palco era a inspiração do seu destino. Filho de um crooner e de uma corista de cassino, estreou como ator, aos seis anos de idade, atuou no teatro estudantil, cantou em um grupo musical, estudou arte dramática e construiu uma história de mais de quatro décadas na televisão, no teatro e no cinema.
Hoje, aos 66 anos de idade e com 46 anos de carreira, Ney Latorraca é o homenageado do 17º Vitória Cine Vídeo. O ator atuou em mais de 23 peças teatrais, 17 filmes e 23 novelas, além de programas musicais, humorísticos, minisséries e seriados. O artista receberá o Troféu Marlin Azul e a edição especial do Caderno do Festival dedicado à sua carreira cinematográfica. Este ano, o festival será realizado de 06 a 11 de dezembro. A realização é do Instituto Marlin Azul, da Galpão Produções e do Instituto Brasileiro de Cultura e Arte (IBCA).
A inspiração na família – Antônio Ney Latorraca nasceu em 25 de julho de 1944, no município de Santos, no litoral de São Paulo. Chegou ao mundo em berço artístico. Por causa da rotina de trabalho da família em cassinos de diferentes cidades, nunca tinha morada fixa. Com o fechamento dos cassinos, durante o regime militar, a mãe, Dona Nena, fonte de inspiração para o artista, passou a dedicar-se ao lar, e o pai, Seu Alfredo, arrumou emprego na rádio e TV Record, na cidade de São Paulo. Aos seis anos, estréia como ator na Rádio Record.
No ano de 1957, mudou com os pais para o Rio de Janeiro, onde estudou o primeiro ano ginasial, no Colégio São Fernando. Dentro do ambiente escolar sua veia artística também encontrou caminhos para pulsar: o estudante tinha um número fixo em que dançava frevo, com figurino produzido por ele próprio para o espetáculo.
Ao voltar para Santos, em 1958, continuou os estudos e, ao mesmo tempo, montou em parceria com os amigos da escola, o conjunto Eldorado, dentro do qual participou como cantor e líder. O grupo animou festas e bailes por quase dois anos e revelou o desejo do garoto de seguir a carreira musical, a exemplo dos pais.
O despertar para o teatro – Em 1964, a montagem de uma peça teatral na escola despertou a atenção do jovem. Decidiu, então, se inscrever para participar do espetáculo. Era a peça “Pluft, O Fantasminha”, de Maria Clara Machado, dirigida por Serafim Gonzáles. Assim, o estudante faz sua estréia no palco, aos 20 anos. A peça alcançou sucesso, ultrapassou os limites da escola, chegando aos ginásios, e o jovem ator foi reconhecido pela imprensa.
Logo a ambição para grandes papéis o estimulou a procurar emprego na peça “Depois da Queda”, na cidade de São Paulo, pois se determinou a substituir o ator principal, Paulo Autran. Ao ser recusado, escreveu com um batom no espelho do camarim de Maria Della Costa: “um dia eu vou ser o seu galã”.
Obstinado por seu sonho, procurou Cacilda Becker e Walmor Chagas, que o receberam e o orientaram a cursar a Escola de Artes Dramáticas, conselho seguido anos mais tarde. Nesta época, decide permanecer na cidade – num momento em que o país vivia o regime militar – para encenar “Reportagem de Um Tempo Mau”, de Plínio Marcos, que representava uma crítica à política ditatorial brasileira. A peça foi encenada apenas uma vez, no Teatro de Arena, e o elenco acabou preso pela censura.
De volta a Santos, o ator, que já tinha o registro profissional, ingressou no Teatro da Faculdade de Filosofia de Santos (TEFF), onde encenou as peças “A Crômica” e “O Cristo Nu”, de Carlos Alberto Sofredini, e “A Falecida”, de Nelson Rodrigues. A entrada na Escola de Arte Dramática da USP aconteceu em 1967. Era o primeiro aluno da turma e concluiu o curso, em 1969, tendo como madrinha de formatura Marília Pêra. Foi durante o período de estudo que o ator morou numa pensão e trabalhou em diferentes atividades, no setor de comércio e serviços, para se manter.
Daí para frente, o sucesso se consolidou na sua vida. Dentre as diversas e consagradas atuações no teatro, um dos maiores destaques de bilheteria foi a peça “O Mistério de Irma Vap”, de Charles Ludlan, com a direção de Marília Pêra. A obra, contracenada ao lado de Marco Nanini, permaneceu em cartaz por onze anos, percorreu as principais cidades brasileiras e foi vista por mais de 2,5 bilhões de pessoas. A peça é recorde mundial, conforme o Guiness Book, de apresentações com o mesmo elenco.
O sucesso na TV – Durante sua trajetória, o ator acumulou experiência em diferentes trabalhos na televisão, interpretando personagens inesquecíveis, tais como, Quequé (minissérie Rabo de Saia), Vlad (novela Vamp) e Barbosa (TV Pirata). Inicialmente, participou do seriado “Alô, Doçura” (1953), da novela “Beto Rockfeller” (1968), e de três capítulos da novela “Super Plá” (1969).
Em 1974, o ator estréia na TV Globo, na novela “Escalada”. Na emissora, atuou em inúmeras novelas, entre elas, “Estúpido Cupido” (1976), “Coração Alado” (1980); “Eu Prometo” (1983), “Rabo de Saia” (1984), “Um Sonho a Mais” (1984), Vamp (1991), “Zazá’ (1997), “O Cravo e a Rosa” (2000) e “Negócios da China” (2008). Ainda, na mesma TV, participou de diferentes minisséries, seriados, programas musicais e humorísticos. No SBT, participou das novelas “Brasileiros e Brasileiras” (1990) e “Éramos Seis” (1994).
O cinema – Estreou no cinema, em 1969, no filme “Audácia, a Fúria dos Trópicos”, de Carlos Reichembard e Antônio Lima. Sua atuação no filme “Sedução”, dirigido por Fauzi Mansur, de 1974, resultou na conquista do Prêmio Coruja de Ouro de melhor ator coadjuvante, concedido pelo Instituto Nacional de Cinema (INC).
Ao longo da sua carreira, atuou ainda em filmes como “Anchieta José do Brasil” (1976), de Paulo César Saraceni; “O Beijo no Asfalto” (1981), de Bruno Barreto; “Ópera do Malandro” (1985), de Rui Guerra e Chico Buarque; e “For All, Trampolim da Vitória (1998), de Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz. Em 2006, o sucesso teatral “O Mistério de Irma Vap” ganhou uma versão no cinema, com a produção “Irma Vap – o Retorno”, dirigido por Carla Camurati, e que levou Ney e Nanini do palco para a telona.
Novos trabalhos – Atualmente, no cinema, participou do curta-metragem “Vida Vertiginosa”, dirigido por Luiz Carlos Lacerda, em que contracena com Paula Burlamaqui. Prepara-se ainda para o lançamento do filme “O Gerente”, adaptação e direção de Paulo César Saraceni, do conto de Carlos Drummond de Andrade. Na TV, integra o elenco do programa “SOS Emergência”, da TV Globo, no ar aos domingos. Para o ano de 2011, a novidade será a encenação da peça “A Escola de Escândalo”, um projeto de Ney Latorraca e Maria Padilha. O texto é de Richard Sheridan e terá tradução, adaptação e direção de Miguel Falabella.
Outros homenageados do VCV – Desde 1999, o Vitória Cine Vídeo tradicionalmente homenageia uma personalidade do cinema brasileiro. Já foram homenageados: Fernando Torres (1999), Paulo José (2000), Lima Duarte (2001), Marília Pêra (2002), José Wilker (2003), Nelson Pereira dos Santos (2004), Marco Nanini (2005), Marieta Severo (2006), Dercy Gonçalves (2007), Orlando Senna (2008) e Eva Wilma (2009). A partir de 2001, todos os homenageados passaram a receber uma edição do Caderno do Festival.
Cronologia do ator
Teatro
1964 – Reportagem de Um Tempo Mau
1965 – A Crômica
1965 – O Cristo Nu
1966 – A Falecida
1967 à 1969 – EAD (Escola de Arte Dramática da USP – São Paulo)
1969 – O Balcão
1970 – Hair
1972 – Quanto Mais Louco Melhor
1972 – Jesus Cristo Superstar
1973 – Jogo do Crime ou O Misterioso Caso de Mister Morgan
1973 – Bodas de Sangue
1974 – O Que Você Vai Ser Quando Crescer
1974 – Orquestra de Senhoritas
1975 – A Mandrágora
1979 – Lola Moreno
1979 – Afinal… Uma Mulher de Negócios
1982 – Othello
1983 – O Rei Lear
1986 – O Mistério de Irma Vap
1994 – O Médico e o Monstro
1995 – Don Juan
1996 – Quartett
1999 – O Martelo
2000 – 3 X Teatro
2002 – Capitanias Hereditárias
TV
TV TUPI
1953 – Alô Doçura (seriado)
1968 – Beto Rockfeller
1969 – Super Plá
1969 – Dom Camilo e Seus Cabeludos
TV Record
1971 – Eu Quero Viver
1972 – Vidas Marcadas
1973 – Eu e a Moto
1974 – Venha Ver o Sol na Estrada
TV SBT
1990 – Brasileiros e Brasileiras
1994 – Éramos Seis
TV Globo
1974 – Escalada
1975 – O Grito
1976 – Estúpido Cupido
1977 – Sem Lenço, Sem Documento
1978 – Saudade Não Tem Idade (programa musical)
1979 – Malu Mulher
1980 – Coração Alado
1982 – A Vida de Santo Antoninho da Rocha Marmo (Caso Verdade)
1983 – Anarquistas, Graças a Deus (minissérie)
1983 – Eu Prometo
1984 – Rabo de Saia (minissérie)
1984 – Partido Alto
1984 – Um Sonho a Mais
1985 – Avenida Paulista (minissérie)
1986 – Memórias de Um Gigolô (minissérie)
1986 – Grande Sertão, Veredas (minissérie)
1987 – TV Pirata (programa humorístico)
1991 – Vamp
1997 – Zazá
2000 – O Cravo e a Rosa
2002 – O Beijo do Vampiro
2003 – A Casa das Sete Mulheres (minissérie)
2004 – Da Cor do Pecado
2005 – Bang Bang
2008 – Negócio da China
2010 – SOS Emergência (programa humorístico)
Cinema
1969 – Audácia, a Fúria dos Trópicos - Direção: Carlos Reichembard e Antônio Lima
1973 – A Noite do Desejo – Direção: Fauzi Mansur
1974 – Sedução – Direção: Fauzi Mansur
1976 – Deixa Amorzinho… Deixa – Direção: Saul Lachermaster
1976 – Anchieta José do Brasil – Direção: Paulo César Saraceni
1979 – Das Tripas Coração – Direção: Ana Carolina
1981 – O Beijo no Asfalto – Direção: Bruno Barreto
1982 – O Grande Desbum – Direção: Bráz Chediak e Antônio Pedro
1985 – Ópera do Malandro – Direção: Rui Guerra e Chico Buarque
1986 – Ele, o Boto – Direção: Walter Lima Junior
1987 – A Fábula da Bela Palomera – Direção: Rui Guerra
1987 – Festa – Direção: Hugo Georgette
1988 – A Mulher do Atirador de Facas – Direção: Nilson Villas-Boas
1994 – Dente por Dente – Direção: Alice de Andrade
1995 – Brevíssimas Histórias da Gente de Santos – Direção: André Klotzel
1998 – For All, Trampolim da Vitória – Direção: Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz
2003 – Viva Sapato! Direção: Luiz Carlos Lacerda
2004 – O Diabo a Quatro – Direção: Alice de Andrade
2006 – Irma Vap – O Retorno – Direção: Carla Camurati
2009 – Vida Vertiginosa – Direção: Luiz Carlos Lacerda
2009 – Topografia de um Desnudo – Direção: Roberto Carminati
2010 – O Gerente – Direção: Paulo César Saraceni (ainda não lançado)
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